
Angola Cables reestrutura operações no Brasil e expande negócio de datacenters

A Angola Cables, fornecedora atacadista de telecomunicações, datacenters e interconectividade, está expandindo sua infraestrutura no Brasil e diversificando seu portfólio de negócios à medida que as demandas de armazenamento e processamento de dados e o tráfego disparam.
Como parte desse maior foco na América do Sul e no Brasil, em particular, a empresa renomeou suas operações regionais para TelCables Brasil, contratando Claudio Florindo como diretor para o país, com planos de focar também em nuvem, segurança e soluções digitais.
A empresa opera, diretamente ou em consórcio, dois cabos submarinos que conectam a América do Sul: Monet, que liga o Brasil aos EUA, e o South Atlantic Cable System (SACS), que liga o Brasil ao continente africano.
A empresa também possui um anel de fibra ligando São Paulo a Buenos Aires e Santiago, bem como datacenters no Brasil, EUA, Europa e África.
Nesta entrevista, Claudio Florindo e o CEO da Angola Cables, Angelo Gama (na foto), falam sobre este novo momento, os investimentos em expansões de datacenters, o lançamento de novos pontos-de-presença (PoP) e muito mais.
BNamericas: Por que a empresa decidiu mudar a marca e criar uma estrutura separada para a Angola Cables Brasil?
Gama: Estamos sempre a pensar em como podemos melhorar a nossa operação e estarmos mais próximos dos nossos clientes e fornecedores. Estamos presentes, nesse momento, em quatro continentes, seja com estrutura própria ou em parcerias. De Singapura a Los Angeles, dando a volta pelo Atlântico e pelo Pacífico. No mundo todo. E com cerca de 30 pontos-de-presença [PoP] no planeta.
Mas, dado o nosso foco no Brasil, entendemos que seria importante ter uma estrutura mais local, com uma operação que não se reportasse necessariamente à Angola Cables. Um posicionamento global, mas com uma atuação mais local.
BNamericas: Isso também visa reforçar a atuação na América Latina para além do Brasil?
Gama: De certa forma, sim. Com essa nova atuação vamos ter gente em campo para estar mais atentos às oportunidades de negócios.
A nova TelCables Brasil vai estar atenta a todas essas oportunidades que o mercado regional – o Brasil em particular – tem a oferecer. Isso dificilmente seria detectado a partir de Angola.
Florindo: Queremos que a TelCables olhe além da conectividade tradicional, que é algo que ela já faz e não vai deixar de fazer. Mas estamos apostando fortemente em novos serviços e soluções.
Vamos continuar a capacitar e modernizar os nossos clientes, a estrutura para nossos clientes, mas entendemos, inclusive a partir da movimentação desses clientes, que é necessário ir além e por isso estamos apostando mais em serviços cloud, storage, backup, disaster recovery, SD-WAN e cybersecurity. Ter uma abordagem fim a fim para o mercado empresarial.
Vamos continuar a apostar no segmento de ISPs, carriers, OTTs, CDNs e hyperscalers. Não vamos deixar de fazer isso, mas queremos ser agressivos e estarmos mais próximos do setor corporativo, inclusive com a verticalização dos negócios, entrando em novos segmentos. Sem esquecer, naturalmente, do setor público. Temos a presença nos pontos e datacenters que são conhecidos…
BNamericas: … com um PoP no datacenter da Elea Digital em Brasília…
Florindo: ... exatamente. Inclusive para atender o setor público na capital.
Mas existem iniciativas de digitalização nos estados brasileiros que são oportunidades interessantes, também. Como o projeto Piauí Digital. Sentimos que podemos contribuir para projetos como esses, por exemplo no Ceará, onde temos estrutura local.
Nosso objetivo é estar mais próximo do setor público.
BNamericas: A parceria com a Elea Digital é limitada a Brasília? A empresa tem projetos em outros estados, como Porto Alegre e Fortaleza, onde a Angola Cables também está presente com o AngoNap.
Florindo: Por enquanto, sim, somente para Brasília. Mas nada impede que estreitemos esses laços. Nesse ecossistema, ora somos parceiros um do outro, ora clientes, ora fornecedores. Se fizer sentido para a nossa estratégia de entrar em uma nova região...
Mas a escolha de Brasília se deu pelos aspectos de conectividade, das chegadas de novos pares de fibra, da qualidade dos ativos.
BNamericas: E qual é a estratégia de expansão da rede da TelCables no Brasil, em termos de novas regiões?
Gama: Estamos aumentando a capilaridade da nossa rede para outros pontos. Estamos iniciando agora em Brasília, depois Cuiabá. Goiânia também, além de Campo Grande. Estamos olhando para Manaus também.
