Mineradoras brasileiras buscam superar desafios em um mercado enfraquecido

As mineradoras de minério de ferro, que dominam o setor de mineração no Brasil, debatem os desafios que enfrentam diante da fragilidade do mercado dessa commodity.

O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de minério de ferro. No primeiro semestre do ano, dos R$ 130 bilhões (US$ 23 bilhões) em receitas registradas pelo setor de mineração, R$ 80,1 bilhões corresponderam à produção de minério de ferro, segundo os dados compilados pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).

O minério de ferro também representa 71,6% das exportações minerais brasileiras e, dos US$64,5 bilhões planejados em investimentos pela indústria mineral do país entre 2024 e 2028, US$ 17 bilhões serão direcionados a projetos nesse segmento.

No entanto, a alta dependência do país em relação ao minério de ferro tem se tornado um problema devido à desaceleração da economia chinesa, principal consumidora das exportações brasileiras.

“A China representa atualmente 50% do mercado mundial de minério de ferro e essa demanda está em grande parte associada ao desempenho das áreas de infraestrutura e construção civil lá. Como esses setores enfrentam problemas, o preço do minério de ferro está sob pressão e, atualmente, está abaixo de US$ 100 por tonelada e com tendência de permanecer pressionado até que o governo chinês anuncie estímulos internos para a recuperação da economia”, apontou Pedro Galdi, consultor de mineração, à BNamericas.

Em resposta a esse cenário, empresas envolvidas na produção de minério ferro estão buscando soluções para superar as dificuldades, focando, por exemplo, na melhoria da qualidade do minério para atrair compradores interessados em reduzir suas emissões de gases de efeito estufa.

“Nossa estratégia é centrada na qualidade, sempre visando os menores custos de produção. Estamos confiantes de que a demanda por minério de alta qualidade continuará a crescer. Qualidade, combinada com eficiência de custos e logística integrada, posicionará o Brasil como um fornecedor de primeira linha”, disse Eduardo Jorge Ledsham, CEO da produtora de minério de ferro Bahia Mineração, durante um painel na Exposibram, evento anual de mineração organizado pelo Ibram.

Segundo analistas, o minério de ferro brasileiro é considerado de alta qualidade, exigindo menos processamento nas siderúrgicas, o que reduz a necessidade de altos-fornos.

“O Brasil possui minério de ferro da mais alta qualidade e as mineradoras produzem produtos associados, como pelotas de minério de ferro e também briquetes, que também são insumos para atender à demanda das siderúrgicas por insumos que gerem menos emissões de gases de efeito estufa durante seus processos produtivos. As empresas tendem a aproveitar mais esse apelo de poder produzir insumos mais ecologicamente corretos”, acrescentou Galdi.

Ana Sanches, CEO da Anglo American no Brasil, enfatizou a importância da inovação e da excelência operacional para enfrentar esse desafio.

“Em um cenário como esse, é de onde vem ainda mais forte a necessidade de inovação, desenvolvimento tecnológico e a excelência nos processos, porque são as pequenas diferenças somadas que vão abrir as portas para a nossa competitividade e para mantermos nosso papel tão relevante no mercado”, destacou Sanches.

Enquanto isso, Jayme Nicolato Corrêa, diretor-executivo da Mineração Morro do Ipê, antecipa aumento da demanda e da produção de minério de ferro de alto teor com baixo nível de contaminantes. Ele também destacou o desafio enfrentado por regiões como o Quadrilátero Ferrífero, que lida com teores médios ou baixos.

“Esse cenário trará um grande impacto, especialmente para as pequenas empresas, mas que o futuro deverá ser promissor. Temos projetos maravilhosos sendo desenvolvidos para a construção de ferrovias e outras infraestruturas. Precisamos pensar estrategicamente para chegar às ferrovias, implementar filtragem, aumentar a frota de caminhões e melhorar nossa competitividade”, afirmou Corrêa.