Reinício do projeto de mineração Tía María enfrenta novos obstáculos no Peru

As atividades de pré-construção de Tía María, projeto de cobre da Southern Copper há tempos adiado no Peru, seriam retomadas nesta segunda-feira (1º), embora a rejeição à iniciativa persista e o resultado seja incerto, segundo especialistas.

Assim como aconteceu com um anúncio anterior de que as obras começariam no final de 2024, as comunidades da área de influência – Valle del Tambo, na região de Arequipa – foram as últimas a saber da decisão, o que dificulta o diálogo com os grupos que se opõem às atividades extrativas.

“É perigoso. Os projetos não podem ser impostos por anúncios em redes sociais e/ou publicações em jornais, ainda mais aqueles que já tiveram vários protestos e mortes envolvidas”, afirmou Miguel Incháustegui, ex-ministro de Energia e Minas (Minem), em bate-papo com a BNamericas.

Após o vazamento de um documento da Southern Copper, a imprensa local informou que os líderes do Valle del Tambo seguirão com protestos contra o projeto, avaliado em US$ 1,4 bilhão, e exigirão que a presidente Dina Boluarte cumpra sua promessa de não o construir. As informações indicam que não é a primeira vez que a empresa faz esse tipo de anúncio para tentar destravar a iniciativa.

“Espero que estejam trabalhando em algo mais – reuniões com autoridades locais, a proposta de um fundo social, diálogo formal, entre outras iniciativas – para que os protestos não sejam tão grandes e o projeto possa avançar. Com esses documentos [vazados], parece que estamos assistindo ao mesmo filme outra vez”, acrescentou Incháustegui.

Planejada para a província de Islay, em Arequipa, a mina Tía María foi projetada para produzir 120.000 toneladas anuais do metal vermelho e teria uma vida útil de 20 anos. A iniciativa está paralisada há mais de uma década e gerou episódios de grande violência em 2011, 2015 e 2019.

MENSAGEM CONFIRMADA

No sábado, a imprensa local divulgou um documento interno da Southern Copper no qual Óscar Gonzalez Rocha, CEO do Grupo México, controlador da mineradora, anunciava que este mês a empresa retomaria as atividades de pré-construção, desde que contasse com as condições sociais e políticas necessárias para isso. Em maio, o CFO Raúl Jacob relatou que estimavam que a construção começaria entre o final de 2024 e o início de 2025, com o objetivo de iniciar a operação comercial em 2027.

O documento interno foi posteriormente confirmado por Guillermo Vidalón, superintendente de relações públicas da Southern Copper Perú, nas redes sociais. “O anúncio de Tía María, embora tenha sido comunicado internamente aos funcionários, constitui uma notícia relevante para todos, para os moradores de Valle del Tambo que optam pelo emprego em vez de discursos sem base técnica”, disse o executivo via LinkedIn.

O reinício das atividades também foi ratificado por um comunicado enviado ao regulador de valores mobiliários peruano SMV. O documento aponta que os trabalhos seriam retomados nesta segunda-feira.

POLÊMICA

Embora o início da construção ainda esteja previsto para o final de 2024, após a avaliação do estado dos equipamentos e da validade dos estudos de engenharia, os meses seguintes serão fundamentais para determinar a viabilidade do projeto.

Moradores de Valle del Tambo disseram à imprensa que a mensagem os pegou de surpresa. “É um anúncio midiático que já foi feito em ocasiões anteriores e que fortaleceu ainda mais a nossa rejeição”, declarou Julio Cornejo, líder comunitário, a uma estação de rádio de Lima. Sergio Meza, porta-voz dos agricultores do Valle del Tambo, disse ao jornal La República que a empresa sabe que não existe licença social para a iniciativa.

“A divulgação – mesmo que interna – de um documento com essas características e assinado pelo presidente [CEO] é esquisita. As datas mencionadas são muito próximas”, disse à BNamericas José de Echave, ex-vice-ministro de Gestão Ambiental do Ministério do Meio Ambiente e fundador da ONG CooperAcción.