O que os resultados de 3 big techs significam para a América Latina?

A temporada de resultados financeiros do quarto trimestre e de 2024 das principais empresas de tecnologia está a todo vapor.

Até agora, os resultados são mistos, mas a nuvem e a IA (inteligência artificial) apresentaram um desempenho melhor do que outras linhas de negócios para muitos dos players.

Embora a maioria não costume fornecer detalhamentos específicos de receitas e contratos na América Latina, os resultados mais amplos e as tendências de mercado, juntamente com os planos e projetos já anunciados, podem dar uma ideia dos caminhos que estas gigantes da tecnologia estão trilhando na região.

A seguir, a BNamericas analisa os resultados de Microsoft, IBM e Intel e o que eles significam para a América Latina.

AWS, Alphabet e Qualcomm divulgarão suas demonstrações financeiras esta semana.

MICROSOFT

Apesar dos possíveis efeitos da revisão de gastos desencadeados pelo evento DeepSeek nos investimentos massivos em dados e infraestrutura de IA, a Microsoft continua comprometida com seus planos de investimento anunciados – inclusive para a América Latina.

Muitos dos projetos já estão contratados e em andamento, enquanto outros estão em estágio avançado de pré-obras. Nas palavras da presidente da Microsoft Brasil, Tânia Cosentino, a empresa está “construindo datacenters na velocidade da luz”.

“Continuamos a expandir nossa capacidade de datacenter em linha com os sinais de demanda de curto e longo prazo. Mais que dobramos nossa capacidade geral de datacenter nos últimos três anos, e adicionamos mais capacidade no ano passado do que em qualquer outro ano da nossa história", disse o CEO Satya Nadella na última teleconferência de resultados da empresa.

“Nossos datacenters, redes, racks e silício estão se unindo como um sistema completo para gerar novas eficiências para alimentar tanto as cargas de trabalho de nuvem atuais quanto as cargas de trabalho de IA de próxima geração”, acrescentou.

A Microsoft está apostando que novos aplicativos e plataformas, mesmo aqueles que supostamente usam menos recursos para treinar grandes modelos de linguagem, como o DeepSeek, acabarão aumentando a demanda por processamento e computação.

No ano passado, a Microsoft prometeu US$ 4 bilhões em investimentos em IA e nuvem para seus dois principais mercados latino-americanos nos três anos seguintes, com US$ 2,7 bilhões destinados ao Brasil e US$ 1,3 bilhão ao México. A empresa também trabalha em uma região de nuvem para o Chile, enquanto constrói outros datacenters no Brasil.

A primeira região de nuvem do México da empresa entrou em operação em maio passado em Querétaro, após mais de quatro anos e com três zonas de disponibilidade. O projeto foi anunciado pela primeira vez em fevereiro de 2020 e se soma a uma região de nuvem do Brasil lançada em 2014.

No geral, a receita da Microsoft no quarto trimestre foi de US$ 69,6 bilhões, um aumento de 12% em relação ao ano anterior, com a receita de produtos de servidor e serviços em nuvem aumentando 21%, impulsionada pelo Azure, e a receita de outros serviços em nuvem crescendo 31%.

IBM

O foco da IBM em nuvem e IA gira principalmente em torno do que é conhecido como pequenos modelos de linguagem ou agentes simplificados que alimentam dados específicos para setores específicos dentro das empresas.

A empresa está apostando fortemente na watsonx  – versão generativa de sua plataforma de machine learning Watson –, enquanto na América Latina finanças e telecomunicações são seus principais segmentos.

De forma mais ampla, o foco também depende da inovação e de parcerias estratégicas, incluindo colaborações com SAP, Amazon e Microsoft, entre outras.

Em outubro passado, por exemplo, a integradora de sistemas latino-americana Sonda e a IBM anunciaram uma nova parceria visando US$ 100 milhões em projetos digitais para empresas. O objetivo declarado é acelerar a transformação digital de clientes corporativos da América Latina por meio de soluções de serviços de IA, nuvem, segurança e infraestrutura, visando setores-chave como bancos, saúde, agronegócio, governo, indústria, varejo e serviços públicos.

No momento do anúncio, as empresas tinham dois projetos no Brasil e dois no Chile, enquanto construíam novos projetos e oportunidades na Argentina, Colômbia e México, apurou a BNamericas.

Em agosto, a IBM e a distribuidora e integradora de serviços de TI TD-Synnex inauguraram em São Paulo um centro de codesenvolvimento de soluções voltadas para empresas latino-americanas com grande foco em projetos envolvendo IA.

As receitas do quarto trimestre da IBM foram de US$ 17,6 bilhões – aumento de 1% em relação ao ano anterior, conforme relatado, e de 2% em moeda constante –, com a receita de software aumentando 10%, a receita de consultoria diminuindo 2% e a receita de infraestrutura diminuindo 8%.

“Encerramos o ano com crescimento de dois dígitos na receita de software no trimestre, liderado por uma aceleração ainda maior na Red Hat”, afirmou em comunicado o presidente e CEO da IBM, Arvind Krishna.

“Globalmente, os clientes continuam a recorrer à IBM para se transformar com IA. Nosso livro de negócios de IA generativa agora está em mais de US$ 5 bilhões desde o início até o momento, um aumento de quase US$ 2 bilhões trimestre a trimestre”, acrescentou.

INTEL

Na atribulada Intel, a receita do quarto trimestre foi de US$ 14,3 bilhões, queda de 7% em relação ao mesmo período de 2023. A empresa registrou um prejuízo de US$ 126 milhões, em comparação com um lucro de US$ 2,67 bilhões no quarto trimestre de 2023.

Entre os projetos fechados no quarto trimestre na América Latina, o Banco de Crédito del Perú (BCP) – maior do país em ativos – anunciou uma reformulação de datacenter e redução da frota de servidores com equipamentos hiperconvergentes da Lenovo equipados com processadores Intel.

Em julho, a Intel também anunciou uma aliança com a mexicana Softtek, principalmente para a América Latina, com foco em soluções baseadas em nuvem e projetos de transformação digital de IA.

“A América Latina é um grande centro de inovação”, disse à época Gisselle Ruiz Lanza, vice-presidente do grupo de vendas e marketing da Intel e diretora-geral para a América Latina.

“Queremos investir mais na região para alimentar o ecossistema, e esta é uma grande missão. Por isso, parcerias como a que assinamos hoje com a Softtek são essenciais para que empresas nativas da América Latina cresçam e levem seus produtos e serviços para cada vez mais organizações, dentro e fora da região”, acrescentou.

No entanto, a Intel é novamente alvo de possível aquisição, com Elon Musk, Qualcomm e ARM sendo apontados como os mais recentes compradores em potencial.

A receita de datacenters e IA caiu aproximadamente 15% no interanual, embora ligeiramente acima da estimativa de consenso de US$ 3,37 bilhões.

Apesar dos problemas, a empresa afirma estar a caminho de enviar mais de 100 milhões de PCs com IA até o final de 2025. Além disso, trabalha com mais de 200 fornecedores independentes para otimizar seus softwares com tecnologia Intel.