Com a saída de Macri, a oposição argentina se consolida antes das eleições

O prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta, e a ex-ministra da Segurança, Patricia Bullrich, provavelmente competirão ombro a ombro pela nomeação presidencial da coalizão de oposição de centro-direita Juntos por el Cambio, depois que o ex-presidente Mauricio Macri chocou o establishment político da Argentina ao decidir não concorrer nas eleições gerais de outubro.

A decisão de Macri (foto) – que fundou o principal partido da coalizão, o PRO, que inclui Rodríguez Larreta e Bullrich – abre caminho para que uma nova geração de líderes chegue ao poder no país.

O presidente Alberto Fernández é muito impopular mesmo entre a coalizão governista peronista e está em desacordo com a vice-presidente Cristina Kirchner e seus apoiadores. Ela, por sua vez, pode não conseguir concorrer sozinha após ser considerada culpada de corrupção em dezembro passado por um tribunal que a baniu de cargos públicos para sempre.

E Sergio Massa, o ministro da economia que deveria impulsionar a economia da Argentina, não deve concorrer ou ter sucesso, já que a economia murcha sob uma taxa de inflação anual que ultrapassou 100%.

Em suma, não parece haver um candidato viável do partido governista antes da votação de 22 de outubro. Além disso, as eleições na América Latina têm tendência para a oposição. A última vez que um partido governista venceu uma eleição presidencial foi em 2018, quando o partido Colorado, do Paraguai, se manteve no poder.

De sua parte, o candidato do terceiro partido, Javier Milei, que defende uma marca de populismo libertário de direita, não viu sua crescente popularidade se estender além de Buenos Aires e até agora não deve avançar para um segundo turno.

É por isso que muitos observadores acreditam que o vencedor das primárias em agosto entre Rodríguez Larreta e Bullrich provavelmente se tornará o próximo presidente da Argentina.

Quanto ao tipo divisivo de políticas populistas de Cristina Kirchner, podemos testemunhar o começo do fim.

Embora seu movimento continue com a maioria dos votos na província de Buenos Aires – a mais populosa do país –, em nível nacional, seus números de reprovação são altos demais para concorrer ao cargo mais alto e já o são há algum tempo. Afinal, essa foi a razão pela qual ela escolheu Alberto Fernández para liderar a chapa quatro anos atrás – quando derrotou Macri no primeiro turno – apenas para se desiludir com seu substituto quando ele começou a governar.

Do jeito que está, a eleição de outubro não colocará velhos inimigos como Macri contra Cristina, mas provavelmente dará início a um novo líder que terá que enfrentar um problema muito antigo – a inflação persistente e descontrolada da Argentina e o subsequente mal-estar econômico.