Por que a Cosan pode vender sua participação na Vale

O conglomerado brasileiro Cosan pode vender sua participação de 4,9% na Vale, dois anos após surpreender o mercado com seu investimento na maior mineradora do país.

A Bloomberg informou na semana passada que a Cosan, que atua com foco em açúcar e etanol, considerava vender a participação para liberar recursos e reduzir sua dívida, citando fontes não identificadas com conhecimento do tema.

Logo após o relatório, a Cosan emitiu uma declaração para informar ao mercado que não estava planejando tal operação. No entanto, deixou a porta aberta.

“A Companhia avalia constantemente seu portfólio de ativos e segue comprometida com a otimização na alocação de capital, principalmente, em um cenário de altas taxas de juros e ambiente macroeconômico desafiador, tarefa essa intrínseca ao papel de holding que desempenha”, disse a empresa.

Em outubro de 2022, a Cosan anunciou a aquisição de sua participação na Vale e um plano para aumentá-la gradualmente para 6,5%, o que nunca se materializou. Tal participação vale atualmente cerca de R$ 14 bilhões (US$ 2,57 bi).

Dada a familiaridade limitada da Cosan com o setor de mineração, o investimento foi uma surpresa. No entanto, com o tempo, a estratégia por trás do movimento ficou clara.

A Cosan é um dos maiores grupos de energia do Brasil e, por meio da Rumo, tem um importante braço logístico, com grande atuação no setor ferroviário. A Vale também é uma grande operadora ferroviária, com concessões utilizadas para o transporte de suas commodities.

Por meio da Vale, o bilionário fundador da Cosan, Rubens Ometto, planejava expandir a pegada logística. Esse plano, no entanto, enfrentou oposição dentro da Vale.

“A Cosan entrou no capital da Vale em um momento desafiador, quando a economia chinesa, importante impulsionadora dos preços das commodities, começou a enfrentar dificuldades, o que pressionou o preço das ações da Vale e consequentemente impactou os investimentos da Cosan”, comentou à BNamericas o consultor de mineração Pedro Galdi.

O fundador da Cosan também buscou influenciar a tomada de decisões na Vale, uma das maiores produtoras de minério de ferro do mundo.

Durante o processo de seleção do novo CEO da Vale, Ometto tentou convencer outros acionistas a apoiar Luis Henrique Guimarães, ex-presidente-executivo da Cosan, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto que conversaram com a BNamericas sob condição de anonimato.

Essa tentativa falhou e o conselho da Vale nomeou como novo CEO Gustavo Pimenta, que substituiu Eduardo Bartolomeo na terça-feira (1). Pimenta era o vice-presidente de finanças e relações com investidores da empresa.