“A pauta ESG é primordial para a empresa” – Eletrobras Furnas

A brasileira Eletrobras Furnas realizará, no dia 17 de fevereiro, sua segunda licitação de certificados de energia renovável, destinada a empresas que desejam comprovar a origem renovável da energia utilizada em suas atividades.

Os certificados possibilitam o rastreamento da energia consumida, permitindo que os compradores cumpram suas metas de sustentabilidade, compensando as emissões indiretas de gases do efeito estufa, que estão relacionadas ao consumo de energia (escopo 2 do Programa Brasileiro GHG Protocol).

Três tipos de produtos serão oferecidos, todos com uma data base de geração de 2021 associada às usinas hidrelétricas da estatal: o Padrão I-REC para o trader e o beneficiário final e o RECFY para o beneficiário final.

A chefe de estudos de mercado e inovação de Furnas, Fabiana Cristina Teixeira, conversou com a BNamericas sobre as perspectivas para os certificados de energia renovável no país.

BNamericas: Por que Furnas decidiu começar a leiloar certificados de energia renovável em fevereiro de 2021?

Teixeira: Como Furnas é uma empresa pública, embora o mercado de certificados de energia renovável seja bilateral, quisemos dar maior transparência e isonomia ao processo, inclusive para conseguir o melhor preço para Furnas.

Antes do leilão, a comercialização dos certificados era muito limitada. Como o mercado é muito sigiloso, não conseguíamos descobrir preços e parâmetros de referência. Tínhamos até receio de vender por um preço que depois pudesse ser questionado pelo TCU [Tribunal de Contas da União], por exemplo.

BNamericas: Como você avalia o resultado do primeiro leilão e quais são as expectativas em relação ao segundo?

Teixeira: O primeiro foi muito bem-sucedido pois conseguimos fazer negociações tanto para o beneficiário final quanto para o trader, que revende o certificado ao beneficiário final.

O leilão também funcionou como marketing. Depois dele, ampliamos nossas negociações, atraindo clientes que não vinham até nós e promovendo novas vendas diretas. Estamos recebendo cadastros de empresas que nunca pensamos que comprariam. A expectativa para o próximo leilão é a melhor possível.

BNamericas: Qual é o perfil dos compradores dos certificados?

Teixeira: Empresas eletrointensivas, sobretudo aquelas listadas na bolsa, por questões de compensação de emissões de poluentes, além de bancos, por razões de marketing. O mercado de certificados de energia renovável é voluntário.

BNamericas: Você observa algum movimento das autoridades brasileiras para tornar isso obrigatório?

Teixeira: Nossa matriz energética é uma das mais limpas e renováveis do mundo, por isso ainda não é obrigatório. Mas o que temos visto é que esse mercado tem crescido exponencialmente no Brasil, ainda que de forma voluntária. Então, tanto o Instituto Totum [emissor de RECs no país] quanto nós esperamos que ele cresça ainda mais nos próximos anos.

BNamericas: Quantas usinas de Furnas emitem os certificados atualmente? Há planos de expansão dessas bases?

Teixeira: Para emitir I-RECs, certificamos duas hidrelétricas e um complexo eólico. A possibilidade que temos de emitir certificados nesta plataforma é maior que toda a demanda por certificados no país. Cada um deles equivale a 1 MWh. Então não há necessidade, hoje, de colocar novas usinas na plataforma, até porque há um custo para isso.

Também temos o RECFY. Ele foi desenvolvido internamente pela nossa equipe de TI e minhas áreas de inteligência de mercado, com tecnologia blockchain e certificado pelo Bureau Veritas. O RECFY é uma alternativa para empresas que buscam neutralizar emissões de escopo 2 sem estarem atreladas ao euro, que é a referência do I-REC. É um produto 100% nacional. Neste caso, temos uma usina de testes emitindo o certificado.

BNamericas: A empresa tem em vista alguma iniciativa semelhante associada à pauta ESG e ao processo de transição energética?

Teixeira: Estamos estudando outras ações, como créditos de carbono e green bonds. Estamos de olho nisso porque buscamos sempre a inovação e a sustentabilidade. A pauta ESG é primordial para a empresa.