Espera-se que a seca no norte do Brasil tenha impacto limitado nos preços da energia

A interrupção da operação da hidrelétrica de Santo Antônio e a seca no norte do Brasil deverão ter um impacto pontual e geograficamente limitado no preço da energia elétrica no país, segundo especialistas ouvidos pela BNamericas.

João Sanches, CEO da consultoria e comercializadora de energia Trinity Energias Renováveis, não acredita que haja efeitos significativos no médio prazo.

“Pode haver um descolamento de preço nas regiões Norte e Nordeste, ficando acima dos preços no Sudeste e Sul”, disse à BNamericas.

Devido à seca na Amazônia, o governo federal decidiu acionar as usinas térmicas Termonorte I e Termonorte II para garantir o fornecimento de energia nos estados do Acre e Rondônia.

Segundo o Ministério de Minas e Energia (MME), as reservas de combustível para geração térmica na região, inclusive em áreas isoladas e não conectadas à rede nacional, estão no nível adequado.

João Mello, presidente da consultoria Thymos Energia, prevê que o PLD – preço de referência no mercado livre de energia – ficará próximo do piso, em cerca de R$ 70 (US$ 13,50) por MWh, já que os principais reservatórios hidrelétricos do país estão cheios.

“Esse custo [das térmicas acionadas] entrará como encargo de serviço do sistema. Isso gera uma conta a mais para o país, mas não é uma conta especialmente alta”, informou à BNamericas.

Mello disse que Santo Antônio é particularmente vulnerável a secas e enchentes porque tem uma altura de queda muito baixa.

“Em 2014, a jusante encheu, diminuindo a altura, e as máquinas tampouco conseguiram gerar”, disse.

Ao todo, cerca de 500 mil pessoas nos estados do Amazonas, Acre e Rondônia foram afetadas pela seca extrema. Só no Amazonas, foi decretado estado de emergência em quase 60 municípios.

Alexandre Nascimento, diretor da consultoria de ciências meteorológicas Nottus Meteorologia, disse que a seca que atinge o rio Madeira é o resultado cumulativo de três anos de La Niña, fenômeno que reduz a temperatura das águas do Oceano Pacífico.

“O Madeira nasce no Peru e passa pela Bolívia, regiões que registraram poucas chuvas nos últimos anos”, disse à BNamericas.

“Com o El Niño, que começou há cerca de três meses, o rio Madeira pode ser favorecido na próxima temporada de chuvas.”