Setor de construção da Argentina não se anima com a redução prevista dos impostos

Um plano de redução de impostos anunciado pelo governo argentino trará pouco alívio para o conturbado setor de construção do país devido à falta de obras, de acordo com o presidente da Câmara de Construção da província de Tucumán (CCT), Jorge Garber.

“Seria difícil entender como a redução de impostos nos ajudaria, porque, no final das contas, se eu declarar renda zero, pagarei zero impostos”, disse Garber à BNamericas, acrescentando que algumas empresas não registram vendas há até nove meses.

O governo pretende cortar 90% dos impostos do país até o final do atual mandato, informou o ministro da Economia, Luis Caputo, na abertura da convenção anual da Câmara de Construção do país (Camarco).

Os cortes são bem-vindos como um estímulo à atividade econômica, mas seu possível impacto é questionável devido à situação difícil do setor de construção e da economia, avaliou Garber.

A decisão do presidente Javier Milei de suspender o financiamento federal para obras públicas exacerbou a crise no setor de construção ao paralisar milhares de projetos.

Essa política provocou a perda de 100.000 empregos diretos, segundo o presidente da Camarco, Gustavo Weiss.

Na convenção, Weiss destacou que o governo tem uma dívida com empreiteiras no valor de 400 bilhões de pesos (US$ 439 milhões), correspondente às obras executadas nos meses anteriores à posse de Milei, que ocorreu em dezembro.

Em conversa com a BNamericas, Garber afirmou que o número pode ser maior, já que os cálculos de Weiss não foram ajustados pela inflação. “Isso é algo com que o governo ainda não quer lidar, creio eu, pois sabe que o valor é alto e, de certa forma, vai exigir uma engenharia especial para entender como resolver.”

Os governadores provinciais têm discutido com a administração de Milei para pelo menos retomar o financiamento de projetos que estão perto de sua conclusão ou que são considerados estratégicos para as províncias. Alguns acordos foram assinados para a retomada de determinadas obras, enquanto outros projetos serão transferidos das mãos federais para as administrações provinciais.

No caso de Tucumán, a CCT e o governo da província têm trabalhado em um sistema de PPP para retomar projetos rodoviários e habitacionais. Eles também aguardam uma decisão da administração federal sobre a possível adoção de uma estrutura de PPPs, disse Garber.