Brasil precisa ser mais que um exportador de petróleo, avalia presidente de associação

O cenário para as atividades de exploração e produção (E&P) de óleo e gás no Brasil é positivo, mas o país deve se preparar para ser mais que um exportador de petróleo.

A avaliação é de Telmo Ghiorzi, presidente executivo da Associação Brasileira das Empresas de Bens e Serviços de Petróleo (Abespetro).

“Estamos absolutamente otimistas. Todas as indicações que temos, em termos de aumento de demanda e investimentos da Petrobras e outras petroleiras, vão na direção de que teremos mais atividade e emprego”, disse Ghiorzi à BNamericas. 

“Mas isso, para nós, é o básico. O desafio, agora, é transformar o Brasil em um grande exportador de bens e serviços industriais complexos.” 

Hoje, o Brasil já é um polo reconhecido de produção e exportação de equipamentos submarinos, como árvores de natal molhadas.

Tal condição, porém, não resultou de ações coordenadas entre o Estado e as empresas. “Foi um fato heroico isolado”, apontou Ghiorzi.

Ele acredita que o Brasil poderia ser exportador de manifolds e risers submarinos, equipamentos de poços, módulos e equipamentos para FPSOs e de sondas, entre outros. 

“O importante mesmo é mudar o rumo e adotar estratégias de exportação, em vez de apenas buscar atender à demanda doméstica”, ressaltou.  

Ghiorzi alertou que as bacias produtoras tradicionais, Campos e Santos, sustentarão as atividades de E&P no país até 2030. Depois disso, caso não haja grandes descobertas, a produção no pré-sal deve começar a diminuir. 

“Por isso é muito importante que o Brasil possa exportar bens e serviços industriais. Mesmo que não haja demanda aqui, no mundo há”, afirmou, lembrando que a exploração na Margem Equatorial pode ajudar a compensar a redução das atividades no Sudeste. 

Outro desafio brasileiro é o gargalo de mão de obra, tendo em vista o aquecimento do mercado e a melhora do índice de desemprego no país. 

“Há um aumento de rotatividade voluntária, quando as pessoas mudam de emprego para obter melhor remuneração, mas esse é um problema bom de resolver. O duro é não ter projeto”, disse o executivo. 

PAGAMENTOS DA PETROBRAS

Na última sexta-feira (12), a Petrobras anunciou que vai reduzir para 30 dias o prazo de pagamento a fornecedores dos contratos a serem implementados a partir de 1º de maio.

Desde 2020, alguns segmentos de empresas vinham recebendo o pagamento de seus contratos em até 90 dias. 

A mudança vai impactar contratos que atendem a operação e manutenção das unidades industriais (onshore e offshore) e também os que dão suporte às atividades administrativas.

Segundo Ghiorzi, o anúncio da Petrobras é ótimo, pois muda o fluxo de caixa das empresas e aumenta a concorrência. 

“Para além disso, sinaliza que a Petrobras passa a adotar estratégias ainda mais positivas e do tipo ganha-ganha com seus fornecedores”, destacou o executivo. 

“A medida pode ser precursora de outras na mesma direção: tornar a cadeia mais competitiva e, assim, favorecer os fornecedores e a Petrobras ao mesmo tempo.”