Exportações mexicanas, nearshoring e T-MEC estariam em risco após o retorno de Trump
O México enfrentará uma série de problemas com o retorno de Donald Trump à Casa Branca, especificamente no que diz respeito ao comércio e à imigração.
O país é o maior parceiro comercial dos Estados Unidos, depois de superar a China em 2023. Desde 2020, está em vigor o acordo comercial T-MEC, entre os dois países e o Canadá, que foi negociado durante o primeiro mandato de Trump. Uma revisão do acordo está prevista para 2026.
Na véspera das eleições, Trump ameaçou mais uma vez o México com a imposição de tarifas de 25% – e de até 100% – sobre todos os produtos exportados do México caso o país não impedisse o que ele chamou de “invasão de criminosos e drogas” aos Estados Unidos, em um novo exemplo do seu espírito protecionista, que gerou queda no peso.
Durante o dia das eleições, e à medida que a vantagem do magnata sobre a democrata Kamala Harris se tornava evidente, o peso caiu para 20,8 em relação ao dólar, embora tenha recuperado parte da queda nesta quarta-feira (6).
“A reação do mercado foi mais ou menos como esperávamos. À medida que as chances de vitória de Harris diminuíam e as de Trump aumentavam, e junto com a maioria [republicana] no Congresso, vimos uma alta geral do dólar, movimentos positivos nos mercados de ações, aumentos nos rendimentos dos títulos do Tesouro e o Bitcoin atingindo uma alta histórica devido às políticas que Trump tentaria implementar”, disse à BNamericas o vice-diretor de análise econômica do CI Banco, James Salazar.
“Esses são efeitos imediatos e, como o dólar subiu de forma generalizada, o peso mexicano é uma das moedas mais afetadas. Embora a desvalorização tenha sido próxima de 3%, a realidade é que não foi muito forte, porque parte dela já tinha sido antecipada”, acrescentou.
No mercado monetário, a taxa das notas do Tesouro para 10 anos subiu 17,8 pontos-base, para 4,45%. A diretora de análise econômica do Banco Base, Gabriela Siller, atribuiu a alta à “especulação de que as políticas de corte de impostos e imposição de tarifas sobre as importações de Trump poderiam ter um impacto sobre a inflação” em uma publicação no X. O Fed também poderia ser mais cauteloso quanto ao corte da taxa de juros.
PROTECIONISMO
Para Salazar, “a política comercial parece muito protecionista, por isso, o país precisará ter muito cuidado na forma como vai negociar” com o governo Trump.
Em termos práticos, Salazar prevê que os efeitos da vitória do magnata serão sentidos principalmente nas exportações devido ao fenômeno da realocação das cadeias de suprimentos para perto de seus mercados principais, ou nearshoring , e à revisão do T-MEC.
O agora presidente eleito também prometeu impor tarifas de pelo menos 60% sobre as importações provenientes da China. Parte do protecionismo de Trump se baseia nas suspeitas crescentes de que as empresas chinesas encontraram formas de evitar as tarifas dos EUA para continuarem exportando para a maior economia do mundo através de países terceiros, como o México.
Além disso, cada vez mais empresas chinesas estão abrindo fábricas em países de onde podem vender para os Estados Unidos, evitando as tarifas que teriam de pagar se produzissem na China. Não é por acaso que Trump também prometeu em sua campanha aplicar tarifas sobre bens que as empresas chinesas fabricassem em território mexicano, independentemente dos termos do T-MEC.
Por fazer parte do acordo comercial, o México desfruta da eliminação das tarifas de importação ao vender para os Estados Unidos, e esta é, em grande parte, a razão pela qual o país atraiu investimentos – embora muitos ainda sejam apenas publicidade – e espera se beneficiar do nearshoring. O acordo permitiu que o México se tornasse o principal parceiro comercial dos Estados Unidos após 16 anos de domínio da China.
“A guerra comercial [dos EUA] com a China certamente continuará ou poderá se intensificar, embora já tenha se intensificado com Biden. Apesar de podermos aproveitar um pouco a maior participação nos Estados Unidos, se forem impostas tarifas adicionais, essa vantagem não ficará clara”, explicou Salazar.
O analista prevê que o retorno de Trump a Washington afetará o nearshoring, que, para além de uma questão econômica ou comercial, para o novo presidente se tornaria uma questão de segurança nacional. “Com certeza ele vai intensificar as ameaças pela questão da migração, e vamos ouvir falar muito sobre a migração ligada à questão comercial”, comentou.
Por fim, Salazar espera que, embora a revisão do T-MEC esteja prevista para 2026, com início das consultas em 2025, em termos práticos, a discussão será antecipada por conta da maioria obtida pelo Partido Republicano no Congresso, começando assim que Trump tomar posse, em 20 de janeiro.
Na revisão, as autoridades comerciais dos Estados Unidos, Canadá e México poderiam fazer recomendações sobre melhorias no T-MEC e promover acordos.
Embora alguns analistas acreditem que uma potencial imposição de tarifas dos Estados Unidos ao México implique, de fato, a eliminação do tratado, para o ex-chefe da negociação do T-MEC por parte do México, Kenneth Smith, esse cenário é improvável.
“Há um risco mínimo de cancelamento do T-MEC em 2026. Se um acordo não for alcançado, teremos um esquema de revisões anuais”, afirmou recentemente à BNamericas. “Se Trump aumentar as tarifas dentro da América do Norte com seus principais aliados comerciais, a retaliação pode ser imediata e ter um alto custo para os EUA. O T-MEC representa uma espécie de seguro de vida para o México e o Canadá.”
A presidente mexicana Claudia Sheinbaum ressaltou em sua coletiva de imprensa diária nesta quarta-feira que o México manterá um diálogo de alto nível com o governo dos Estados Unidos. “Vamos manter este diálogo de alto nível sobre as questões migratórias. Ontem eu disse que, no México, a migração na fronteira norte diminuiu 75% desde dezembro de 2023 até agora, de uma forma humanitária, e há um plano para a migração”, afirmou.
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