O que esperar do novo plano de negócios da Petrobras

Após a publicação deste artigo, a Petrobras divulgou seu plano de negócios, que prevê um capex de US$ 102 bilhões entre 2024 e 2028.

Na sexta-feira (24), a BNamericas publicará uma nova matéria detalhando e analisando o novo plano da estatal.

A Petrobras pode anunciar seu novo plano de negócios na próxima sexta-feira, de acordo com o presidente da estatal, Jean Paul Prates.

Analistas acreditam que o plano, que abrangerá o período de 2024 a 2028, terá investimentos superiores aos do programa para o período de cinco anos anterior (2023-27), que trazia uma previsão de investimentos de US$ 78 bilhões.

Essa expectativa surge, sobretudo, como reflexo de uma nova orientação empresarial que exige dividendos mais baixos para os acionistas e maiores investimentos em áreas “non-core”, como projetos de refino e de energias renováveis.

Tudo isso será combinado com a continuidade de grandes investimentos em exploração e produção (E&P).

“Diante da necessidade de o Brasil entrar de maneira soberana e mais profundamente na agenda de transição energética, é esperado que a Petrobras amplie seu volume de investimentos no próximo plano”, disse Mahatma Santos, diretor do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), à BNamericas.

A Federação Única dos Petroleiros (FUP) – um importante aliado político do presidente Luiz Inácio Lula da Silva – acredita que o novo plano deve definir investimentos de cerca de US$ 100 bilhões.

“A maior empresa do país deve ter papel central na promoção do desenvolvimento, emprego e renda dos brasileiros, buscando a autossuficiência de derivados de petróleo a preço justo e sendo a propulsora da transição energética no Brasil”, afirmou a FUP em um comunicado.

Segundo o sindicato, 90% do valor total poderia ser financiado com recursos próprios (geração de caixa operacional) e 10% (US$ 10 bilhões) com aumento de dívida.

“Se a Petrobras dosar melhor a distribuição entre os investimentos realizados e a distribuição de dividendos, acho que é possível que ela alcance esse capex total de US$ 100 bilhões. Mas, claro, isso vai depender de fatores externos, como a conjuntura global dos preços do petróleo”, acrescentou Santos. 

Carolina Chimenti, analista sênior da Moody’s, não espera grandes mudanças em relação ao plano atual, que prevê a maior parte dos investimentos em E&P e um aumento nos gastos em projetos com foco em ESG.

“Talvez tenhamos alguma clareza adicional em relação à M&A, dado que hoje esse é o grande ponto de questionamento. Na parte de downstream, o foco deve ser em continuar aumentando a capacidade das refinarias”, apontou ela à BNamericas.

Para Chimenti, em termos de transição energética, o foco deve estar nos biocombustíveis e na descarbonização das operações, entre outros investimentos.

Fabrício Gonçalvez, CEO da consultoria de investimentos Box Asset Management, afirmou que, como o governo federal indicou que a Petrobras deveria seguir “caminhos menos saudáveis para os acionistas minoritários”, os investidores poderão prestar mais atenção às notícias vindas de Brasília do que ao novo plano, como um guia para o futuro da empresa.

“O que pode haver nesse processo é uma maior discricionariedade, por parte de Prates e dos diretores que, junto com ele, são responsáveis pela definição dos preços dos combustíveis”, disse à BNamericas.

O conceito do custo alternativo – previsto na nova política de preços de combustíveis da estatal – sugere que a Petrobras continuará a disputando com as importações no mercado doméstico, segundo o analista.

Enquanto isso, em regiões onde não há refinarias privadas para competir com a Petrobras, a estratégia provavelmente será analisar quanto os importadores pagarão para importar os produtos.

“O cenário que se coloca induz a Petrobras e as demais produtoras de petróleo a avaliar qual a melhor forma de gestão dos ativos, sobretudo as refinarias, para atender simultaneamente à otimização da produção e às restrições tributárias e de custos operacionais”, concluiu Gonçalvez.