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‘A infraestrutura existente para dar conta do aumento das exportações ainda é precária’

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‘A infraestrutura existente para dar conta do aumento das exportações ainda é precária’

A Vast Infraestrutura está desenvolvendo novos projetos no complexo do Porto do Açu, no estado do Rio de Janeiro.

Um deles prevê a instalação de um terminal de combustíveis líquidos, com operação prevista para 2025. 

O outro empreendimento, que ainda depende de um contrato-âncora para sair do papel, envolve tancagem de petróleo bruto. 

Em entrevista à BNamericas, o CEO da Vast, Victor Bomfim, alertou que o Brasil sofre de um gargalo de infraestrutura para dar conta do aumento de suas exportações da commodity.

BNamericas: Poderia dar um panorama das atividades e principais contratos da Vast hoje?

Bomfim: Atuamos na logística necessária para movimentação e exportação de óleo cru. Temos o maior terminal privado para movimentar petróleo do país, com capacidade licenciada de 1.2 MMb/d [milhões de barris  por dia] de movimentação. É o único terminal com capacidade para acomodar os VLCCs [very large crude carriers] no país. 

Somos responsáveis por mais de 50% de todo óleo exportado via terminais no Brasil. Se considerarmos toda exportação de petróleo nacional [incluindo operações ship-to-ship (STS) underway], somos responsáveis por cerca de 40% de toda exportação. A Petrobras responde por cerca de 40% [via seus próprios terminais], e 20% são feitas offshore, 10% na Bacia de Santos e 10% na costa uruguaia, por questões regulatórias.

Temos contratos assinados com mais de 10 empresas, entre elas a Shell, a própria Petrobras, BW, Galp, Prio, TotalEnergies, Equinor, Petronas, CNOOC e a Petrochina 

BNamericas: Você prevê crescimento das operações de exportação e movimentação em 2024?

Bomfim: A produção brasileira tem crescido num ritmo sustentável e robusto nos últimos anos, e a capacidade de refino brasileira é limitada. Então todo esse aumento teve que ser exportado. 

Os terminais da Petrobras foram construídos no século passado, quando o Brasil não era autossuficiente em petróleo e tinha que importar. Hoje, estão em sua total capacidade. Então é normal que essa produção adicional vá para um terminal que tenha disponibilidade. Por isso, temos crescido cerca de 30% ano a ano, e nossa perspectiva é manter um forte crescimento pelos próximos dez anos.

BNamericas: Quais são as diferenças entre as operações de transbordo feitas pela Vast e em relação ao STS underway, em que os navios estão em movimento no mar?

Bomfim: No caso do STS, que é feito em Santos ou no Uruguai, é mais difícil conter um eventual vazamento de petróleo. E nossas operações têm uma pegada de carbono três vezes menor que o STS underway, o qual envolve um navio navegando e, portanto, emitindo gases.

 Além disso, utilizamos rebocadores que atuam no nosso porto e que, quando atracados, são alimentados por energia elétrica. 

BNamericas: Em 2023, a Vast assumiu a liderança no mercado de exportação de petróleo bruto, com 8,89 MMt embarcados no T-Oil. Ela também ficou em segundo lugar em movimentação de petróleo bruto. Qual é a diferença entre essas duas atividades?

Bomfim: A Petrobras direciona parte de sua produção para suas refinarias, então ela movimentou mais que a gente.

O Brasil exporta, hoje, cerca de 1,8 MMb/d, e a expectativa é que exporte mais de 3 MMb/d depois de 2030. O problema é que, já hoje, não há tancagem para otimizar as operações de exportação. Não há um buffer, um estoque, de modo que as operações têm que ser just in time. Isso está gerando uma demanda muito grande por navios aliviadores, os chamados DPST [dynamic position shuttle tankers], e faltam navios no mercado.

BNamericas: É por isso que a Vast está planejando construir uma infraestrutura de tancagem no Porto do Açu?

Bomfim: Sim. Isso é absolutamente fundamental para as empresas privadas, que, hoje, já estão exportando, juntas, mais que a própria Petrobras, e não têm acesso a estocagem. A Petrobras tem a infraestrutura dela.

[Nota da BNamericas: Chamado de “Spot”, o projeto prevê a construção de até 12 tanques com capacidade total de 5,7 MMb de petróleo.] 

BNamericas: Em que fase está o projeto?

Bomfim: Já está licenciado e com a engenharia pronta, mas estamos em uma batalha para convencer as petroleiras para viabilizar o terminal.

A PPSA [Pré-Sal Petróleo SA] tem deixado claro que pode chegar a produzir algo na ordem de 500 mil b/d. E quase que inevitavelmente esse petróleo será exportado, como hoje já está sendo. Então ela também vai sofrer de forma intensa com essa falta de tancagem e navios aliviadores.

[Nota da BNamericas: A PPSA representa os interesses do governo nos contratos de partilha de produção, que envolvem, basicamente, campos do pré-sal, os maiores do país]

BNamericas: A ideia seria investir em conjunto neste projeto?

Bomfim: Para investirmos em tancagem, precisamos ter a garantia de que vão usar.

BNamericas: Qual o retorno que a Vast tem das petroleiras hoje?

Bomfim: Elas dizem que seria importante, que a gente conversasse… mas a temperatura está aumentando. O que realmente buscamos é maior determinação por parte delas para esse problema crítico a fim de viabilizar uma solução estruturante. A PPSA percebe isso como algo crítico. A infraestrutura existente para dar conta do aumento das exportações ainda é precária. O país precisa investir mais para viabilizar isso.

Temos memorandos de entendimento assinados com a Petronas, Galp, Petrochina e CNOOC para esee projeto.

BNamericas: A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) prevê que o Brasil atingirá seu pico de produção em 2029. Além disso, a Petrobras prevê ampliar sua capacidade de refino no país. Isso não afeta os planos da Vast?

Bomfim: Trabalhamos com projeção de crescimento das exportações até, seguramente, o início da década de 2030. Mesmo que o refino cresça, com o Trem 2 [segundo trem de refino, cuja construção está em contratação pela Petrobras] da RNEST, por exemplo, o percentual é pequeno em relação ao aumento da produção. Sobre o declínio de produção, algumas pessoas do mercado avaliam que as projeções de queda se dá mais por falta de visibilidade do que eventual declínio de fato.

BNamericas: A Vast também está desenvolvendo um projeto de instalação de um terminal de líquidos. Poderia falar sobre ele?

Bomfim: Nesse caso, já temos um contrato estruturante com a Vibra Energia, envolvendo óleo base para lubrificantes. Iniciaremos a construção no segundo semestre. Além dos derivados de combustíveis fósseis, estamos focando em líquidos da transição energética, como amônia, metanol verde, biocomponentes para combustíveis marítimos, biodiesel, etanol etc.

[Nota da BNamericas: O contrato com a Vibra tem duração de 20 anos, e o início de operações do terminal está previsto para o final de 2025.]

BNamericas: Olhando para o futuro, que empreendimentos estão em estudo?

Bomfim: Queremos fazer do Açu um one stop shop. Hoje estamos focados nesses dois projetos, que são estruturantes e ainda vão demandar um crescimento enorme da empresa pelo menos nos próximos cinco a sete anos.

A Margem Equatorial vai demandar operações para exportar? Se isso acontecer, claro que vamos querer nos posicionar lá também. Mas o que consome nossa energia está aqui no Açu, no momento.

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