O que o México pode aprender com o Canadá sobre minerais críticos?

O México pode ver o Canadá como um exemplo a seguir em relação aos minerais críticos, também chamados de estratégicos por sua importância para a transição energética e segurança, entre outros aspectos, segundo informações recebidas pela BNamericas.

Embora o México, principal produtor mundial de prata, não disponha de uma política pública relacionada ao assunto, as principais mineradoras de prata canadenses estão pressionando para que o metal seja incluído na lista de minerais críticos de seu país. A nova lista de minerais críticos do parceiro do México no acordo comercial T-MEC será publicada no meio do ano.

O que mais chama a atenção, porém, é que várias dessas empresas sediadas no Canadá extraem prata exclusivamente de minas localizadas em território mexicano.

É o caso da Endeavor Silver, uma das mineradoras que assinou a carta enviada em janeiro às autoridades canadenses para incluir a prata na lista. A empresa mantém as operações de Guanaceví e Bolañitos nos estados de Durango e Guanajuato, enquanto avança em Terronera, projeto de US$ 271 milhões em Jalisco, cuja produção inicial está prevista para o quarto trimestre de 2024.

A Sierra Madre Gold & Silver detém os projetos La Guitarra, no Estado do México, e Tepic e La Tigra, em Nayarit.

Na carta enviada em 31 de janeiro ao ministro de Energia e Recursos Naturais do Canadá, Jonathan Wilkinson, os CEOs de 19 empresas de mineração, incluindo grandes produtores como Coeur Mining, Hecla Mining e First Majestic Silver, afirmaram que considerar a prata como um mineral crítico “posicionaria o Canadá como um fornecedor preferencial para aliados estratégicos”. (Leia a carta, em inglês, na seção Documentos, no canto superior direito da tela.)

Um dos argumentos expressos na carta é que “a prata é identificada como o melhor condutor elétrico, o melhor condutor térmico metálico e o melhor material reflexivo. Essas qualidades tornam o metal um componente essencial e insubstituível para diversas aplicações industriais e tecnológicas”.

No México, porém, não há uma lista ou política nacional sobre minerais, como esclareceu recentemente à BNamericas Luis Humberto Vázquez, presidente da associação de engenheiros de minas, metalúrgicos e geólogos AIMMGM, e diretor de minas da companhia Industrias Peñoles. 

“Precisamos ver primeiro o que vai acontecer no Canadá. Sempre fomos […] pouco reativos, mas temos que acompanhar as grandes potências e ver o que, entre aquilo que elas estão fazendo, nos convém aplicar”, disse Vázquez.

Tecnologias como a energia solar aumentaram a demanda industrial por prata. Os produtores canadenses destacaram no documento que, em 2023, a demanda global pelo metal foi estimada em 1,16 bilhão de onças (Boz), das quais 576 milhões de onças (Moz) foram para uso industrial. A energia fotovoltaica exigiu 161 Moz no ano passado, ou 14% do total.

O metal também é utilizado em veículos elétricos e híbridos. À medida que as frotas avançam cada vez mais para a eletrificação, a expectativa é que a demanda por prata na indústria automotiva aumente.

“Pesquisadores de todo o mundo alertaram que a prata é um potencial gargalo na transição para uma economia de baixo carbono devido a restrições de oferta, perturbações na cadeia de abastecimento, concorrência por outros usos e aumento da procura”, afirma a carta.

Para o presidente do Colégio de Engenheiros de Minas, Metalúrgicos e Geólogos do México (CIMMGM), Raúl García Reimbert, embora a prata seja considerada um metal precioso, também é um mineral crítico para o México. “Acredito que é assim que devemos considerá-la […], embora tenhamos uma oferta abundante por sermos o maior produtor mundial”, pontuou García, confirmando a importância da prata para a economia mexicana.

Até agora, apenas nos casos do lítio e, em menor medida, do cobre, o presidente Andrés Manuel López Obrador – cujo mandato termina em 1º de outubro – destacou a oportunidade que esses metais estratégicos representam para a transição energética tanto para os estados que os produzem, como Sonora, quanto para o país como um todo.