Por que as eleições nos EUA não representam ameaça para o setor mineral da América Latina

Independentemente de quem vença as eleições presidenciais de 5 de Novembro nos EUA, os países mineradores da América Latina continuarão no centro das atenções, à medida que Washington tenta contrabalançar o domínio da China na cadeia de suprimentos global.

Tanto Donald Trump quanto Kamala Harris concordam em aumentar as reservas de minerais críticos do país.

“Ambos os candidatos promovem o onshoreing e têm políticas semelhantes no sentido de trazer minerais críticos, como lítio, cobre, grafite ou terras raras para fortalecer a produção e processamento doméstico de minerais e metais para reduzir a dependência da China”, disse à BNamericas Botir Sharipov, vice-presidente do escritório de crédito e finanças corporativas da Moody's Investors.

Sharipov prevê que qualquer um dos dois governos continuará a empregar tarifas protecionistas, empréstimos ou subsídios por meio de programas, como a Lei de Redução da Inflação (IRA), ou novos acordos intergovernamentais, para impedir produtos chineses ou estrangeiros que utilizam minerais e metais provenientes do país asiático.

A administração Biden-Harris recentemente assinou memorandos de entendimento com países mineradores da América Latina, como Peru e Argentina, para fortalecer a cooperação.

Da mesma forma, os EUA mantêm um intercâmbio técnico e comercial relacionado com minerais com o Brasil no âmbito da IRA e em relação aos produtos de valor agregado do Chile que contêm lítio.

Republicanos e democratas concordam em políticas que garantem um estoque de insumos básicos para a fabricação nacional de tecnologias limpas, além de assegurar a segurança e a defesa nacional.

Enquanto a demanda global por cobre praticamente dobrará na próxima década, em decorrência da transição energética, nos Estados Unidos a procura por minerais como cobre, lítio, níquel e cobalto aumentará 23 vezes até 2035, em relação a 2021, segundo um relatório da S&P Global.

Apesar de Trump ter criticado a IRA e prometido retirar os recursos não gastos da lei climática, ele não a descartou. Na verdade, ele propõe a criação de uma comissão de eficiência governamental para realizar auditorias financeiras, eliminar possíveis fraudes ou pagamentos indevidos e reforçar as bases.

Embora a Sociedade de Mineração, Metalurgia e Exploração exija o retorno de uma gestão mineral nacional centralizada para aumentar a produção e acabar com a dependência das importações, tal medida não representaria um risco para a América Latina, pelo menos no curto prazo,“mesmo que os EUA hoje dependam de fontes estrangeiras para 49 minerais críticos, enquanto em 1995 dependiam apenas de 24 minerais” .

O desenvolvimento de um projeto de mineração nos EUA demora em média 29 anos, sendo apenas superado globalmente pela Zâmbia, segundo a S&P Global.

Além disso, no ano passado os Estados Unidos foram um dos países que menos investiram em exploração, em comparação com outras jurisdições mineradoras da América Latina, Austrália, Canadá e África, indicou a Agência Internacional de Energia (AIE).