Sem previsão de fim para o ciclo de aperto monetário no Brasil
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, admitiu sua surpresa com a persistente pressão inflacionária no país e está deixando a porta aberta para novas altas de juros nos próximos meses.
“Tivemos uma surpresa neste último número [da inflação de março]”, disse Campos Neto durante evento online com investidores. “Vamos observar e analisar os fatores que estão gerando essas surpresas inflacionárias e comunicaremos isso em um momento mais apropriado.”
Ele estava comentando alguns dias após a divulgação da inflação de março de 1,62%, resultando em uma inflação anual de 11,30%. O número é mais de três vezes a meta de inflação do Banco Central para este ano, de 3,5%.
“Ainda não estamos vendo todos os efeitos reais dos aumentos da taxa básica nos últimos meses no lado financeiro das empresas”, disse à BNamericas o economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otavio Leal. “Veremos esses efeitos à medida que muitas empresas começarem a rolar suas dívidas e detectaremos o aumento dos custos do serviço da dívida, pois a dívida assumida no ano passado, quando a taxa de juros era de 2%, agora enfrentará uma taxa de dois dígitos.”
Segundo Leal, a tendência aponta para um aumento do capex das empresas mas por motivos negativos, nomeadamente aumento de custos.
Nos últimos meses, o Banco Central embarcou em um ciclo agressivo de aumentos da taxa básica para conter a inflação. Depois de iniciar 2021 em 2%, o menor nível já registrado, a taxa Selic está agora em 11,75%.
As autoridades do Banco Central e a maioria dos analistas esperavam que os aumentos da taxa básica aliviassem a pressão sobre os preços e estavam se preparando para o fim do ciclo de aperto monetário, mas agora estão revisando suas previsões.
A próxima decisão da taxa é em maio e a maioria dos analistas está prevendo que ela subirá para 12,75%.
“Atualmente há economistas esperando uma alta da Selic de até 14%. Ainda não estou revisando minha estimativa de 12,75% até o final do ano, porque acredito que a inflação tende a desacelerar nos próximos meses”, afirmou Leal.
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