
A indústria mexicana de cimento tem motivos para estar otimista este ano

A indústria cimenteira mexicana conseguiu se manter firme durante a pandemia por ser um produto nacional, segundo Yanina Navarro, presidente da câmara setorial Canacem.
E essa posição sólida deverá se manter em 2022, uma vez que aspectos como a sustentabilidade se tornarão mais relevantes.
A BNamericas conversou com Navarro sobre os desafios da indústria, sustentabilidade e outros temas.
BNamericas: Os preços do cimento estão em níveis recordes. Isso continuará no curto e longo prazo?
Navarro: Na Canacem somos considerados um agente econômico pelo direito concorrencial, então não tratamos nada de preços, nem pedimos informações, nem publicamos informações.
BNamericas: Então, como a câmara pode lidar com o aumento dos preços da energia, a crise na cadeia global de suprimentos e a situação logística, entre outras dificuldades?
Navarro: Posso dizer quais são os custos que compõem o preço de um insumo, mas não posso dizer quanto, como ou onde.
O cimento está passando pela mesma coisa que outros produtos estão passando, então o aumento do custo da energia afeta a nós e a todo o setor industrial. É tudo uma questão de logística. São custos muito transversais.
BNamericas: A Canacem tem perspectiva de crescimento para este ano?
Navarro: Uma tendência [de crescimento] que se mantém especificamente no setor cimenteiro desde 2018 ou 2019 com a mesma inércia.
Em 2020 fomos considerados uma indústria essencial. Isso permitiu que a produção de cimento continuasse durante o ano [com a pandemia], então não houve impacto como em outros setores industriais, porque as fábricas foram mantidas em operação.
BNamericas: Imagino que ainda tiveram algum tipo de impacto pela pandemia. Certo?
Navarro: Não. Reparem que quando fomos todos para casa houve um aumento na venda de sacos [de cimento], então invertemos essa situação. Nos últimos anos, o maior consumo de cimento foi a granel.
O cimento é o que faz o concreto, então havia muito mais demanda por concreto no mercado. Na hora do lockdown, todos começaram a dizer “vamos reformar a casa”. E, com o envio de remessas, as pessoas conseguiram. Fazer esse tipo de arranjo favoreceu muito as vendas, o que permitiu que a produção do ano tivesse o mesmo comportamento de 2019 e 2018.
BNamericas: E como será este ano?
Navarro: Deverá seguir a mesma tendência. Este é o comportamento que ocorreu nos últimos anos. Todas as informações que temos são públicas e derivam principalmente do [órgão de estatísticas] Inegi. Lá você pode observar a produção e o que aconteceu de 2016 até hoje. E verá que a tendência é muito parecida para todos os anos.
Para 2022, há expectativas de que esse comportamento se mantenha.
BNamericas: Qual é a relação da Canacem com o setor de infraestrutura no México?
Navarro: O setor de infraestrutura é muito amplo. É muito básico e muito espaçoso ao mesmo tempo. O setor cimenteiro impacta de maneira direta a 32 ramos da indústria de produção, além de outros 66 de maneira indireta. Assim, o cimento, depois apenas da água, é o que mais se consome enquanto produto em todo o mundo, […] por suas características de resistência.
O resto é, então, a farinha do bolo. O cimento anda de mãos dadas com as questões de infraestrutura.
BNamericas: Qual é o principal motivo da crise que o setor de construção está passando?
Navarro: A construção e a habitação tiveram uma desaceleração, mas enquanto isso a venda de cimento ensacado aumentou, compensando as perdas.
Observa-se que o setor da construção tem um certo freio, mas espera-se que este ano – já conhecendo melhor o comportamento da pandemia e abrindo os mercados em todo o mundo – seja gerada a abertura da logística das cadeias produtivas, de modo que isto vá gradualmente acelerando, tendo uma certa dinâmica apesar da pandemia.
BNamericas: Por que a indústria do cimento ficou mais estável que a siderúrgica, por exemplo, durante a pandemia?
Navarro: O aço é uma commodity, portanto seu preço está sujeito a outras condições. Não é o preço do cimento, que é muito nacional porque para transportá-lo são necessárias condições muito específicas. E é perecível.
Você tem que ter cuidado com o cimento porque ele não pode ficar molhado ou úmido. Precisa de alguns cuidados com seu transporte, por isso tende a ser muito local e tende a ser muito nacional. O concreto é ainda mais delicado porque tem poucas horas de vida.
