Como o conflito no Oriente Médio pode afetar a América Latina

A escalada do conflito entre Israel e o Hamas pode ter um impacto na América Latina, inclusive nos planos dos bancos centrais de reduzir ainda mais as taxas de juros.

O conflito eclodiu quando o Hamas atacou Israel no sábado (7) e, em resposta, Israel declarou guerra ao grupo armado e realizou ataques aéreos na Faixa de Gaza. Centenas de pessoas morreram em ambos os lados.

Um dos efeitos dos ataques foi a pressão ascendente sobre os preços do petróleo, com o Brent subindo 4,35% nesta segunda-feira, o que pode provocar aumento da inflação em nível global.

O conflito eclodiu em um momento em que os bancos centrais da região estavam em um processo de redução das taxas de juros, após um período prolongado de inflação elevada que começou durante a pandemia de Covid-19 e se intensificou com a invasão da Ucrânia pela Rússia.

“Esses acontecimentos [no Oriente Médio] podem levar a uma maior aversão ao risco global, um fortalecimento do dólar e um aumento dos preços do petróleo. Tal cenário exigiria uma calibração prudente da política monetária na América Latina e, eventualmente, uma taxa terminal [de juros] mais elevada para os ciclos de flexibilização em curso”, destacou Alberto Ramos, economista-chefe do Goldman Sachs para a América Latina, em bate-papo com a BNamericas.

Uma das principais preocupações dos especialistas é o potencial de envolvimento de outros países, sobretudo dos principais produtores de petróleo.

“Nesta fase, penso que haverá efeitos muito limitados na América Latina – na atividade, na inflação e na forma como os bancos centrais reagem. O grande risco para a região é se o conflito aumentar e atrair o Irã”, disse à BNamericas William Jackson, economista-chefe de mercados emergentes da Capital Economics.

“Nessa situação, haveria um impacto negativo inicial sobre o apetite global pelo risco, e os ativos de risco – como as moedas latino-americanas – certamente seriam afetados. Mas também haveria efeitos como variações nos preços das matérias-primas, em especial um aumento nos preços do petróleo. Isso aumentaria as pressões inflacionárias, mas no geral apoiaria as economias produtoras de petróleo da região, como o Equador e a Colômbia”, acrescentou.

Contudo, o conflito no Oriente Médio somado à invasão da Ucrânia pela Rússia pode ter um efeito favorável na percepção dos investidores globais em relação à América Latina.

“Todo tipo de conflito é profundamente lamentável, mas é um fato que, por estar longe desses conflitos, a América Latina se torna uma região interessante do ponto de vista de investimento, porque está afastada dessas zonas de guerra”, apontou Carlos Kawall, ex-secretário brasileiro do Tesouro e sócio da empresa de gestão de ativos Oriz Partners, à BNamericas.

No entanto, Kawall concorda com outros economistas que dizem que as perspectivas de uma redução nas taxas de juros na região parecem mais limitadas nos próximos meses, especialmente com o Fed sinalizando que espera mais aumentos na taxa de fundos federais devido à força do mercado de trabalho dos EUA.