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A oportunidade para Sheinbaum reviver o setor elétrico mexicano

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A oportunidade para Sheinbaum reviver o setor elétrico mexicano

Dados os enormes apagões de maio – uma consequência do grave subinvestimento e hostilidade do governo do presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador (AMLO) com as empresas do setor privado – a presidente eleita do México, Claudia Sheinbaum, terá de tomar medidas urgentes para atrair investimentos na produção e na transmissão.

Estes investimentos são cruciais para a promessa de Sheinbaum de prosperidade econômica baseada no nearshoring. Ela assumirá o cargo em 1º de outubro.

Para discutir o estado do setor, a BNamericas conversou com Verónica Irastorza, ex-subsecretária de Planejamento e Transição Energética e agora diretora sênior da FTI Consulting.

Nesta entrevista por email, Irastorza aborda questões-chave como a demanda por energia, requisitos para investimentos e medidas específicas para incentivar empresas privadas e fundos de pensões a investirem em projetos energéticos críticos.

BNamericas: Com que urgência o México precisa de investimento em seu setor elétrico?

Irastorza: O sistema eléctrio mexicano exige um crescimento significativo, tanto na produção, quanto nas redes para garantir um fornecimento de eletricidade confiável, sustentável e acessível.

Durante 2023, e principalmente durante os meses de verão, o Cenace [operador da rede] reportou vários estados de alerta devido à elevada demanda por energia, resultando em apagões em várias regiões. Em 2024, o problema se intensificou. Em maio, pelo menos 11 estados sofreram apagões devido às altas temperaturas.

As projeções oficiais estimam um crescimento anual da demanda por energia de 2,4% durante os próximos 15 anos. A previsão pode ser conservadora, já que o crescimento em 2023 e 2022 foi próximo de 3,5%.

A capacidade de produção deverá crescer pelo menos 25 GW nos próximos cinco anos, um aumento de mais de 25% da capacidade atual, com investimento de aproximadamente US$ 25 bilhões.

A CFE [estatal de energia] está em processo de adicionar 7 GW de ciclo combinado, consumindo gás natural dos EUA, e 1,5 GW de usinas solares, mas são necessários 16 GW de energia, em sua maior parte renovável, e é aqui que se deve procurar espaço para investimento. As usinas levam no mínimo quatro anos para operar a partir do momento em que são decididas, então o tempo é curto.

BNamericas: E quanto investimento em transmissão é necessário?

Irastorza: A rede de transmissão requer um grande crescimento. De 2015 a 2023, cresceu menos de 1% ao ano. Os investimentos oficiais projetados para a expansão das redes de transmissão e distribuição podem ser insuficientes. O Ministério da Energia estima investimentos de US$ 387 milhões por ano em redes de transmissão e distribuição, mas este valor representa apenas um quarto dos valores estimados por outras entidades, como a Câmara de Comércio Internacional.

A transmissão e distribuição de eletricidade permanecem sob a jurisdição do Estado mexicano. A CFE é responsável pela infraestrutura de transmissão e distribuição. No entanto, a próxima administração poderá abrir portas para empresas privadas investirem na geração de energia. Isso aliviaria a pressão sobre os investimentos em expansão da rede da CFE.

Ao transferir uma maior parte dos encargos financeiros para a iniciativa privada no segmento de produção – mantendo, ao mesmo tempo, o controle do Cenace sobre a rede nacional –, a CFE poderia concentrar os seus esforços nas redes de transmissão e distribuição. Atualmente, a CFE tem utilizado as receitas de transmissão para financiar projetos de geração.

BNamericas: Como os fundos de pensão mexicanos podem financiar os investimentos necessários?

Irastorza: Podemos pensar em fontes alternativas de financiamento para projetos de transmissão, a fim de fornecer energia de forma confiável onde ela é necessária.

AMLO realizou importantes reformas no sistema previdenciário, com um aumento no percentual de contribuições para as contas de aposentadoria dos trabalhadores de 6,5% para 15% do salário base. Parte destes recursos poderia ser investida para permitir o crescimento da poupança e, ao mesmo tempo, financiar o desenvolvimento de infraestrutura, como a rede de transmissão. Isso complementaria os investimentos da CFE para fortalecer a rede elétrica do país.

BNamericas: O que a administração Sheinbaum pode fazer para atrair investimentos privados no setor?

Irastorza: A administração Sheinbaum precisa estabelecer regras claras e sinalizar um tratamento equitativo.

Isto implica igualdade de acesso à rede, tratamento objetivo por parte dos reguladores e sua profissionalização. As parcerias público-privadas podem cofinanciar projetos de infraestrutura crítica, permitindo que ambas as partes partilhem os riscos e as recompensas da construção de um setor energético moderno. Estes processos devem ser feitos com transparência e utilizando mecanismos de mercado para garantir o menor preço para a população mexicana.

O Estado de Direito é fundamental. Regras claras e respeito pelo Estado de Direito, juntamente com os acordos que delas decorrem, reduzirão o custo para o país e aumentarão o interesse dos investidores no México. Sempre que necessário, deverão ser desenvolvidas disposições transitórias e os direitos e obrigações existentes deverão ser protegidos via acordos mútuos entre o governo e os participantes privados.

BNamericas: Como o México pode melhorar o processo de licenciamento?

Irastorza: Outra medida crucial é a redução da burocracia. A luz solar abundante e ventos fortes fazem do México um excelente candidato para o desenvolvimento de energias renováveis, mas este potencial pode ser prejudicado pelo processo de licenciamento.

Os investidores precisam de processos de licenciamento claros e eficientes para evitar atrasos nos projetos e custos excessivos. Os governos podem agilizar as aprovações para reduzir obstáculos burocráticos e acelerar os prazos dos projetos, sempre com igualdade de tratamento. Em 2023, foram apenas nove licenças emitidas, o equivalente a 10% do total das emitidas em 2018.

A administração Sheinbaum tem a oportunidade de desmanchar o nó e facilitar um ambiente mais favorável aos investidores, o que beneficiaria o México.

BNamericas: Que medidas você espera do novo governo para descarbonizar o setor?

Irastorza: Em sua campanha, Sheinbaum prometeu aumentar a produção de energia renovável em até 50% até 2030. Vale ressaltar que as energias limpas também podem se tornar aliadas dos seus objetivos de soberania energética, reduzindo nossa dependência de combustíveis fósseis para geração de eletricidade, a maioria dos quais importamos. No caso do gás natural, cerca de 75% do total consumido no México é importado.

É um pouco cedo para pensar em medidas específicas. No entanto, Sheinbaum demonstrou interesse no nearshoring, o que exigirá a implantação massiva de energias renováveis no México. Muitas empresas estão assumindo compromissos ambientais ambiciosos, os quais incluem a compra maior ou exclusiva de energia renovável.

As áreas de oportunidade que o sistema nacional de energia elétrica oferece podem representar o principal desafio do México para capitalizar o nearshoring, mas uma oportunidade para a administração Sheinbaum impulsionar a implantação de energias renováveis.

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