A tentativa de reativar a economia da China é uma oportunidade para a mineração chilena?

Apesar dos apelos para que o setor de mineração invista mais no Ocidente para conter o domínio chinês no mercado global de minerais e da tendência política de aumentar as tarifas sobre as importações de produtos do país asiático para proteger as economias domésticas, o melhor para o Chile seria manter a China como um parceiro importante, destacaram especialistas em um webinar.

Entre 2018 e 2023, as exportações de mineração do Chile para a China cresceram a uma taxa média anual de 8,6%, embora tenham registrado queda no ano passado, para US$ 29,5 bilhões. Entretanto, o comércio bilateral teve um aumento anual de 6%, totalizando US$ 56,8 bilhões em 2023.

O intercâmbio comercial pode se expandir, afirmaram especialistas em um webinar organizado pela Fundación Chile Pacífico, apesar das perspectivas econômicas mais fracas da China.

O Banco Mundial prevê que o PIB da China será de 4,3% em 2025, inferior aos 4,8% deste ano, situação que o governo de Xi Jinping tenta resolver com um pacote de estímulos.

“A economia chinesa está avançando hoje, com um novo foco na sustentabilidade, nas indústrias de ponta, na economia verde e na redução da pobreza”, disse no evento a diretora do departamento da Ásia e Oceania da agência de promoção de investimentos ProChile, Natalia Cortés. 

Essas novas frentes de oportunidades para as empresas chilenas, segundo Cortés, se somam à expansão da fabricação de veículos elétricos, de baterias de lítio e de sistemas de energia renovável na China, que são os atuais motores da demanda por produtos de mineração.

Bruno Hernández, sócio sênior em negócios internacionais da consultoria Dezan Shira & Associates, acredita que o objetivo chinês de fortalecer a classe média e expandir a urbanização também serão janelas de negócios para o Chile.

“Na próxima década, o objetivo é que 73% da população chinesa viva em cidades”, pontuou Hernández, citando o boom de materiais que esta fase exigirá.

PARCEIRO IDEAL OU CONCORRENTE?

Jonathan Price, CEO da canadense Teck Resources, recomendou a diversificação das cadeias de abastecimento de minerais para reduzir a participação da China no processamento global por razões de segurança nacional.

Em um evento empresarial realizado em Ottawa esta semana, Price afirmou que o Canadá não está fazendo o suficiente para impulsionar a mineração do país. Este mesmo assunto tem sido discutido no ambiente de mineração local.

“Os gastos e a aquisição de minas no exterior por parte da China cresceram significativamente nos últimos 10 anos, atingindo níveis recordes de US$ 10 bilhões no primeiro semestre de 2023, com foco em metais para baterias, como lítio, níquel e cobalto”, pontuou a Agência Internacional de Energia (AIE) em seu último relatório sobre minerais críticos.

A entidade também alertou que, até 2030, “mais de 90% do grafite para baterias e 77% das terras raras refinadas terão origem na China”.

Ou seja, embora o interesse do governo chinês em expandir o desenvolvimento de tecnologias verdes e da eletromobilidade possa continuar beneficiando as exportações minerais do Chile, a concentração do mercado pode minar as tentativas do maior produtor mundial de cobre e segundo maior de lítio de expandir seus próprios mercados.

“A diversificação de clientes e atores é positiva, mas, no caso do lítio no Chile, muitas tecnologias que renovarão a indústria surgirão, e ter os melhores recursos não será o bastante, também precisamos de bons parceiros”, respondeu Cortés ao uma pergunta da BNamericas.

Não será fácil levar os produtos de mineração do Chile a novos mercados sem abandonar aquele que foi seu principal parceiro comercial por quase duas décadas.

“Se a China crescer um ponto, o Chile crescerá 0,1%”, enfatizou a executiva da ProChile.