Por que a Vale não baterá recordes de produção tão cedo

Enquanto a Vale, maior mineradora do Brasil, tenta aumentar a produção de seus principais produtos minério de ferro, pelotas e níquel, a produção anual não atingirá os recordes estabelecidos nos últimos anos.

“Atualmente, em grande parte devido a regras ambientais mais rígidas, está cada vez mais difícil para a empresa manter altos níveis de produção e buscar novos recordes”, disse à BNamericas José Carlos Martins, ex-executivo sênior da Vale e fundador da Neelix Consulting Mining & Metals.

Na terça-feira, a Vale divulgou seus números de produção do primeiro trimestre e confirmou o guidance para 2022 de 320-335 Mt (milhões de toneladas) de minério de ferro, 34-3 8Mt de pelotas de minério de ferro, 175-179 mil t de níquel e 330-355 mil t de cobre.

Embora a orientação de minério de ferro seja maior que a do ano passado, ainda está abaixo dos recordes registrados antes do colapso de duas barragens de rejeitos em 2015 e 2019.

Primeiro, uma barragem da Samarco se rompeu na cidade de Mariana, em Minas Gerais, destruindo dois vilarejos e matando 19 pessoas. A Samarco é uma joint venture 50:50 entre Vale e BHP. A produção de minério de ferro naquele ano atingiu 346 Mt, de níquel 291 mil t, cobre 423,8 mil t e pelotas de minério de ferro 46,2 Mt.

O rompimento da barragem de rejeitos de Brumadinho, também da Vale, em janeiro de 2019 foi o pior desastre de mineração do Brasil, matando 272 pessoas e causando danos ambientais. O desastre ocorreu no momento em que a empresa estava se recuperando.

Antes do colapso, a produção de minério de ferro atingiu 385 Mt, de níquel 244,6 mil t, de cobre 395,5 mil t e pelotas de minério de ferro 55,3 Mt.

Analistas afirmaram que a Vale e outras grandes mineradoras costumavam manter a produção baixa quando conveniente para manter os preços das commodities altos, mas a baixa produção atual está mais relacionada a mudanças estruturais.

“Há áreas onde a Vale produz atualmente, principalmente em Minas Gerais, em que não há mais minério de alta qualidade e isto obriga a empresa a fazer muito beneficiamento do mineral, gerando rejeitos e dificuldade em aumentar os níveis de produção, pois a [agência] reguladora não permite mais as montanhas de rejeitos que existiam no passado”, explicou Martins.