Brasil lança programa de renegociação de dívidas para pessoas físicas

O governo brasileiro lançou um programa para que pessoas de baixa renda renegociem suas dívidas, em um esforço para estimular a economia por meio do consumo.

Com o programa Desenrola, o governo facilitará a renegociação de dívidas de até R$ 5.000 (US$ 1.014). Famílias com renda mensal de até dois salários mínimos, ou R$ 2.640, poderão participar do programa, que deve beneficiar cerca de 70 milhões de pessoas, segundo nota do governo.

No programa, o governo federal assumirá as dívidas, inclusive com concessionárias e varejistas, negociará um desconto e pagará. Depois, permitirá que os devedores paguem o governo em parcelas.

“A ideia é que o credor dê o maior desconto possível porque ele sabe que se for incorporado ao programa, o crédito passa a ter garantia do Tesouro, ele sabe que vai receber. Vamos refinanciar para o devedor, mas o credor não vai ficar esperando o pagamento”, explicou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no comunicado.

A economia do Brasil cresceu mais do que o projetado no primeiro trimestre, com 1,9% em relação ao trimestre anterior, graças ao segmento agrícola, enquanto os segmentos de serviços e indústria tiveram um desempenho ruim.

A agropecuária cresceu 21,6%, mas os serviços registraram alta de apenas 0,6%, enquanto a indústria contraiu 0,1%, segundo o IBGE.

“A medida do governo é positiva porque vai trazer um alívio para muitas famílias de baixa renda, mas o que mais me preocupa é a situação das empresas, que vivem um cenário bastante desafiador, por conta dos juros altos, entre outros fatores”, avaliou Douglas Bassi, diretor da empresa de consultoria financeira Virtus BR Partners, à BNamericas.

“O problema é muito complexo para o governo, porque ele não pode lançar um programa de renegociação de dívidas para as empresas, já que isso exige uma avaliação caso a caso, pois há empresas que também estão com problemas por má gestão”, acrescentou.

A Fitch Ratings também prevê uma perspectiva difícil para as companhias locais.

“As empresas brasileiras devem enfrentar um ambiente adverso a curto prazo, pois os fundamentos macroeconômicos não mostram sinais de melhora significativa e os mercados de dívida locais estão restritos. Os juros estão prejudicando o fluxo de caixa operacional, em meio a fraco consumo e alto endividamento familiar. Companhias mais expostas ao mercado doméstico e com necessidades de refinanciamento em 2023-2024 são mais vulneráveis”, disse a agência de classificação em um relatório de pesquisa.

Para dar um alívio às empresas e indústrias locais, o governo confirmou um programa de redução de impostos na compra de veículos de passeio, ônibus e caminhões.

“A indústria automobilística representa 20% da manufatura brasileira, mais de 1,2 milhão de empregos, e está com 50% de ociosidade. E nós entendemos que é uma medida transitória”, comentou o vice-presidente Geraldo Alckmin em outro comunicado.

Na foto: Lula (ao centro) com o ministro da Fazenda Haddad e o vice-presidente Alckmin (Crédito: Ricardo Stuckert/PR)