México e Estados Unidos
Análise

Decisão de Musk de adiar a gigafábrica pode ser um obstáculo para o nearshoring no México?

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Decisão de Musk de adiar a gigafábrica pode ser um obstáculo para o nearshoring no México?

A comoção causada pelo anúncio de Elon Musk, CEO da Tesla, de esperar até a realização das eleições nos EUA para decidir se de fato instalará uma gigafábrica no estado de Nuevo León, reavivou temores sobre os riscos representados pelo retorno de Donald Trump à presidência em termos dos interesses mexicanos, especialmente para o fenômeno do nearshoring.

Segundo declarações de Musk durante teleconferência com analistas e meios de comunicação, Trump imporá tarifas sobre veículos fabricados no México, portanto “não faz sentido investir muito no México se isso vai acontecer”.

A Tesla anunciou em março do ano passado a construção de uma fábrica no norte do México para produzir os seus veículos elétricos a partir de 2026, com um investimento que ultrapassaria os US$ 5 bilhões.

Embora o espírito protecionista do antigo presidente republicano não seja uma surpresa, o efeito a jusante que as declarações de Musk podem ter sobre outros investidores interessados no México despertou receios em alguns analistas.

“Já sabíamos que Trump é um obstáculo à questão do nearshoring ou que o México pode tirar melhor partido disso porque a maioria das políticas de Trump, ou a abordagem que ele tem, são muito protecionistas”, disse à BNamericas o vice-diretor de análise do CI Banco, James Salazar.

“O anúncio ou os comentários de Elon Musk fazem muito sentido nessa retórica. Ninguém gostaria de brigar com o possível próximo presidente dos EUA e, nesse sentido, vão direcionar as suas declarações, embora devamos avaliar o que vai acabar acontecendo”, acrescentou o analista.

Alfredo Coutiño, diretor para a América Latina da consultoria Moody's, destacou que os comentários de Musk “são um sinal negativo para o México”.

“Esta decisão pode ser um sinal de alerta para outros grandes investidores e pode desencadear novos anúncios de atrasos nos investimentos no México”, disse Coutiño à AP.

Apesar das preocupações, a tendência de deslocalização no México vai além das empresas norte-americanas que possam estabelecer-se a sul da sua fronteira.

O México assinou em 2020 o T-MEC, novo acordo comercial com EUA e Canadá, já com Trump na presidência. Dada a sua localização estratégica como vizinho ao sul da principal economia mundial, o México continua a ser um destino cobiçado para muitas empresas em outras latitudes.

“A realidade é que existem outras empresas americanas que fizeram anúncios ou têm planos de trazer suas fábricas para o México. Mas o interessante aqui é que não são só os EUA. O que te traz o nearshoring podem ser empresas com qualquer capital. Portanto, poderá ter implicações para mais projetos ou anúncios de investimento, mas, até certo ponto, não para tudo”, indicou Salazar.

“Isto não muda completamente toda a perspectiva favorável que existe ou que nearshoring poderia ter num determinado momento. É mais um obstáculo”, acrescentou o analista, que lembrou que o discurso protecionista de Trump já era visível quando se tornou presidente pela primeira vez, em 2017 e, mesmo assim, continuaram a existir fluxos de investimento.

O presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador (AMLO) declarou em sua entrevista coletiva diária na quarta-feira (24) que investimentos históricos estão chegando ao México, e que a tendência continuará nos próximos anos. Em 2023, o México atraiu um investimento estrangeiro direto (IED) recorde de mais de US$ 36 bilhões, segundo dados do governo.

“O investimento estrangeiro que chega ao México é histórico, como nunca antes. Para ser bem claro: não há nada com que se preocupar. O México tem uma situação excepcional e o investimento estrangeiro continuará a chegar”, acrescentou o presidente quando questionado sobre o anúncio de Musk.

A Secretaria da Economia informou recentemente que o México registou 143 anúncios públicos de IED do sector privado no primeiro semestre, com um desembolso esperado de US$ 45,5 bilhões.

Estes investimentos entrariam no país nos próximos dois a três anos e, embora a carteira já não especifique que tais desembolsos estão ligados ao nearshoring, como fez antes, presume-se que a maioria esteja ligada a esta tendência.

Na prática, fatores como a falta de segurança jurídica e a oferta de infraestrutura básica que as empresas necessitam para se instalarem e operarem nos diferentes estados mexicanos determinarão em maior medida até que ponto o México poderá tirar partido do nearshoring.

“O México é um país que enfrenta certos problemas em questões como a insegurança, o Estado de Direito, as telecomunicações, infraestrutura do país, água, custos de energia e fornecimento de eletricidade e gás. Há uma série de fatores que não ajudam a impulsionar 100% este fenômeno porque o México está atrasado, os quais são questões mais internas”, complementou Salazar.

Em relatório especial publicado em abril, o Grupo Financiero Base alertou que, entre as dificuldades para o nearshoring, estão a pressão sobre os custos trabalhistas, a maior rotatividade de pessoal, o aumento dos custos de transporte, a necessidade de construção de moradias e melhoria da infraestrutura pública, além de maior dependência sobre o comércio com os EUA.

“A possibilidade de falta de infraestrutura de energia elétrica é um dos principais fatores que retarda a chegada do IED ao México e limita o aproveitamento da oportunidade de nearshoring”, indicou a entidade no relatório.

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