Pemex e lítio: o que pensa a indústria de mineração

A proposta da presidente eleita Claudia Sheinbaum de fazer com que a Pemex e o Instituto Mexicano de Petróleo (IMP) participem da extração de lítio pode entrar em conflito com a pressão do presidente Andrés Manuel López Obrador para proibir a mineração a céu aberto.

Durante sua campanha, Sheinbaum afirmou que os geólogos do IMP, um centro público de pesquisa, desenvolveriam uma tecnologia para extrair lítio de argila. E durante a apresentação do seu programa de energia em março, ela disse que a Pemex poderia participar do processo de extração – uma aparente mudança no plano de López Obrador, que visava criar a empresa estatal LitioMx como ponto central da nacionalização do lítio.

No entanto, como parte de seu pacote de reformas constitucionais apresentado em fevereiro, López Obrador propôs proibir a mineração a céu aberto para aliviar os danos ambientais e conservar a água. As propostas precisam de uma maioria de dois terços no Congresso para serem aprovadas, algo que o partido governista Morena está perto de garantir, à medida que os votos das eleições gerais de 2 de junho são contabilizados.

“Devido às características do lítio encontrado em território mexicano, a extração teria que ser feita por meio de mineração a céu aberto”, pontuou Luis Felipe Medina, diretor administrativo da produtora de cobre e zinco Minas San Nicolás, uma joint venture 50/50 entre Teck Resources e Agnico Águia.

“Então eles teriam que fazer uma exceção para permitir a extração de lítio e entraríamos em uma situação em que discriminariam quem pode e quem não pode realizar essa atividade”.

Diante da proposta de Sheinbaum, a indústria de mineração também está preocupada com o ônus da dívida da Pemex, que totaliza cerca de US$ 100 bilhões .

“A Pemex está 100% falida; portanto, é altamente improvável”, declarou o diretor da Associação de Engenheiros de Minas, Metalúrgicos e Geólogos (AIMMGM), Luis Humberto Vázquez, para a BNamericas, durante a recente conferência do grupo sobre os desafios da mineração no México.

Enquanto isso, Rodrigo Sánchez-Mejorada, sócio do escritório de advocacia Sánchez-Mejorada, Velasco y Ribé, acredita que é um erro excluir o setor privado do negócio do lítio.

“Não vejo por que uma Pemex bem administrada não poderia explorar o lítio, mas o governo mexicano não tem um histórico de sucesso como empreendedor”, enfatizou ele.

“Temos o caso do URAMEX [Uranio Mexicano], que foi um fracasso. Tivemos inúmeras empresas de mineração no século passado de propriedade do governo e todas perderam dinheiro”.

Juan Miguel Martínez, outro advogado e sócio do escritório de advocacia Assembla, observou que conceder à empresa estatal de petróleo a responsabilidade de extrair lítio também requereria uma aprovação do Congresso.

“A Pemex só tem a faculdade de explorar, explorar, distribuir e comercializar hidrocarbonetos. É necessária uma reforma para diversificar as suas atividades e poder explorar outras substâncias e minerais”, disse à BNamericas em entrevista.