Bolívia aprova empréstimos multilaterais, mas persistem dúvidas sobre capacidade de investimento

O presidente boliviano, Luis Arce, conseguiu a aprovação do Congresso para dois empréstimos multilaterais no valor de US$ 545 milhões e aguarda a votação de um crédito adicional de US$ 324 milhões.

No entanto, aumentam as críticas sobre o que é visto como a crescente dependência da Bolívia de financiamento estrangeiro em face da baixa disponibilidade de fundos.

Os empréstimos recém-aprovados incluem US$ 500 milhões do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para apoiar as comunidades mais atingidas pela pandemia da Covid-19 e US$ 45 milhões do banco latino-americano de desenvolvimento CAF para construir quatro pontes nos departamentos de Cochabamba e La Paz, informou a agência de notícias estatal ABI.

Os empréstimos que aguardam aprovação legislativa incluem US$ 150 milhões do BID para um programa de irrigação, US$ 107 milhões da agência japonesa de cooperação internacional JICA para um programa de apoio à Covid-19, US$ 52 milhões adicionais do BID para projetos de pré-investimento e US$ 14 milhões da agência de cooperação italiana AICS para um programa de desenvolvimento do turismo.

“Esperamos que isso possa ser aprovado o mais rápido possível”, disse o vice-ministro do investimento público e financiamento externo, Marcelo Laura, segundo a Rádio La Razón.

O grande volume de financiamento de organizações de agências estrangeiras começa a se tornar um ponto de crítica para, no entanto, que também enfrenta a oposição de parlamentares do MAS, em uma disputa que se abriu entre os partidários do ex-presidente Evo Morales e os do atual governo.

Embora Arce tenha se mantido discreto nas disputas internas do partido, ele criticou “vários deputados e senadores que nós mesmos elegemos e que não estão cumprindo seu papel na aprovação desses empréstimos para beneficiar o povo boliviano”, informou a Unitel na semana passada.

Em resposta, o chefe do Senado, Andrónico Rodríguez, que é um dos apoiadores de Morales no MAS, destacou que, desde que Arce assumiu o cargo em novembro de 2020, o legislativo aprovou 26 operações de empréstimo envolvendo quase US$ 3,2 bilhões, segundo um comunicado do Senado.

Enquanto isso, o deputado Alberto Astorga, do partido de oposição Comunidade Ciudadana, afirmou que os empréstimos garantidos pelo governo estão “hipotecando” o país.

“Não vamos aprovar empréstimos sem apoio, porque isso claramente endividará as gerações futuras”, disse ele em entrevista coletiva.

EMISSÃO DE DÓLARES

No caso do financiamento de infraestrutura, como a Bolívia carece de um mecanismo para permitir concessões e devido à desaceleração econômica, a maioria dos empréstimos vem de instituições internacionais, segundo o chefe do Instituto de Comércio Exterior da Bolívia (IBCE), Gary Rodríguez.

“O Estado é responsável pela construção da infraestrutura rodoviária e o faz por meio de empréstimos”, disse Rodríguez à BNamericas, acrescentando que o pedido do governo ao Congresso para aprovar os empréstimos também é uma tentativa de preservar as reservas internacionais do Banco Central.

“As obras contratadas vão mesmo ser pagas em moeda local”, disse, lembrando que as operações de empréstimo com multilaterais ajudam a trazer divisas na ausência de investimento estrangeiro direto (IED).

Segundo relatório da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), a Bolívia foi o único país da América do Sul que não registrou aumento de IED no ano passado, registrando IED negativo de US$ 26 milhões.