Brasil , Chile e México
Perguntas e Respostas

A resiliência do aço: a resposta da América Latina ao excesso de capacidade global

Bnamericas
A resiliência do aço: a resposta da América Latina ao excesso de capacidade global

Na América Latina, Chile, Brasil e México instituíram a cobrança de tarifas às importações de aço chinês para proteger suas indústrias do impacto de produtos com preços abaixo do mercado.

A China, de longe o maior produtor de aço do mundo, aumentou sua participação na produção mundial de 15% em 2000 para 54% em 2023, representando um crescimento de 693%, enquanto a América Latina conseguiu elevar a produção em apenas 4%.

No início desta década, o país asiático exportava cerca de 80.500 t/ano de aço para a região, mas esse número disparou para aproximadamente 10 Mt/ano (milhões de toneladas por ano), segundo dados da associação latino-americana de siderurgia Alacero. 

Os produtores da região tiveram de adotar medidas como a suspensão de operações e o fechamento de fábricas devido à queda nas vendas e às dificuldades financeiras causadas pelas supostas práticas de dumping da China, entre outros motivos.

A BNamericas conversou com Thais Terzian, principal analista de siderurgia da consultoria CRU Chile, para analisar a situação atual da indústria siderúrgica da região, as tendências do mercado e os avanços em direção ao aço verde.

BNamericas: Como as importações de aço da China a preços abaixo do mercado afetaram a indústria latino-americana?

Terzian: Os mercados da região geralmente adotam o preço de paridade de importação como base para a formação dos preços locais. Com a disponibilidade de aço importado a preços baixos, houve uma pressão descendente sobre os preços regionais, que teve início na metade de 2022, quando os preços de exportação da China começaram a cair.

BNamericas: Qual é a situação da produção siderúrgica latino-americana em relação ao mercado internacional?

Terzian: A região produziu aproximadamente 58 Mt de aço bruto em 2023, incluindo o México, o que representa apenas 3% da produção global. O principal desafio da indústria nos tempos atuais está relacionado ao baixo crescimento da demanda local, que tem sofrido com as altas taxas de juros, o baixo nível de investimento e o crescimento reduzido do PIB e da produção industrial em geral nos últimos dois anos. Ao mesmo tempo, chegaram mais importações, exercendo ainda mais pressão sobre mercados já em contração.

BNamericas: Quais seriam os efeitos do excesso de capacidade de aço no mundo sobre os preços? E quais soluções comerciais estão sendo adotadas na América Latina para garantir a sustentabilidade da indústria local?

Terzian: Um desequilíbrio entre oferta e demanda tende a provocar queda de preços e cortes de produção entre os produtores que têm custos acima dos preços. Esses cortes de produção ocorreram em vários mercados globais, inclusive na América Latina e na China.

Nos últimos meses e anos, também temos visto um aumento nas barreiras comerciais, como medidas antidumping, impostos de importação e outras iniciativas, para conter práticas comerciais consideradas injustas. No México, foram implementadas tarifas de importação; o Brasil adotou um regime de cotas e aumentou as tarifas de importação para alguns produtos; e o Chile impôs tarifas antidumping sobre alguns produtos chineses.

Ao mesmo tempo, a indústria precisa melhorar sua competitividade em termos de custos e modernizar seu parque produtivo para que, em períodos de baixa na demanda e nos preços, esteja protegida da concorrência externa.

BNamericas: Depois das quedas do ano passado, quais são suas projeções para o preço do aço?

Terzian: Esperamos que os preços do aço continuem em tendência de queda este ano, mas também acreditamos que os preços das principais matérias-primas, como minério de ferro, carvão e sucata, vão diminuir, por isso não esperamos queda nas margens.

A demanda fraca, principalmente por parte do setor de construção, continuará limitando os volumes de consumo de aço em nível mundial. Enquanto isso, as tensões geopolíticas acrescentam riscos aos níveis de demanda e podem aumentar os custos de produção se for necessário alterar as rotas de transporte de matérias-primas.

BNamericas: A Índia planeja triplicar sua capacidade de produção de aço até 2047. Que consequências isso teria para a indústria siderúrgica latino-americana?

Terzian: A expansão da indústria na Índia está focada no crescimento do mercado interno. Contudo, esperamos que a Índia aumente suas exportações de aços planos, principalmente para outros países emergentes da Ásia. Não esperamos que essas exportações cheguem à América Latina em volume significativo devido a questões de margem. Diferentemente de vários produtores da China, os produtores indianos são empresas privadas que buscam maximizar suas receitas e margens. Concentradas nas exportações para os países vizinhos, essas empresas alcançariam esse objetivo, enquanto as exportações para a América Latina seriam mais caras, principalmente na questão do transporte. 

BNamericas: São esperadas mudanças nas exportações de aço da América Latina?

