Após 4 anos de congelamento, tarifas de eletricidade começam a subir no Chile

O valor médio das contas de energia dos clientes do mercado regulado do Chile deve começar a subir a uma taxa de dois dígitos, depois de mais de quatro anos praticamente sem ajustes.

As autoridades congelaram todos os componentes da fatura – geração, transmissão e distribuição – em 2019, em resposta aos protestos sociais que eclodiram em outubro daquele ano.

As consequências econômicas da pandemia de Covid-19 entre 2020 e 2023 aumentaram a pressão para manter as tarifas estáveis – o que aconteceu, com exceção de um descongelamento do componente de transmissão das faturas em 2023.

Agora, diante da necessidade de reduzir a dívida multibilionária resultante desse congelamento e normalizar o setor, as tarifas estão em alta.

Até janeiro de 2025, por exemplo, as contas residenciais mensais típicas de clientes que consomem 180 kWh devem aumentar 62%, para 37.937 pesos (US$ 41,44), em comparação com os 23.407 pesos cobrados hoje, informou a consultoria energética chilena energiE em um relatório.

O primeiro aumento deve entrar em vigor este mês, seguido pelos aumentos previstos para julho, outubro e janeiro.

Enquanto isso, um cliente industrial e comercial típico de uma área rural que hoje consome 4.800 kWh por mês e paga 1 milhão de pesos deverá pagar, a partir de outubro, 1,90 milhão de pesos pela mesma quantidade de eletricidade consumida, um aumento de 90%.

Em bate-papo com a BNamericas, Daniel Salazar, sócio-gerente da energiE, destacou: “Estamos falando de um forte aumento nas tarifas que terá efeitos para os clientes, mas foi necessário para normalizar os fluxos e receitas das empresas”.

“A situação não deveria ter chegado a esse ponto. É resultado das decisões erradas tomadas pelas autoridades desde 2019 até agora. Só para dar um exemplo, o atraso e adiamento de decretos e decisões acumularam uma dívida que gerou juros da ordem de 1,4 bilhão de pesos, valor que todas as famílias terão que pagar, o que torna o cenário ainda mais dramático”, completou.

Os geradores começaram a monetizar os recebíveis. O BID Invest, braço do setor privado do BID focado na América Latina, comprou alguns.

A lei promulgada recentemente e que abriu as portas para o fim do congelamento das tarifas é “um crédito positivo para projetos de energia avaliados e grandes geradores corporativos, ao permitir o aumento gradual das tarifas de eletricidade e aliviar as pressões de capital de giro”, avaliou a agência de classificação Fitch.

A lei também autoriza um esquema de subsídios para apoiar consumidores vulneráveis.

O saldo devido aos geradores, que incluem grandes multinacionais e empresas menores, deve ser pago integralmente até 2035.

O congelamento das tarifas foi visto como um fator por trás dos níveis de participação relativamente baixos registrados no último leilão de fornecimento no mercado regulado de energia do Chile.

A medida de congelamento foi implementada como parte dos esforços do Congresso para aliviar a agitação social, desencadeada por um aumento de 30 pesos no preço das passagens do sistema de metrô da capital Santiago no horário de pico. Os manifestantes passaram a exigir melhorias nos serviços públicos e no sistema de pensões, além de uma nova Constituição, entre outras demandas.