O sistema elétrico brasileiro está pronto para o próximo verão?

O aumento das temperaturas médias nas maiores cidades brasileiras está provocando um aumento na demanda por energia elétrica.

A previsão de crescimento da demanda para esta semana é de 5,8% e o aumento para o mês deverá ser o maior dos últimos meses, de acordo com projeções do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

O aumento na carga também reflete o crescimento mais rápido da economia brasileira.

Diante de um apagão recente – ainda sob investigação – e da maior complexidade de operação do sistema devido à expansão da geração distribuída e das fontes intermitentes na matriz energética, questiona-se se o Brasil está preparado para uma primavera e um verão com temperaturas acima da média, como preveem os meteorologistas.

O ONS e um analista consultado pela BNamericas descartam qualquer risco importante no fornecimento de energia.

“Em termos de operação e atendimento da demanda, seguimos preparados para atender à sociedade brasileira. O sistema é robusto, seguro, e o cenário é favorável”, disse Luiz Carlos Ciocchi, diretor-geral do ONS, em nota à imprensa.

O cenário favorável se deve às boas condições dos reservatórios hidrelétricos do país, cujos níveis de armazenamento são de 85,2% no Sul, 73,7% no Norte, 72,6% no Sudeste/Centro-Oeste e 67,2% no Nordeste.

A matriz elétrica tem 85% de sua capacidade instalada proveniente de fontes renováveis – principalmente hidrelétricas –, com grande crescimento da energia eólica e solar esperado para os próximos anos.

Esse crescimento levou o ONS a acelerar um programa de modernização que facilitará a integração de mais fontes renováveis ao sistema, afirmou a operadora em comunicado.

Henrique Casotti, sócio da consultoria Genco Energia, destacou que a onda de calor que atingiu o Brasil no final do inverno e início da primavera teria tido menos impacto durante o verão.

“No verão temos muito mais umidade disponível e cobertura de nuvens, o que ameniza a situação em casos como esse”, disse à BNamericas.

Segundo Casotti, mesmo com um setembro muito quente e uma carga elevada, os níveis de armazenamento hídrico não cairão tanto quanto em 2019 e 2020, provavelmente permanecendo acima de 60% até o final do ano – cenário que ele considera muito confortável.

Casotti disse não estar preocupado com o avanço da geração distribuída e das fontes intermitentes.

“Claro que isso gera desafios operacionais, mas não acho que temos, hoje, um problema, com tanta folga de geração no sistema.”

Euclides Lourenço Chuma, membro sênior do instituto de engenheiros eletrônicos e elétricos (IEEE) e pesquisador da Universidade de Linköping, na Suécia, alerta que, com as altas temperaturas, a água dos reservatórios evapora mais rapidamente e aumenta o risco de superaquecimento dos dispositivos do sistema.

“Situações extremas sempre tiram a operação da normalidade e precisam ser acompanhadas de perto pelas equipes técnicas­­”, disse à BNamericas.