Destaque: as relações entre Brasil e Venezuela no setor de energia

O governo brasileiro tem sido alvo de críticas por não assumir uma posição mais firme em relação às eleições recentes da Venezuela, consideradas fraudulentas por diversas nações.

Assim como países como a Colômbia e o México, o Brasil ainda aguarda que o regime do presidente Nicolás Maduro apresente as atas oficiais de votação de todas as mesas eleitorais para comprovar sua suposta vitória nas eleições.

Outros países da região, como Argentina, Peru, Uruguai, Costa Rica e Panamá, rejeitaram abertamente os resultados ou manifestaram forte ceticismo, assim como os Estados Unidos e a União Europeia, enquanto a China e a Rússia reconheceram a vitória de Maduro como legítima.

No lugar do histórico alinhamento entre o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e o “chavismo”, movimento de esquerda da Venezuela que levou Maduro ao poder após a morte de Hugo Chávez, a cautela do Ministério das Relações Exteriores do Brasil (MRE) reflete questões geopolíticas importantes, como a fronteira compartilhada de 2.200 km entre as duas nações e a presença de cerca de 500.000 venezuelanos no Brasil.

Outra questão relevante são as relações energéticas entre as duas nações.

Após a posse de Lula, em janeiro de 2023, Brasil e Venezuela começaram a discutir a retomada do fornecimento de energia elétrica da hidrelétrica de Guri, na Venezuela, para abastecer o estado de Roraima, no Brasil, o único que ainda não foi integrado à rede elétrica nacional.

As compras de eletricidade foram interrompidas em 2019 devido a problemas operacionais e econômicos na Venezuela e em meio a tensões entre o ex-presidente Jair Bolsonaro e Maduro.

As comercializadoras de energia brasileiras Âmbar Comercializadora de Energia, Bolt Energy Comercializadora de Energia e Tradener foram autorizadas pelo Ministério de Minas e Energia (MME) a importar energia da Venezuela.

Em março deste ano, uma delegação da Petrobras visitou a Venezuela para avaliar possíveis oportunidades de negócios no país.

A viagem foi feita a convite do governo de Maduro. Executivos e técnicos da estatal brasileira visitaram unidades de produção e refino de petróleo e gás na região de Maracaibo operadas pela PDVSA.

Hoje, a Petrobras não tem escritórios na Venezuela, onde explorou e produziu petróleo onshore e offshore.

A brasileira chegou a negociar a entrada da PDVSA como sócia no projeto da Refinaria Abreu e Lima (RNEST), em Pernambuco, mas o acordo não foi confirmado.

Recentemente, Ricardo Savini, presidente da empresa brasileira Fluxus, anunciou que a companhia está de olho em oportunidades de negócios na Venezuela.

A Fluxus é a subsidiária de petróleo e gás do grupo J&F, que também inclui a Âmbar Energia.

“O ambiente é complexo do ponto de vista da política interna da Venezuela, mas um problema que eles não têm é a ausência de hidrocarbonetos”, disse ele a jornalistas depois de participar do Fórum de Energia da S&P Global Commodity Insights, no Rio de Janeiro.

“Eles precisam do apoio do setor privado”, acrescentou.