Aguçando o apetite local por hidrogênio verde e seus derivados
O potencial da América Latina como produtora de hidrogênio verde e derivados é inquestionável, já que a região conta com recursos de energia renovável abundantes e os países estão trabalhando em estratégias e roteiros para ajudar o incipiente setor a decolar.
Vários projetos visando compradores domésticos e o mercado de exportação foram anunciados. O Chile, pioneiro da região, tem um projeto-piloto em operação e uma segunda iniciativa que deve entrar na fase de licitação este ano. O grande desafio, porém, está do lado da demanda.
Para discutir desafios e tendências, a BNamericas conduziu uma entrevista por e-mail com Francisca Salas, da New Energy Events, organizadora da conferência regional da indústria de hidrogênio H2LAC.
Salas é diretora do programa de hidrogênio e descarbonização da empresa norte-americana, que realizará o H2LAC 2023 no Rio de Janeiro de 13 a 15 de junho.
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BNamericas: Como você avalia o progresso do hidrogênio verde na América Latina desde o H2LAC 2022?
Salas: À medida que o mundo se volta para a energia sustentável, mais países estão explorando o potencial do hidrogênio como fonte de energia limpa. Recentemente, Trinidad e Tobago lançou sua estratégia de hidrogênio, abrindo novas oportunidades não só para o próprio país, mas também para outras ilhas do Caribe.
Guillermo Lasso, presidente do Equador, também anunciou um grupo de trabalho para criar uma estratégia de hidrogênio para o país. No Brasil, a produção de hidrogênio verde já começou no Ceará, com planos de expansão para outros projetos até o final deste ano.
O setor privado do Brasil está mostrando bastante atividade, com anúncios de MoUs não apenas em áreas conhecidas como o Ceará, mas também em outros estados, como Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Sul. Da mesma forma, a Colômbia, liderada pela Ecopetrol, e o Chile, com o apoio da Corfo, agência de desenvolvimento estatal, estão pressionando para estimular a demanda local e avançar em suas próprias estratégias de hidrogênio.
A confiança do investidor na Colômbia continua forte, apesar das possíveis mudanças nas regulamentações do hidrogênio pelo governo. O Chile exportou seu primeiro lote de e-fuel [combustível sintético], feito de hidrogênio verde e CO2 capturado, para o Reino Unido em março.
BNamericas: Quais são alguns dos principais obstáculos para a continuidade do progresso?
Salas: O lado da demanda é o grande obstáculo. E essa é uma questão global, não só regional. Muitas indústrias que deveriam estar em transição para o H2 não estão encontrando incentivos para fazer isso. Por outro lado, as indústrias que estão explorando opções muitas vezes adotam uma abordagem cautelosa, avançando sem a urgência necessária
BNamericas: Este deve ser o tipo de informação que os potenciais investidores estão procurando, não é?
Salas: Os investidores precisam perceber que o mundo inteiro está avançando rápido em direção ao hidrogênio como uma opção viável para descarbonizar as indústrias. Os investidores que esperarem muito para agir podem perder ganhos potenciais, enquanto aqueles que agem rápido e ajudam a definir as regras podem se posicionar para o sucesso.
BNamericas: Existem tendências bem estabelecidas na América Latina, por exemplo, nos tipos de projetos (amônia verde, e-fuels, etc.) que estão avançando?
Salas: Como você mencionou, a amônia verde está ganhando força como transportadora de hidrogênio devido à sua facilidade de transporte e custo mais baixo. Além disso, pode ser usada diretamente como fertilizante, tornando-se uma opção versátil. A infraestrutura existente para amônia também faz dela uma opção atrativa, já que pode ser replicada com facilidade para a produção de amônia verde, em comparação com a construção dispendiosa da nova infraestrutura necessária para hidrogênio liquefeito ou outros derivados de hidrogênio.
BNamericas: O H2LAC 2023 tem um tema ou algum foco em particular?
Salas: Nosso foco é envolver offtakers locais e promover a demanda local por hidrogênio de baixa emissão. Os produtores e desenvolvedores investem muito em suas operações e estão cientes dos desafios que enfrentam, que são semelhantes aos encontrados na Europa. Eles conduziram muito bem os processos de due diligence e estão no mesmo nível dos desenvolvedores da Europa e dos EUA. No entanto, os offtakers têm sido passivos, assumindo que a descarbonização não é problema deles. Essa suposição não está correta.
A descarbonização por meio do hidrogênio de baixa emissão é crucial para diversas indústrias, e é um desafio global que afeta a todos nós como seres humanos. Além disso, os impostos sobre o carbono desempenharão um papel relevante no incentivo à adoção de alternativas verdes em toda a cadeia de valor. Se a indústria local não introduzir alternativas verdes, ela perderá participação no mercado, pois commodities e produtos com cadeias de valor ecológicas estão se tornando cada vez mais importantes para os consumidores.
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