As preocupações dos clientes do mercado livre de energia do Chile
Os aumentos no custo do fornecimento são a principal preocupação dos clientes do mercado livre de energia do Chile.
Essa é uma das conclusões da pesquisa conduzida pela consultoria In-Data para a associação de usuários não regulados Acenor, que reúne mineradoras e outros participantes do setor industrial. Participaram do levantamento 62 clientes, cujo uso de energia responde por 51% do consumo do mercado não regulado.
O Chile tem cerca de 2.000 clientes livres, com cerca de dois terços do consumo correspondendo ao setor de mineração.
Entre os entrevistados, 87% demonstraram grande preocupação com os preços da energia e o impacto desse valor na competitividade do país, já que o preço médio no Chile é superior ao do vizinho Peru, potência da mineração, e até mesmo de países europeus, como Espanha, França e Alemanha.
Além disso, 67% dos participantes também citaram maior preocupação com a incerteza regulatória no momento da assinatura dos contratos, destacando a falta de visibilidade sobre as flutuações de preços, sobretudo no planejamento para o ano seguinte.
Completando a lista das cinco principais preocupações estão a gestão eficiente do consumo de energia, a variabilidade das condições do mercado e o consumo de energia limpa ou de baixo carbono.
Aumentos nos preços da eletricidade impactam o produto interno bruto (PIB), de acordo com uma pesquisa do Banco Central.
Durante um evento recente promovido pela Acenor, a presidente do grupo, Francesca Milani, resumiu a situação: “Estamos convencidos de que o caminho para o Chile avançar é realizar uma transição energética que chegue a todos, com um fornecimento de eletricidade seguro, de alta qualidade, cada vez mais renovável e com preços competitivos”.
A preocupação surge em um contexto em que a produção de energia renovável pressionou o componente de geração de eletricidade dos preços para baixo, mas os custos sistêmicos seguiram na direção oposta e compensaram esses ganhos. Os custos sistêmicos pagos por clientes do mercado não regulado subiram de US$ 2/MWh para cerca de US$ 20/MWh em quatro anos. Grandes usuários também viram um impacto nas despesas gerais de eletricidade nos últimos anos por conta de uma tarifa de serviço público implementada como parte da legislação do governo para estabilização dos preços regulados para o usuário final.
Segundo a pesquisa, 90% dos entrevistados disseram que os custos de fornecimento ultrapassaram a inflação no ano passado e que os aumentos estavam principalmente relacionados a custos sistêmicos ou pagamentos paralelos (60%), transmissão (53%) e taxas de serviço público (42%).
Os custos sistêmicos incorporam cobranças por serviços complementares, reservas hidrelétricas e mínimos técnicos, bem como pagamentos feitos por geradores para cobrir um preço estabilizado pago a usinas de geração distribuída conhecidas como PMGDs.
Estima-se que US$ 217 milhões, ou aproximadamente 20% dos custos sistêmicos do ano passado, corresponderam a essas cobranças, que têm apresentado tendência de alta e devem atingir a marca de US$ 300 milhões este ano, alimentando preocupações com o potencial efeito cascata nos esforços de descarbonização. A capacidade de usinas do PMGD no último trimestre ficou em torno de 3 GW do parque de energia renovável não convencional do Chile de 18 GW. A capacidade pode chegar a quase 5 GW em 2026 em meio ao grande aumento no número de projetos – de até 9 MW, principalmente de energia solar fotovoltaica e conectados à rede de distribuição – em construção.
O governo criou um grupo de trabalho para analisar o preço estabilizado dessas centrais, descrito por alguns como um subsídio que cria distorções no mercado de energia.
Em paralelo, um projeto de lei do governo em tramitação no Congresso, para arrecadar recursos para o pagamento de subsídios a cerca de 4,7 milhões de clientes do mercado regulado impactados por aumentos nas tarifas, pode resultar em um corte na receita das usinas do PMGD de cerca de 35% até 2027. A medida gerou debate e alegações de que constitui uma mudança unilateral nas regras do jogo. Outro componente de arrecadação de receita do projeto de lei prevê dobrar o imposto de carbono sobre emissores fixos de US$ 5/t para US$ 10/t, um aumento que pode acabar sendo repassado aos clientes.
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