Setor de construção da Argentina pode continuar sofrendo

A indústria de construção argentina pode não ter chegado ainda ao fundo do poço, apesar dos números de abril mostrarem uma melhoria do setor.

“Eu seria um pouco mais cauteloso antes de afirmar que já chegamos ao fundo do poço. Além disso, seria um nível preocupantemente baixo”, disse à BNamericas Federico Zirulnik, economista do centro econômico Scalabrini Ortiz (CESO), de Buenos Aires.

A atividade de construção teve alta de 1,7% em abril em relação a março, o primeiro aumento mensal desde julho de 2023. Ao mesmo tempo, registou queda 37,2% no comparativo anual, ante a queda de 42,2% registada no mês anterior, segundo o gabinete de estatísticas Indec.

O setor, que já vinha sendo afetado pela inflação elevada e pela falta de acesso a financiamento, ficou ainda mais pressionado após a posse do presidente Javier Milei em dezembro devido à sua decisão de suspender o financiamento federal para obras públicas, que deixou cerca de 3.500 projetos paralisados.

Os níveis de atividades de construção atuais só são comparáveis com o ponto baixo da pandemia de Covid-19, quando a economia estava praticamente paralisada, apontou Zirulnik.

Fornecedores como produtores de cimento foram duramente atingidos pela crise da construção, e outros setores, como a indústria florestal, também começam a sentir o impacto da “redução brutal das obras públicas”, disse ele, acrescentando que a província de Misiones é um exemplo dessa tendência.

O principal objetivo de Milei para a área de infraestrutura é reduzir os gastos públicos ao mínimo e deixar a maior parte das decisões – senão todas elas – nas mãos do setor privado. Essa abordagem tem sido amplamente questionada por economistas por não ser suficiente para compensar a falta de investimentos federais.

“Não será suficiente […] porque o investimento público chega a locais que não são lucrativos para o setor privado”, ressaltou Zirulnik.

Os investimentos em escolas e estradas secundárias geram benefícios para os fornecedores e comerciantes locais durante a fase de construção e também quando começam a operar, lembrou ele, questionando os esforços do governo para estimular a atividade do setor privado através de incentivos e cortes de impostos.

“Talvez existam segmentos, como mineração e hidrocarbonetos, que são voltados para a exportação, em que incentivos e reduções fiscais gerem investimentos. Mas, quando se trata de setores focados no mercado interno, independentemente dos incentivos, por que o setor privado expandiria uma unidade de produção se o consumo no país está em colapso?”, questionou.

Os números preliminares do Indec mostram que a atividade econômica caiu 1,4% em termos mensais em março e 8,4% no comparativo anual.

Desesperados para reativar projetos dentro de suas jurisdições, alguns governadores provinciais pressionaram o governo federal para incluir em seu projeto de lei de bases uma proposta que permitiria que eles assumissem as obras paralisadas. O projeto está em debate no Senado.

Zirulnik tem dúvidas a respeito dessa ideia, uma vez que as províncias viram seus rendimentos caírem nos últimos meses devido à redução das receitas fiscais e aos cortes do financiamento federal.