Destaque: as estratégias de banda larga de fibra da Telefónica para o Brasil
Maior player de banda larga de fibra do Brasil, a Telefónica tem investido pesado na expansão de sua base de clientes e rede para consolidar sua liderança local no segmento.
No período de 12 meses contabilizados até setembro, a empresa expandiu sua rede de FTTH para 2,9 milhões de novas residências, conectando 715.000 novos clientes e 59 novas localidades, com a cobertura chegando a 439 localidades no total.
As receitas de FTTH também tiveram um crescimento sólido: 15,1% ano a ano no terceiro trimestre, em parte devido a ajustes de preços.
No final de setembro, a Telefônica Brasil reportou 6 milhões de clientes de fibra e 25,1 milhões de casas passadas com fibra, um aumento de 13,5% e 12,9%, respectivamente, sobretudo por conta da joint venture de fibra neutra que mantém com a canadense CDPQ, a FiBrasil.
É um crescimento sólido de dois dígitos que poucos players conseguem garantir. A meta de casas passadas é de 29 milhões até o final de 2024.
Segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), essa base de clientes garante à empresa 16,9% do mercado brasileiro de banda larga de fibra, à frente dos 12,3% de participação da Oi.
A participação da Oi, no entanto, tem diminuído em meio aos problemas financeiros e operacionais da operadora. Além disso, a venda da base de clientes de fibra da Oi – a empresa contratou consultores para avaliar esse desinvestimento – pode mudar ainda mais o cenário da concorrência no país.
A Telefônica é uma potencial compradora, como disse o CEO Christian Gebara a investidores e jornalistas após a divulgação do relatório de lucros do terceiro trimestre.
Dois obstáculos podem surgir, no entanto.
O primeiro é um problema com o órgão antitruste, já que uma combinação das bases de clientes isolaria confortavelmente a Telefônica na liderança com um terço do mercado. Além da Telefônica e da Oi, o mercado de banda larga de fibra é extremamente fragmentado entre diversos ISPs, nenhum deles com mais de 5% de participação de mercado.
Uma fonte do Ministério das Comunicações consultada pela BNamericas sobre o acordo acredita que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) terá “grandes dificuldades” para aprová-lo. A fonte acrescentou, porém, que ainda há muita incerteza sobre o que estaria à venda, assim como em relação aos termos e contratos.
Um segundo obstáculo para a Telefônica incorporar a base de fibra da Oi é operacional.
A rede de fibra da Oi, por meio da joint venture neutra V.tal, mantida com recursos do BTG Pactual, se sobrepõe em muitas regiões à da Telefônica/FiBrasil. Além disso, existem contratos da V.tal com provedores de internet e operadoras para o uso da rede.
“Participamos de tudo o que estiver relacionado a oportunidades no negócio de fibra. Até o momento não fomos compradores de nada, mas, de novo, sendo a empresa número um em rede e clientes no Brasil, precisamos ver o que está lá e entender todos os detalhes, principalmente relacionados ao contrato de uso da rede neutra”, disse Gebara aos investidores.
A V.tal assinou contratos com mais de 70 ISPs para o uso de sua rede, que cobre 22 milhões de casas passadas. A FiBrasil afirma ter mais de 50 empresas como clientes.
Do ponto de vista comercial, apesar da desaceleração geral do mercado de fibra, que lentamente começa a ficar saturado nas áreas urbanas, a Telefônica tem conseguido combinar banda larga de fibra com TV, telefonia móvel e conteúdo em pacotes promocionais.
A oferta convergente de fibra e pós-pago Vivo Total, que possui 1,1 milhão de acessos, cresceu 2,5 vezes no comparativo anual, com taxa de churn mensal de 0,44% no período, bem abaixo da taxa de churn dos serviços autônomos.
“O ganho de clientes está relacionado a uma melhor proposta de valor, aproveitando o que falamos antes: base de clientes, qualidade da rede, presença no canal, marca física e digital, a força da marca e a possibilidade de oferecer convergência de uma forma que ninguém consegue replicar no momento”, destacou o CEO.
“Tudo isso gera um resultado muito forte, e estamos bastante positivos quanto à trajetória de sucesso dessa estratégia daqui para frente.”
MÓVEL
Enquanto isso, a Telefônica, que foi uma das compradoras da operação móvel e da base de clientes móveis da Oi, continua trabalhando na integração desses ativos e na obtenção de sinergias.
No total, a telco recebeu 2.700 sites sem fio da Oi (antenas e equipamentos de retransmissão acoplados às torres), mas manterá apenas 800.
Os 1.900 restantes, a maioria deles sobrepostos a sites próprios da Telefônica, serão fechados e desativados nos próximos trimestres.
“Estamos avançando bem na negociação com as empresas de torres. Já concordamos com o cancelamento de alguns deles no terceiro trimestre e estamos progredindo com o restante. Esperamos ter tudo acordado nos próximos dois ou três trimestres”, contou Gebara.
A TIM, que também comprou parte da Oi Móvel, fechou um acordo com a SBA Communications referente aos sites da Oi. A SBA já está negociando com a Telefônica e a Claro. O mesmo vale para outras empresas de torres que tinham contratos com a Oi.
Uma fonte do mercado de torres adiantou à BNamericas que um novo acordo com telcos relacionado aos contratos da Oi pode ser anunciado ainda este ano.
CAPEX
A fibra também é foco dos investimentos da Telefônica.
O capex no terceiro trimestre atingiu R$ 2,62 bilhões (US$ 531 milhões), um aumento de 1,5% ano a ano, representando 20% da receita líquida. Os recursos foram destinados principalmente à ativação do 5G em cidades com mais de 200.000 habitantes e à expansão da rede de fibra.
No acumulado do ano, os investimentos da Telefônica totalizaram R$ 6,66 bilhões (queda de 5,3%). Segundo Gebara, isso coloca a empresa no caminho certo para cumprir seu guidance de capex, excluindo licenças e locações, de até R$ 9 bilhões em 2023.
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