BNamericas: Com PoPs, certo?
Gama: Isso. Em termos de geoestratégia para o Brasil, se olharmos para boa parte da economia brasileira, do PIB, está na costa. Temos um hub grande em Fortaleza, que já é o segundo principal ponto de interconectividade nacional. O Rio perdeu para Fortaleza devido à proximidade do Rio com São Paulo. Nesse sentido, Rio acaba sendo usado como backup e resiliência para São Paulo. É como se ambas formassem uma grande única zona, São Paulo-Rio.
Será necessário, e aí é um investimento que não é somente nosso, mas de outras empresas também, de descentralização dos dados e da conectividade. As grandes empresas estão investindo muito em regiões como Porto Alegre.
Em suma, vamos criar dentro do Brasil em três grandes hubs tecnológicos. Neste momento, está se desenhando no Brasil um a partir de Porto Alegre. Depois temos este grande hub em São Paulo, que irá quase engolir o Rio de Janeiro ,devido à proximidade. E Fortaleza, mais ao norte, que é onde já estamos.
A partir daí, para o interior, vai depender de como as economias locais vão se desenvolver e o que os governos estaduais vão oferecer em termos de atração de investimento.
BNamericas: Como é esse processo? O que vai primeiro?
Gama: Quase sempre primeiro vai o datacenter, que é secundado por um cabo submarino. Depois, dependendo muito de que são os inquilinos desses datacenters, cria-se um ecossistema regional que vai alavancar toda a economia digital daquela localidade.
Porto Alegre, por exemplo. Já temos o conhecimento de que vão se instalar grandes operadores internacionais. Estamos falando de OTTs, empresas como Microsoft, AWS, Google e afins. Já temos um cabo que passa por Porto Alegre. Mas com certeza mais cabos submarinos vão ser desviados para parar em Porto Alegre porque tem clientes. E assim o ecossistema aumenta.
Depois é uma questão de haver uma parceria muito grande com as instituições e órgãos públicos que promovam a economia digital naquela região. Foi o que ocorreu em Fortaleza. Houve essa simbiose entre a iniciativa privada e o governo local.
O privado vai sempre à frente, primeiro. Neste momento haverá muito mais anúncios para datacenters em Porto Alegre, para estruturas locais. Empresas que estão se instalando em Porto Alegre e têm planos para até o final do ano, próximo ano… fazer da cidade um hub de sua operação, com zonas de disponibilidade e datacenters.
BNamericas: E em termos de investimentos da Angola Cables/TelCables Brasil?
Gama: Quase todos, se não todos os OTTs, são nossos clientes. Em termos de investimentos, vamos investir no nosso datacenter em Fortaleza.
O novo datacenter será no mínimo quatro vezes maior que aquele que temos na cidade, de forma gradual. Um prédio novo, adjacente, que deve estar pronto no final de 2024, projetado para 16 MW, com capacidade para 1.000 racks. Ele começa com 2 MW de energia.
E vamos aumentar a capilaridade da nossa rede, e avaliando oportunidades em novos segmentos. Em cabos submarinos, também estamos avaliando outras oportunidades de negócios no Brasil.
BNamericas: Vocês avaliam cabos proprietários, como o SACS, ou em consórcio com outras empresas, como o Monet?
Gama: Consorciados. A tecnologia evolui de tal maneira, e é tão rápida, que com um único cabo de fibra ótica, com um par de fibra, eu consigo fazer todo o tráfego de dados de EUA à Argentina.
Em consórcios, a governança é mais complexa, envolvendo diferentes empresas, mas é mais viável operacional e economicamente.
Nós não iremos mais investir em cabos sendo os únicos proprietários.
BNamericas: Estão considerando algum novo projeto?
Gama: Estamos avaliando a evolução do mercado. Estamos chegando na era da consolidação. Quando os novos cabos estiverem prontos, o mercado vai ter que consolidar.
Está consolidando agora no mercado de ISPs no Brasil e na região. Vamos ter de 15 a 20 grandes ISPs, os pequenos serão comprados. O mesmo vai acontecer com os cabos submarinos.
Os grandes OTTs, com os seus cabos próprios, deixam pouco espaço para outros cabos submarinos. Vamos ter que ter muito mais cautela para os investimentos que no passado.
BNamericas: Qual é capex previsto para as operações nesse ano?
Gama: O novo datacenter em Fortaleza custará US$ 40 milhões.
Florindo: Vamos adicionar mais seis PoPs nos próximos seis meses, incluindo Brasília. Não são gastos muito altos, no entanto. Em Q3, Q4, devemos chegar a 22 PoPs ativos no Brasil.
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