Polarização vista como possível obstáculo à reforma tributária no Brasil

O governo brasileiro terá grandes desafios para avançar com propostas e reformas devido a um Congresso dividido, com analistas sugerindo que a polarização reduzirá os índices de aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e limitará suas opções.

Uma pesquisa do Ipespe, a pedido da Febraban, mostrou que 40% dos entrevistados consideraram a administração ótima ou boa, enquanto 27% acharam mediana e 28% ruim ou péssima.

Como essa foi a primeira pesquisa do Ipespe neste ano, não há base para comparação, mas os números ainda mostram que Lula dificilmente alcançará os 80% de aprovação que obteve antes de encerrar seu segundo mandato, em 2010.

“Dificilmente veremos no curto ou médio prazo no Brasil e na América Latina líderes políticos com índices de aprovação de 80%, como era mais comum no passado, já que a região está em um cenário econômico mais difícil agora e a sociedade está mais dividida politicamente”, afirmou à BNamericas Silvio Cascione, analista político do grupo de consultoria Eurasia.

“Vejo os índices de aprovação [de Lula] ficando entre 40% e 50%, mas, se a economia piorar e a aprovação do governo cair abaixo desses níveis, será difícil articular o apoio político do Congresso”, acrescentou Cascione.

Arthur Lira (Progressistas-AL), presidente da Câmara, afirmou à Folha de S.Paulo que há tempo para o governo se estabilizar internamente, uma vez que, hoje, o governo ainda não tem uma base consistente no Congresso para aprovar propostas que exigem maioria simples. 

A declaração de Lira foi um lembrete para o governo de que não há apoio suficiente para aprovar a reforma tributária planejada, entre outras. Os deputados do Partido dos Trabalhadores (PT) foram obrigados a ajudar a reeleger Lira em fevereiro, porque o partido não conseguiu reunir outro candidato com apoio suficiente.

Lula também manteve no cargo o ministro das Comunicações, José Juscelino dos Santos Filho, após surgirem denúncias de irregularidades – e apesar da própria presidente do PT, Gleisi Hoffmann, exigir sua renúncia.

Juscelino dos Santos é membro do União Brasil, que Lula busca ter em sua base, e sua saída deterioraria a relação entre partido e governo.

Ainda assim, “apesar de o Congresso estar dividido, nas conversas que temos com os parlamentares, aqueles que não apoiariam de forma alguma as medidas do governo são uma minoria, então isso mostra que há espaço para articulação do governo Lula para aprovar medidas no Congresso”, concluiu Cascione.