
Os desafios das startups: Colômbia e Chile enfrentam obstáculos semelhantes para a inovação
A Colômbia e o Chile se tornaram mercados vibrantes na cena de startups da América Latina e ambos enfrentam desafios semelhantes para criar um ambiente de negócios que permita o crescimento e o desenvolvimento das empresas, segundo os analistas.
Embora as fintechs dominem o cenário nos dois países, assim como em outros mercados latino-americanos, as startups de ambos, especialmente as menores, também enfrentam dificuldades na estruturação dos seus negócios e na diversificação das fontes de financiamento.
Um relatório de 2023 da KPMG sobre startups colombianas, com base em dados de 2022, apontou um aumento de 19,5% no número de startups que operam no país. A consultoria mapeou 1.327 startups ativas no ecossistema colombiano.
Dentre elas, cerca de 59% estavam focadas no mercado B2B, abrangendo 31 segmentos, mas com seis setores principais dominando o mercado: fintechs (15% do total), seguidas de retailtechs, healthtechs, deeptechs, martechs e gestão empresarial em geral.
“Apesar dos problemas de financiamento em geral, a Colômbia tem visto um grande número de startups surgir nos últimos anos. Bogotá continua sendo o epicentro, mas Medellín e outras cidades já estão emergindo como centros. As possibilidades de 'bancarização' para a população explicam esse ambiente de fintech”, disse à BNamericas Juan Diego Méndez, líder de empresas privadas da KPMG para a Colômbia.
De acordo com o último relatório da plataforma TTR Data, a Colômbia ficou em terceiro lugar na América Latina em volume de private equity, venture capital, fusões e aquisições e aquisições de ativos no primeiro trimestre de 2024, com 61 transações, a maioria envolvendo startups.
No entanto, o valor agregado dos negócios aumentou 309%, para US$ 2 bilhões, com base em 26 transações que divulgaram esses números.
A Associação para Investimento de Capital Privado na América Latina (Lavca) informou que os investimentos de capital de risco na Colômbia voltados para startups de base tecnológica atingiram US$ 373 milhões em 82 transações em 2023. Isso representou uma redução de 63% em comparação com os investimentos de US$ 1,2 bilhão registrados em 124 transações em 2022.
Há cerca de três anos, a KPMG criou uma unidade específica para atender o setor de startups na Colômbia. A empresa de consultoria e auditoria apoia empresas no planejamento financeiro, na estruturação de negócios e até na conexão com investidores.
Esse trabalho também inclui a preparação para a expansão internacional, já que muitas empresas acabam expandindo para mercados vizinhos de língua espanhola para alcançar crescimento em escala, enquanto outras exportam serviços para os Estados Unidos sob o modelo de terceirização e nearshoring, disse Méndez.
Por exemplo, o unicórnio colombiano Rappi recebeu apoio da KPMG para seus planos de expansão, segundo o executivo.
Méndez acredita que o quadro regulatório para empresas de tecnologia em fase inicial é relativamente adequado na Colômbia e afirma que o país é um dos mais importantes da região para investimento em startups, juntamente com Brasil, México e Chile.
No entanto, uma das grandes dificuldades das startups colombianas é o baixo nível de inglês entre os empreendedores e líderes de startups, segundo ele.
Outros obstáculos incluem o atual ambiente macroeconômico e político do país e uma maior cautela por parte dos investidores de risco em relação ao financiamento de startups – uma tendência que tem afetado globalmente a maioria das startups na era pós-pandemia.
“Com o atual governo, existe um ambiente um tanto turbulento, não só para as startups, mas geralmente para os mercados de capital, produção, construção e comércio […] mas eu diria que as perspectivas de longo prazo são boas”, avaliou Méndez.
CHILE
No Chile, as startups que receberam consultoria da KPMG nos últimos anos incluem a Osoji, considerada uma das maiores fornecedoras de equipamentos de robótica para uso doméstico, e o unicórnio Betterfly, focada em benefícios de bem-estar para funcionários.
Atualmente, existe um relativo equilíbrio entre os pontos positivos e negativos contras das startups do país.
“É um país difícil para lançar empreendimentos, inicialmente devido à emissão de licenças, mas as pessoas estão conseguindo. Existem serviços, há manufatura e o que vemos em geral é muita inovação vindo das startups”, disse à BNamericas Enrique Margotta, sócio da KPMG no Chile.
O Chile foi um dos primeiros países da América Latina a criar um programa governamental para apoiar as startups, o Startup Chile. O modelo chileno acabou se tornando uma referência para outros programas em toda a América Latina.
De acordo com Margotta, o governo continua oferecendo apoio econômico às startups, desde que os projetos sejam estratégicos e viáveis, além do apoio por meio do Startup Chile.
“Mas hoje, devido às condições econômicas, o empreendedorismo está mais difícil. Estamos passando por período econômico muito mais complicado do que aquele que existia durante a pandemia”, observou o executivo, referindo-se ao crescimento das startups da era Covid-19.
Os obstáculos para as empresas locais de inovação em fase inicial incluem dificuldades com o fluxo de caixa, as taxas de juros que permaneceram altas durante muito tempo e a força do dólar em relação ao peso, pontuou Margotta.
As principais vantagens para o país são: segurança jurídica, transparência e um mercado financeiro maduro, além de um recente acordo fiscal bilateral assinado com os Estados Unidos, destacou Margotta.
No entanto, do ponto de vista macro, o executivo afirma que as condições políticas e econômicas do país, que está prestes a enfrentar eleições para prefeitos municipais e governadores regionais ainda este ano, geram insegurança para a inovação.
"As startups estão trabalhando e o crescimento está acontecendo em diversos setores. Mas eu diria que não alcançou a dimensão que poderia ter. As empresas estão amadurecendo, crescendo, mas não tem sido fácil", afirmou.
Assim como ocorre na Colômbia, fintechs e empresas focadas em serviços financeiros e pagamentos geralmente dominam o cenário das startups no Chile.
O Chile ficou em quarto lugar na região, no primeiro trimestre de 2024, em termos de private equity, capital de risco, fusões e aquisições e negócios de aquisição de ativos, alcançando um total de 61 negócios, uma queda de 40% ano a ano, de acordo com a TTR Data. Os 29 negócios com valores divulgados somaram US$ 511 milhões, o que representou uma queda de 79% em relação ao ano anterior.
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