Reforma trabalhista colombiana preocupa indústria de software

A reforma trabalhista em debate na Colômbia pode ter um impacto significativo nas contratações da indústria de software e TI, justamente quando há uma demanda por profissionais para impulsionar o crescimento.

“A proposta, como está apresentada, pode ter um impacto negativo no emprego do setor de tecnologia”, disse à BNamericas Ximena Duque, presidente da câmara empresarial Fedesoft.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo centro de pesquisa da entidade, Cenisoft, cerca de 163 empresas precisavam preencher imediatamente 870 vagas para perfis especializados em software e TI.

“O setor de TI enfrenta uma grande escassez de talentos e uma demanda contínua por novos profissionais”, alertou.

Em meados de junho, a segunda reforma trabalhista promovida pelo governo colombiano foi aprovada no primeiro debate na Câmara dos Deputados.

O texto inclui benefícios para os trabalhadores que se traduzem em aumento de custos para o setor empresarial, segundo os críticos.

“A aprovação da reforma, conforme proposta, poderá agravar consideravelmente o desaceleração e a estagnação da criação de empregos neste setor vital para a economia digital do país”, acrescentou Duque.

A indústria colombiana de software tem registado abrandamento e estagnação desde 2022, uma tendência que se intensificou em 2024. Isto está relacionado com o arrefecimento econômico que resultou no crescimento do PIB de apenas 0,6% em 2023. Além disso, a taxa nacional de desemprego foi de 10,2% e a informalidade, de 56,4%.

Embora em 2021 o número de pessoas empregadas no setor de TI e telecomunicações tenha crescido 25,4% em relação ao ano anterior, desde 2022 o crescimento se mantém em torno de 5%.

No primeiro trimestre, a média de empregados foi de 373 mil, inferior aos 400 mil do mesmo período do ano anterior, o que representa uma diminuição de 7% na ocupação, de acordo com dados da Fedesoft baseados na pesquisa domiciliar da agência de estatísticas DANE.

Em abril, porém, o setor registrou 412 mil empregos, de acordo com dados da pesquisa da DANE

“Acreditamos que não devemos nos concentrar apenas nos riscos potenciais de perda de empregos devido à tecnologia. O verdadeiro risco que essa reforma enfrenta é a informalidade laboral”, explicou.

Entre as mudanças que aumentariam os custos trabalhistas estão, por exemplo, a modificação da jornada de trabalho noturno, que se iniciaria às 18h em vez das 21h. Além disso, aumentam os pagamentos por dias de descanso obrigatório de 75% para 100% sobre o salário ordinário e aumenta o valor das indenizações por rescisão de contrato sem justa causa, entre outras modificações.

O debate ocorre, além disso, em um contexto de desaceleração econômica e projeções de lenta recuperação durante 2024.

INDÚSTRIA DIGITAL

O texto em discussão também inclui direitos trabalhistas para trabalhadores de plataformas digitais.

“Valorizamos positivamente o reconhecimento dos avanços tecnológicos e dos novos empregos que surgem desses desenvolvimentos no ambiente de trabalho do país”, disse Duque.

No entanto, ela considerou que “outros setores da indústria digital também vivem novas dinâmicas” que deveriam ser pontos-chaves da reforma laboral, como a informalidade.

“É crucial focar na criação de estratégias que permitam ao nosso setor criar oportunidades para reduzir a lacuna de talentos existente e promover um mercado de trabalho mais dinâmico, produtivo e competitivo a nível nacional e internacional”, concluiu.