Chile
Análise

Com redução da geração a carvão, investimento em ativos a gás será fundamental para o Chile

Bnamericas

A geração de energia a gás natural continuará presente no Chile nos próximos anos, mas será necessário investir nas usinas existentes, já que algumas delas são mais antigas que as centrais a carvão do país, que estão sendo gradualmente fechadas ou convertidas.

Essa foi uma das conclusões de um seminário realizado para discutir o trabalho de análise prospectiva realizado pelo instituto chileno de sistemas complexos de engenharia ISCI e pela consultoria SPEC, sobre o papel do gás na transição energética do Chile.

As usinas a gás estão desempenhando um papel importante no apoio à estabilidade da rede, à medida que o país reduz a geração a carvão e as usinas de energias renováveis não convencionais (ERNC) respondem por uma fatia cada vez maior da capacidade.

A capacidade instalada de geração a gás no Chile é de cerca de 5 GW.

“A maior parte das usinas de ciclo combinado foi construída entre 1997 e 2004 e tem cerca de 20 anos de operação”, disse à BNamericas o palestrante Jorge Moreno, sócio da consultoria local de energia Inodú.

“Ao longo dos próximos 10 anos, elas serão submetidas a operações bastante intensas, com operações frequentes de partida e parada, praticamente todos os dias. Neste contexto, é preciso ver como manter, de forma saudável, a operação de ciclos combinados com uma demanda bem alta do sistema”, explicou.

As usinas de ciclo combinado não são projetadas para operações frequentes de parada e partida.

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Durante o evento, organizado pela faculdade de engenharia e ciências da Universidade Adolfo Ibáñez (UAI) e pelo centro de pesquisas sobre transição energética Centra da instituição, Thomas Keller, membro sênior da escola de negócios da UAI e ex-CEO da geradora Colbún, falou sobre o assunto.

“Estou preocupado que o investimento que está sendo feito nessas usinas de ciclo combinado, considerando a idade que elas têm no Chile, não esteja de acordo com o que vemos hoje como necessário, e a razão para isso é a falta de sinais de preço suficientes para que as empresas privadas invistam os recursos necessários para manter essa capacidade em operação”, destacou Keller.

“Este é um desafio importante em termos de políticas públicas. É necessário reforçar as centrais de ciclo combinado para ter esse backup, e hoje isso não está acontecendo.”

ANÁLISE PROSPECTIVA

O pilar central da pesquisa – encomendada pela associação de gás natural do Chile, AGN – analisa quais investimentos podem ser feitos até 2040 em diferentes cenários e o papel do gás.

No cenário base, as usinas a carvão seriam totalmente desativadas ou convertidas até 2035, com a demanda por geração a gás aumentando por volta de 2030.

A estimativa é que a geração de gás diminua até 2030 para 5 TWh/ano, antes de subir e se estabilizar na faixa de 7 TWh/ano durante o restante da década de 2030.

Após 2035, o parque de geração seria cerca de 95% baseado em energias renováveis, com o restante coberto por usinas a gás e a diesel. O curtailment se estabilizaria em cerca de 6%.

A expectativa é que os custos de operação da rede, principalmente ligados ao consumo de combustíveis fósseis, diminuam, com queda correspondente a mais da metade.

O fechamento da frota a carvão exigiria um investimento de cerca de US$ 30 bilhões entre 2026 e 2036, revelou a pesquisa. Se o país também abandonasse a geração a gás e a diesel, isso exigiria US$ 26 bilhões adicionais entre 2030 e 2035, correspondendo principalmente à capacidade de armazenamento adicional.

A política energética nacional do Chile estabelece uma meta de contar com um parque de geração livre de emissões até 2050, o que levaria o país a um território de geração de energia inexplorado. É preciso ter cuidado para garantir que a descarbonização do setor de energia não afete a confiabilidade e a estabilidade do abastecimento ou crie uma queda nos preços, segundo os participantes do evento.

Keller questionou a abordagem de atingir a descarbonização “a qualquer custo”, acrescentando que uma visão mais ampla era necessária. O especialista citou a importância da segurança do fornecimento e o potencial de outras soluções para a redução de emissões, como o combate às emissões de metano dos aterros sanitários.

O Chile está trabalhando para desativar ou converter sua frota de aproximadamente 5,5 GW de usinas elétricas a carvão até 2040, no máximo.

Hoje, a capacidade de usinas a carvão está em torno de 4 GW, enquanto de ERNC é de 18 GW. Onze unidades a carvão totalizando 1,66 GW foram desativadas. Até o final de 2029, oito usinas, que correspondem a 2,0 GW, devem ser fechadas ou convertidas. As datas de fechamento/conversão de outras oito centrais, equivalentes a um total de 1,54 GW, ainda não foram divulgadas.

O Chile está apostando alto em usinas de armazenamento em baterias para ajudar a mitigar a intermitência das ERNC e combater o curtailment. A previsão é que a capacidade chegue a aproximadamente 2 GW em 2026 e continue crescendo.

Sara Larraín, diretora da organização de sustentabilidade Fundación Chile Sustentable, recomendou a criação de caminhos para que o país obtenha uma rede 100% livre de emissões e não seja complacente com a manutenção do petróleo e do gás na matriz.

O trabalho de pesquisa da Fundación Chile Sustentable-ISCI sobre soluções de flexibilidade de rede está em andamento, contou Larraín. “Quais são as tecnologias que precisaríamos começar a considerar seriamente para poder dar suporte, flexibilidade e estabilidade a esse sistema baseado em energia variável? Estamos falando, por exemplo, de condensadores síncronos, formação de rede.”

A conversão de usinas a gás para o uso de combustíveis sustentáveis vem sendo avaliada. No cenário atual, o abastecimento e o custo são dois desafios centrais.

Sobre os esforços gerais de descarbonização, Daniel Olivares, diretor do Centra, disse no seminário que a contribuição poderia ser maior se o país se concentrasse em abrir, de forma metódica e cuidadosa, um caminho de transição energética que outros pudessem seguir para, por sua vez, atingirem seus próprios objetivos mais rápido.

PROJETOS DE GÁS

Em relação ao pipeline de novos projetos greenfield de capacidade de gás, 3 MW estão em fase de construção.

Além disso, a Engie Chile planeja converter a usina a carvão IEM, de 377 MW, em uma unidade movida a gás natural, trabalho que deve custar cerca de US$ 75 milhões e ser concluído em 2026, segundo um comunicado da agência de classificação Fitch.

ESPAÇO PARA DEBATE

O reitor da faculdade de engenharia e ciências da UAI e ex-presidente executivo da associação local da indústria de energia Generadoras de Chile, Claudio Seebach, disse que a realização de fóruns para debate e discussão era fundamental.

“Temos uma missão importante, como universidade, pois pretendemos ser um espaço de união e diálogo, com base na ciência e na evidência, sobre os desafios que enfrentamos como país. Neste caso, falamos de transição energética e crise climática, uma estratégia central da faculdade e uma das principais questões que buscamos abordar”, disse Seebach.

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