Terzian: Na América do Sul, a maior parte das exportações de aço acabado fica na região, mas também há exportações para os Estados Unidos e a Europa. Em 2023, mais de 55% das remessas do Brasil para o exterior foram para outros países latino-americanos, enquanto 19% foram enviadas para a Europa e 16% para os EUA.

Em outros países, as exportações dentro da América Latina foram ainda maiores: mais de 60% dos embarques da Argentina, mais de 90% da Colômbia e 99% do Chile permaneceram na região.

O México está mais focado no mercado dos EUA, com quase 75% das suas exportações para o país vizinho.

BNamericas: Quais são os desafios para os produtores de aço no contexto da transição global para a descarbonização?

Terzian: A descarbonização da indústria exigirá esforços de toda a cadeia de abastecimento, com mudanças nas exigências em termos de matérias-primas, energia, tecnologia e outros aspectos. Coordenar vários atores para que estejam prontos ao mesmo tempo é um dos grandes desafios, além da escala de investimentos que serão necessários para possibilitar a descarbonização.

Na América Latina, não há uma tendência única. Embora existam países que têm impostos verdes, como o Chile, a maioria ainda não definiu uma política de descarbonização, o que deixa a definição no nível das empresas. Algumas companhias já anunciaram metas de redução de emissões, e há uma grande variação nos níveis de emissões, que se relacionam com o tipo de tecnologia usada na produção de aço. Mas, em geral, as siderúrgicas da região estão entre o primeiro e o segundo quartil de emissões, ou seja, com emissões inferiores à metade das usinas cobertas pela ferramenta Emissions Analysis Tool, da CRU.

BNamericas: Qual é a prioridade tecnológica no avanço para operações verdes?

Terzian: A tendência global indica que a indústria migrará da produção integrada de aço, que utiliza carvão e altos-fornos na rota de produção, para um maior uso de fornos elétricos a arco [EAF], alimentados com ferro reduzido direto e briquetes de ferro quente, produzidos com hidrogênio verde. Seria necessário acelerar os investimentos na cadeia produtiva do hidrogênio da região e converter parte dos altos-fornos e fornos básicos de oxigênio para EAF.

Na região, temos minério de ferro e energias renováveis, o que nos deixa em uma posição competitiva interessante em comparação com outras regiões.

BNamericas: A indústria siderúrgica latino-americana ainda é um mercado competitivo e interessante para os investidores?

Terzian: A indústria siderúrgica da região tem um perfil bastante local, com empresas nacionais dominando os mercados de cada país, com exceção da ArcelorMittal, que está em vários países da América Latina e aumentou sua exposição no Brasil e no México com novas aquisições e. investimentos.

A região tem um elevado potencial de crescimento diante da demanda de aço, e é rica em recursos naturais e energias renováveis, o que pode atrair investidores.

Tenha acesso à plataforma de inteligência de negócios mais confiável da América Latina com ferramentas pensadas para fornecedores, contratistas, operadores, e para os setores governo, jurídico e financeiro.

Assine a plataforma de inteligência de negócios mais confiável da América Latina.

Outros projetos em: Mineração e Metais (Brasil)

Tenha informações cruciais sobre milhares de Mineração e Metais projetos na América Latina: em que etapas estão, capex, empresas relacionadas, contatos e mais.

  • Projeto: Jambreiro
  • Estágio atual: Borrado
  • Atualizado: 2 meses atrás
  • Projeto: Juremal
  • Estágio atual: Borrado
  • Atualizado: 2 meses atrás
  • Projeto: Custódia
  • Estágio atual: Borrado
  • Atualizado: 2 meses atrás
  • Projeto: Buriturama
  • Estágio atual: Borrado
  • Atualizado: 2 meses atrás
  • Projeto: Aripuanã
  • Estágio atual: Borrado
  • Atualizado: 2 meses atrás
  • Projeto: Lima
  • Estágio atual: Borrado
  • Atualizado: 3 meses atrás
  • Projeto: Capela
  • Estágio atual: Borrado
  • Atualizado: 3 meses atrás

Outras companhias em: Mineração e Metais (Brasil)

Tenha informações cruciais sobre milhares de Mineração e Metais companhias na América Latina: seus projetos, contatos, acionistas, notícias relacionadas e muito mais.

  • Companhia: Grupo Novonor  (Novonor)
  • A Novonor, anteriormente conhecida como Odebrecht, é uma holding brasileira com operações em 14 países, entre eles Argentina, Brasil, Colômbia, Equador, México, Panamá, Peru, Re...
  • Companhia: WEG Equipamentos Eletricos S.A.  (WEG Brasil)
  • A descrição incluída neste perfil foi retirada diretamente de fonte oficial e não foi modificada ou editada pelos pesquisadores do BNamericas. No entanto, pode ter sido traduzid...
  • Companhia: J&F Mineração Ltda.  (J&F Mineração)
  • A descrição contida neste perfil foi extraída diretamente de uma fonte oficial e não foi editada ou modificada pelos pesquisadores da BNamericas, mas pode ter sido traduzida aut...