BNamericas: Quais serão os desafios durante o ano?
Navarro: Sem dúvida, a reativação econômica e o que se espera com as aberturas, vacinas etc., tudo o que isto está gerando para que o mercado volte a abrir.
Outra questão que estamos muito atentos é o meio ambiente. Somos um setor muito comprometido com a questão da sustentabilidade. O trabalho está sendo feito em produtos, em inovação, em tudo que tem uma responsabilidade sustentável, em questões de economia circular.
Estamos perto de lançar um roadmap para todo o setor da empresa. É o exercício que se faz para saber, por exemplo, emissões, o que pode ser feito até 2030 e o compromisso que cada empresa tem, enquanto setor, para atingir essa meta de 2030, em linha com todos os acordos internacionais, tal qual o Acordo de Paris.
BNamericas: Que tipo de produto você está se referindo?
Navarro: O concreto é um dos melhores aliados da sustentabilidade. Ele tem um ciclo de vida muito longo, então você não precisa mudar, reembalar ou reconstruir. Além disso, existe uma metodologia com a qual o CO2 e demais gases de efeito estufa podem ser capturados e injetados no concreto. Esta é a prova de que o concreto é um elemento sustentável.
O concreto é um dos exemplos mais visuais que você pode ter em termos de sistema de sustentabilidade, o que também vem sendo um fenômeno global. Pertencemos à Global Cement and Concrete Association, uma associação formada por todas as empresas de cimento e concreto que direcionam todos os esforços para que todo o setor, ao redor do mundo, possa ter esse impacto no meio ambiente.
BNamericas: Essa tecnologia de captura de CO2 já é aplicada no México?
Navarro: Já está sendo aplicada. Um dos exemplos é o coprocessamento, que possibilita encontrar elementos alternativos que não sejam fósseis e podem te trazer energia no forno. Um dos processos de coprocessamento é aproveitar os pneus que já estão em lixões. Então, em vez de eles ficarem parados, queimando e produzindo esses incêndios muito poluentes com fumaça de metano, você pode pegar os pneus, desfiá-los e usá-los como energia na fornalha. Eles não queimam, não é incineração porque o calor do forno é tão alto que eles são convertidos em energia pura.
Já quanto ao produto, você pode encontrar vários que estão no mercado que possuem características as quais, devido à sua produção, causam menor impacto ao meio ambiente.
BNamericas: Além da sustentabilidade, que outros tipos de metas a câmara possui?
Navarro: A ideia é trabalhar em projetos que possam definir questões legislativas, ou seja, propor determinadas obras e iniciativas.
Por exemplo, a questão ambiental e a distribuição do lixo [em lixões] no México é muito peculiar. Então também precisamos ter uma aproximação com os estados e com os municípios para toda a questão. A recolha do lixo é da competência dos municípios, por isso temos que ter este exercício de aproximação para podermos seguir este caminho – que este ano será muito centrado nas questões ambientais – e gerar esse tipo de sinergia, de modo que se alinhem as disposições, os momentos e tudo o que está acontecendo para que a indústria no México possa se reativar.
BNamericas: Que tipo de legislação está faltando no México?
Navarro: Não falta nada, mas talvez sejam necessários ajustes. Por exemplo, essa questão do ciclo de vida dos materiais é algo que precisa ser complementado em uma lei de obras, que possa ser analisada […] como seriam as bases das licitações se você constrói algo com ciclo de vida maior, uma vez que [os produtos] não precisam de reparo e isto também permite que você use o orçamento para outras obras.
Temos também o complemento para a lei de economia circular, que já saiu do Senado, está na Câmara dos Deputados e esse ciclo poderia ser fechado logo, para termos melhor circulação. É uma lei que vai realmente permitir fazer reaproveitamento, reúso, reciclagem… ou seja, tudo o que a economia circular significa. Isso também resultará em um melhor aproveitamento dos resíduos, uma melhor incorporação ao setor industrial e um aumento no percentual de uso de energias alternativas.
No momento temos um limite de uso de combustível alternativo, então vamos buscar aumentar esse limite.
BNamericas: A sustentabilidade é o principal objetivo da Canacem?
Navarro: Este ano sim. Agora que tudo vai para a questão sustentável, acreditamos que será uma das questões relevantes em nosso trabalho.
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