A estratégia da Deerns para a expansão dos datacenters na América Latina
Fundada em 1928 na Holanda, a Deerns é uma empresa multinacional de engenharia e consultoria especializada em design e otimização de edifícios de alto desempenho, com foco em datacenters como um componente-chave de seu portfólio.
A Deerns concluiu mais de 500 projetos de datacenter no mundo todo, variando de iniciativas menores a grandes clusters de dados, e abrangendo mais de 2,5 GW de potência de TI. Entre seus clientes mais notáveis na América Latina estão Equinix e Elea.
A empresa opera 17 escritórios em 10 países, incluindo Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Espanha e Brasil, com mais de 600 especialistas empregados em projetos mecânicos e elétricos (na sigla em inglês, MEP).
Nesta entrevista, Ricardo Fornari, diretor administrativo da Deerns Brasil e responsável pelas operações de expansão da empresa na América Latina, discutiu tendências de mercado e expansão regional. Além disso, o executivo comentou como as operações brasileiras da empresa se tornaram referência em engenharia global de datacenters.
BNamericas: Quais são os planos da Deerns para a América Latina?
Fornari: A Deerns é uma multinacional holandesa. Chegamos ao Brasil há 4 anos, em 2020. De lá para cá crescemos exponencialmente, junto com essa demanda por serviços de engenharia para datacenter.
Recentemente, abrimos uma operação na Colômbia, onde vemos uma oportunidade bem interessante. Já temos um executivo lá, Alberto Pretelt, trabalhando na parte comercial.
Vemos um potencial muito grande para a Colômbia devido a questões como cabos submarinos, conectividade, densidade populacional, incentivos governamentais, e mesmo proximidade a outros mercados relevantes, não apenas os andinos, mas mesmo México e EUA.
Há uma série de fatores que colocam a Colômbia como um próximo potencial hub de datacenters. Há certa instabilidade política, mas que tende a passar. Entendemos que é um mercado interessante para se estabelecer.
Também estamos trabalhando com alguns parceiros dos mercados mexicano e chileno.
BNamericas: De forma direta?
Fornari: Não, através de parceiros. Seguimos analisando o timing certo para também trabalharmos estes mercados de forma direta.
Nós não temos entidade locais nesses países, ao contrário de Brasil e Colômbia. Trabalhamos em alguns projetos, mas sem ter a presença local.
O ideal é termos presença local, o que acreditamos que irá acontecer em breve.
BNamericas: Por que vocês fizeram esse movimento primeiro para a Colômbia?
Fornari: Os mercados chileno e mexicano atualmente já têm mais players, então estamos estudando a melhor forma de entrar nestes mercados, principalmente se a nossa intenção for entrar de mãos dadas com os nossos clientes. Estamos, junto com eles, planejando a forma correta de entrar de uma forma responsável e assertiva.
BNamericas: Vocês trabalham com importantes players do setor no Brasil, também. Como está a operação no país?
Fornari: Fazemos muitos projetos não apenas para o Brasil. Fazemos projetos para a Itália, para a Holanda, aqui do Brasil.
A Deerns Brasil acaba sendo um polo fornecedor de mão de obra qualificada e de entrega de projetos de qualidade para clientes da Deerns na Europa, até pela dificuldade que existe por lá com mão de obra e recursos humanos.
Obviamente, nestes casos trabalhamos em parceria com equipes da Deerns desses outros países, principalmente por conta de requisitos nacionais, normativas locais, toda a parte de licenciamento. Mas todo o conhecimento, toda a inteligência de engenharia e arquitetura, vem da Deerns no Brasil.
BNamericas: Por que o Brasil se tornou essa plataforma para o grupo?
Fornari: Desenvolvemos uma competência e uma equipe muito especializadas para o segmento. E temos um foco muito grande em retenção de recursos humanos e de conhecimento. Temos muito orgulho de ter uma empresa que tem altos índices de retenção: nosso índice de turnover, hoje, está em torno de 5%.
Além do mais, temos na nossa equipe acima de 44% de gênero feminino na força de trabalho e 50% de paridade de gênero para as posições de liderança.
BNamericas: Qual é o tamanho da equipe da Deerns no Brasil?
Fornari: Estamos com 94 pessoas e abrindo 30 posições para o ano que vem.
BNamericas: E 95 pessoas na América Latina, portanto, considerando o executivo na Colômbia.
Fornari: Isso. E também devemos crescer em novas vagas para outros mercados no ano que vem também.
BNamericas: Em quantos projetos vocês estão atuando atualmente e quantos clientes vocês têm na região?
Fornari: Temos uma diversidade muito grande de projetos. Desde muito pequenos, que são estudos de viabilidade, até projetos extremamente grandes, para os quais acompanhamos as obras.
Atuamos desde o diligence, que é o apoio para o cliente tomar a decisão de comprar determinado terreno para construir um datacenter. Não fazemos o site selection em si, mas, uma vez que o terreno já está escolhido, realizamos uma série de estudos. Fazemos estudos topográficos, depois o master plan, verificamos a viabilidade de energia, a análise técnica de licenciamento, se tem área de proteção ambiental etc.
Uma vez completada essa fase, o projeto vai para um dos seus vários estágios. Durante a obra, estamos de mãos dados com o cliente e a construtora, visando garantir que o que foi projetado está sendo implementado e construído. Se há desafios durante a construção, provemos soluções rápidas para que o cronograma não fique em risco.
Eu diria que estamos trabalhando em torno de 20 projetos simultâneos, num volume de 10 a 15 clientes.
Vale dizer que não atuamos apenas em datacenter. Estamos também na área hospitalar, de aeroportos, na área farmacêutica, de semicondutores… Mas nossa especialidade local, na América Latina, é voltada para indústria de datacenter.
BNamericas: Quanto o segmento representa para as operações globais da empresa?
Fornari: Globalmente, datacenter hoje representa aproximadamente 20 a 25%. No Brasil, esta parcela é bem maior.
BNamericas: A parte de licenciamento hoje é uma das mais complexas para uma operação do tipo?
Fornari: Temos uma equipe de permits dedicada exclusivamente a este tema em todas as esferas – municipal, estadual e federal –, o que garante que o processo está andando, dentro do cronograma.
O nosso cliente vê isso com excelentes olhos, porque traz uma segurança, principalmente para aquele que está fora do país – nossos clientes são principalmente dos EUA.
Este processo é moroso por natureza, mas, se bem trabalhado, não é algo que atrapalha ou que inviabiliza o empreendimento. Poderia ser mais ágil? Poderia. Mas se você conhece os processos, conhece os tempos, trabalha os cronogramas atrelados a esses tempos e faz um bom planejamento, uma boa execução, o empreendimento acontece, e é disto que o cliente final precisa.
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