Sanções à Rússia aumentam perspectivas para os principais metais da América Latina
As mineradoras da América Latina continuarão se beneficiando dos altos preços dos metais, já que as respostas globais à invasão da Ucrânia pela Rússia restringem a oferta.
Embora os preços das principais commodities da América Latina, como cobre, alumínio e minério de ferro, devam cair, em parte devido à demanda chinesa mais fraca, os analistas preveem um período prolongado de preços fortes, e alguns deles estão até revisando as estimativas de preços em meio a perspectivas de sanções duradouras do Ocidente contra a Rússia.
A Rússia é um importante fornecedor de metais, entre eles, níquel e cobre, além de petróleo, gás e carvão, insumos energéticos essenciais para o setor de mineração.
“Esperamos que os preços continuem altos por algum tempo, devido ao risco de novas sanções do Ocidente e à interrupção contínua do fornecimento físico”, afirmou a Capital Economics em um comunicado, acrescentando que os estoques da maioria dos metais estão baixos.
“Mas os preços devem começar a baixar se os riscos diminuírem. Afinal, a economia da China desacelerou significativamente.”
Os mercados de metais estão enfrentando um “grande choque de oferta” na economia global causado pela guerra, juntamente com algumas das sanções mais duras já impostas, segundo a consultoria CRU, com sede no Reino Unido.
“Sanções tão duras são praticamente inéditas em uma economia tão grande e que desempenha um papel tão importante no fornecimento de muitas commodities essenciais, e isso significará mais interrupções na cadeia de suprimentos em todo o mundo, em um momento em que o setor industrial global estava, de certa forma, a caminho da normalidade”, avaliou o principal economista da CRU, Alex Tuckett, em um webinar.
DISPARADA DO NÍQUEL
Os preços do níquel subiram acentuadamente após o início da guerra na Ucrânia, de cerca de US$ 10/lb (US$ 22.000/t) no final de 2021 para mais de US$ 20/lb no final de fevereiro, antes de se estabilizar em torno da marca de US$ 15/lb.
A Rússia foi responsável por cerca de 9% da produção global de níquel no ano passado, com 250 mil toneladas, em comparação com 100 mil toneladas produzidas pelo Brasil, líder do mercado latino-americano, de acordo com o US Geological Survey.
Mas o número sobe para mais de 20% na produção russa de níquel classe 1, de qualidade superior, que é exigido pela crescente indústria de veículos elétricos, de acordo com a CRU.
“As exportações russas são fundamentais para o mercado, e poderemos ter mais aumentos de preços se houver uma interrupção”, apontou o analista da CRU, Nikhil Shah.
“Até agora, não vimos nenhum sinal de interrupção. O único desafio hoje é do ponto de vista logístico.”
Mas os preços tendem a cair. “Esperamos que os preços do níquel caiam ao longo de 2022, já que a demanda mais fraca por aço inoxidável do setor de construção da China pesa sobre a demanda por níquel”, concluiu a Capital Economics.
PRESSÃO DO COBRE
Os preços do cobre, que já estavam altos no início do ano, também subiram um pouco em decorrência das preocupações com a oferta após a invasão da Ucrânia pela Rússia, uma alta de cerca de US$ 0,20, para aproximadamente US$ 4,70/lb hoje.
“No momento, vimos um certo prêmio de risco no preço do cobre devido a uma possível interrupção porque, como em muitos mercados de metais básicos, os fundamentos são apertados e os estoques são baixos, por isso, qualquer interrupção causa um movimento ascendente de curto prazo nos preços. Porém, mais adiante veremos uma reorganização nos fluxos de comércio no mercado de cobre, juntamente com alguns dos outros mercados”, explicou Shah, da CRU.
Enquanto a Rússia responde por cerca de 4% da produção de cobre, o principal motor de crescimento dos preços será a oferta dos produtores dominantes da América do Sul, Chile e Peru, de acordo com a Capital Economics.
“Acreditamos que os preços altos incentivarão as mineradoras a resolver problemas [de abastecimento] e devolver o fornecimento ao mercado”, afirma o comunicado.
Mas as sanções terão um papel importante no mercado de cobre.
A S&P Global disse que o cenário de sanções prolongadas elevou sua previsão de preço do cobre para o restante de 2022 em US$ 500, para US$ 10.000/t, e em US$ 800, para US$ 9.500/t no próximo ano, em comparação com as estimativas de base.
ZINCO, ALUMÍNIO E MINÉRIO DE FERRO
Assim como o cobre, a S&P espera que os preços do minério de ferro permaneçam altos em um cenário de sanções duradouras, com estimativas de alta de US$ 10, chegando a US$ 140/t este ano, e de US$ 40, para US$ 130/t em 2023.
O Brasil é o maior produtor de minério de ferro da América Latina e foi o segundo maior do mundo no ano passado, com uma produção de 240 Mt, medida pelo teor de ferro do minério.
A Capital Economics espera que o crescimento econômico mais lento na maioria das regiões comece a pesar sobre a demanda de aço e os preços do minério de ferro, enquanto a atividade de construção mais fraca na China reduzirá os preços do zinco no final de 2022.
“No geral, este ano estamos olhando para um mercado de zinco muito mais apertado, com um déficit de mais de 200 mil toneladas e um preço muito mais alto do que esperávamos há três meses”, acrescentou Shah, da CRU.
O Peru é o segundo maior produtor de zinco do mundo, com México e Bolívia em sexto e sétimo, respectivamente, em 2021.
Em relação ao alumínio, a CRU reduziu sua previsão de crescimento da demanda para 2022 de 4,2% para 2,6%, já que o crescimento econômico mais fraco pesa sobre as vendas de automóveis.
“O setor de alumínio está sentindo de forma mais aguda o impacto das implicações de energia”, disse o analista da CRU, Ross Strachan, no webinar.
A energia é o maior componente de custo na produção de alumínio, e os preços dispararam após a invasão da Ucrânia.
A Capital Economics espera que o mercado de alumínio permaneça próximo do equilíbrio em 2022, com preços de energia mais altos na Europa fazendo com que as fundições reduzam a produção, enquanto os preços mais altos promovem a entrada de nova capacidade em operação na China.
Brasil e Jamaica estão entre os principais produtores de alumina e bauxita da região, usados na produção de alumínio.
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