Será que a EPM vai conseguir vender sua participação na Tigo-UNE?

A concessionária de serviços públicos colombiana EPM só poderá vender sua participação minoritária na Tigo-UNE, joint venture da qual faz parte com a Millicom, quando superar os conflitos políticos locais que impediram a aprovação do acordo em 2022.

O cenário para que a transação seja aprovada este ano não é muito diferente do que havia em 2022, e as tensões políticas voltaram à tona na primeira audiência para discussão da proposta legislativa.

O prefeito de Medellín, Federico Gutiérrez, foi recebido com insultos pelos grupos sindicais presentes na sessão. Também houve sinais claros de tensão no debate entre os vereadores.

Esta é a quarta vez que a EPM tenta convencer a câmara municipal de Medellín a aprovar a alienação dos seus ativos de telecomunicações, depois de uma tentativa frustrada em 2021 e duas em 2022.

Gutiérrez quer promover a venda e utilizar os recursos obtidos para investir em capacitação, projetos tecnológicos e um novo modelo de resíduos sólidos para a cidade, entre outras áreas. O dinheiro não irá diretamente para o distrito de Medellín, mas será administrado pela EPM.

“O prefeito está pedindo a esta câmara para aprovar sem avaliação e sem ter um conceito externo de quanto vale a nossa participação na UNE. Acredito que, sem uma avaliação atualizada das ações da UNE Telecomunicaciones, é um risco jurídico que a venda seja aprovada”, disse o membro da oposição Juan Carlos Upegui Vanegas, durante a audiência.

Segundo números publicados na imprensa local, a EPM poderá arrecadar cerca de 1,6 bilhão de pesos (US$ 394 milhões) com a venda da sua participação na Tigo-UNE.

Até agora, a estatal preferiu não divulgar estimativas do valor da venda.

A Millicom tem um acordo com a Telefónica através do qual a empresa poderá adquirir a totalidade das ações da empresa espanhola na Coltel por US$ 400 milhões. A Millicom já anunciou interesse em adquirir a participação da EPM na Tigo-UNE “em dinheiro e por um múltiplo de avaliação comparável ao implícito na aquisição da Coltel”.

As duas operações devem atingir um valor aproximado de US$ 1 bilhão.

“Os recursos ficam na EPM, em um fundo, e não viriam para o distrito. Esses recursos também deveriam ir para outro ativo dentro do núcleo de negócios da EPM, gerando não apenas valor social e ambiental, mas também novos modelos de negócios para a EPM”, destacou Gutiérrez.

A EPM alertou que a participação na Tigo-UNE representa um risco de ter de recapitalizar a empresa em um contexto de mercado de concorrência intensa e requisitos de capital elevados a fim de sustentar os negócios.

Em 2023, a companhia corria o risco de precisar de uma capitalização de 600 bilhões de pesos. Por fim, houve um acordo entre os acionistas e a EPM contribuiu com metade dos recursos.

Embora a empresa apresente recuperação nos seus indicadores, ainda existe um risco latente de necessidade de capitalização, apontou a estatal em um comunicado.

Entre 2021 e 2023, as perdas da Tigo-UNE totalizaram 2,1 trilhões de pesos, segundo dados da EPM.