Brasil inicia ciclo de flexibilização monetária com corte surpresa de 50 pontos-base
O Banco Central do Brasil iniciou o tão esperado ciclo de flexibilização monetária em um nível que surpreendeu alguns participantes do mercado, indicando que uma série mais acelerada de cortes de juros pode estar a caminho.
O BC reduziu a taxa básica de juros Selic para 13,25%, de 13,75%, patamar em que estava desde agosto de 2022.
Embora a redução de 50 pontos-base não tivesse sido totalmente descartada antes da decisão, na noite da última quarta-feira (2), devido aos sinais de desaceleração da inflação, a maioria dos analistas esperava que o ciclo de redução das taxas começasse com um corte de 25 pontos-base.
“Esperava uma redução de 25 pontos-base, mas como a redução foi maior, minha expectativa agora no final do ano para a Selic foi revisada para 11,75%, de 12%”, disse à BNamericas Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil para América Latina.
“O ciclo de redução dos juros terminará em meados do ano que vem, com a Selic indo para o patamar de 9% ou 9,5%”, acrescentou Rostagno.
O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) admitiu que seus diretores estavam em dúvida sobre o nível de redução da taxa desta vez, mas indicou que outros cortes semelhantes podem ser esperados.
“O Copom avaliou a alternativa de reduzir a taxa básica de juros para 13,50%, mas considerou ser apropriado adotar ritmo de queda de 0,50 ponto percentual nesta reunião em função da melhora do quadro inflacionário, reforçando, no entanto, o firme objetivo de manter uma política monetária contracionista para a reancoragem das expectativas e a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante”, disse o BC em um comunicado após a decisão.
“Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões”, acrescentou.
As altas taxas de juros têm causado preocupação no governo e nos empresários devido aos efeitos diretos na economia e no financiamento de empresas e projetos.
“Hoje é muito difícil garantir a viabilidade e atratividade de um projeto, em qualquer segmento, com as taxas de juros no nível atual”, disse à BNamericas Luiz Felipe Graziano, advogado especializado em infraestrutura, PPPs e concessões do Giamundo Neto Advogados.
ATRITO POLÍTICO
A taxa básica elevada levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a criticar repetidas vezes o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, por seu foco no controle da inflação.
O Banco Central é comandado por oito diretores e o presidente, que determinam a taxa Selic a cada 45 dias. Em 2021, o banco se tornou independente, com os diretores cumprindo um mandato fixo.
A maioria dos atuais diretores, inclusive Campos Neto, foi escolhida por governos anteriores.
No entanto, dois deles – Gabriel Galípolo e Ailton Aquino – que votaram pela primeira vez em uma decisão tarifária, assumiram seus cargos no início deste ano, após terem sido eleitos no governo Lula.
Na votação desta quarta-feira, cinco membros do Copom, entre eles Campos Neto, Galípolo e Aquino, optaram por uma redução de 50 pontos-base, enquanto os outros quatro votaram por um corte de 25 pontos.
As críticas de Lula ao presidente do Banco Central foram recebidas com desconfiança pelos participantes do mercado, pois são vistas como uma tentativa do governo de influenciar as decisões da autoridade monetária.
No entanto, o governo afirma que a redução de 50 pontos na Selic não foi fruto de pressão política.
“É um voto técnico, calibrado, à luz de tudo o que ele [Neto] conhece da realidade do país. O fato de nós estarmos neste momento alinhados em torno da decisão não significa que houve concessão do BC. Tenho certeza que o voto dele foi totalmente e balizado em considerações de natureza técnica”, afirmou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a repórteres após a decisão sobre a taxa.
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