Appian Capital aposta alto no potencial da mineração brasileira

O fundo de investimento europeu Appian Capital está interessado em desenvolver mais projetos de mineração no Brasil e apoiar a transição energética global.

A empresa está focada em cobre, níquel e lítio, entre outros minerais.

A Appian anunciou recentemente um investimento de R$ 350 milhões (US$ 65 mi) no projeto de grafite Boa Sorte, na Bahia, mas este valor pode chegar a R$ 1,5 bilhão.

Paulo Castellari, CEO da Appian no Brasil, conversa com a BNamericas sobre os planos do projeto de grafite, o interesse em outros segmentos e sua visão sobre o ambiente de negócios na mineração.

BNamericas: O que motivou a Appian a investir na exploração do grafite no Brasil? 

Castellari: A motivação de investir na produção de grafite se deu devido à interseção de alguns fatores.

Primeiro, devido à criticidade do grafite para a transição energética, uma vez que o mineral representa 95% da composição dos ânodos de baterias de veículos elétricos, totalizando 68 quilos de grafite para cada bateria.

Além disso, o Brasil possui aproximadamente 26% das reservas mundiais do mineral e a Graphcoa está localizada em um famoso cinturão de grafite – entre Bahia e Minas Gerais –, considerado líder no segmento de mercado de grafite de alta pureza.

BNamericas: No comunicado oficial, a Appian disse que o valor inicial dos investimentos é de R$ 350 milhões, mas esses valores podem subir para R$ 1.5 bi nos próximos 5 anos. Quais são os fatores determinantes para que a empresa decida aumentar ou não o valor a ser investido?

Castellari: No início de 2025, trabalharemos junto aos nossos clientes para avaliarmos a qualidade do produto processado na planta de demonstração, a fim de definir o potencial da escala de produção da planta para construção do empreendimento em seu porte final.

Portanto, os fatores determinantes para que a empresa decida expandir a planta são discussões com os nossos clientes, entendimento do potencial de mercado, bem como nossa habilidade de explorar novos mercados, inclusive com oportunidades de downstream.

BNamericas: Qual é o portfólio atual da Appian no Brasil?

Castellari: Temos a Mineração Vale Verde – ativo que produz cerca de 20 mil toneladas de concentrado de cobre por ano em Alagoas, a primeira empresa de metais básicos do Estado.

Também contamos com o Atlantic Nickel, ativo que produz cerca de 15 mil toneladas concentrado de níquel por ano no sul da Bahia, uma das maiores minas a céu aberto de níquel sulfetado do mundo.

Já Graphcoa é um projeto em fase de construção que irá produzir grafite, com potencial para ser o maior produtor do minério no Brasil.

Além disso, temos a Omnigen Energy, um ativo que está desenvolvendo plantas de energia solar, com potencial para fornecer energia limpa para os outros ativos do portfólio.

BNamericas: Além dos setores que a empresa já está presente, quais outros segmentos na área de mineração do Brasil que vocês têm interesse em investir?

Castellari: Pelo modelo de negócios da Appian, um fundo de investimento privado especializado em mineração, o grupo está constantemente buscando novas oportunidades de investimentos no Brasil, uma vez que o país possui jurisdição favorável, infraestrutura adequada e reservas de alta qualidade de minerais estratégicos. Além disso, o Grupo Appian possui relevante expertise técnica, reunindo mais de 300 anos de experiência em seu corpo técnico, bem como amplo conhecimento do setor mineral no Brasil.

Com a ambição de investir em minerais essenciais para a transição energética, o plano de expansão da Appian é focado em oportunidades de desenvolvimento de projetos de minerais como cobre, níquel, lítio, cobalto, grafite, manganês, entre outros, em diferentes regiões do País.

BNamericas: Há planos para renovação do portfólio da empresa no curto prazo? Vocês têm planos de vender alguns dos ativos existentes no Brasil? 

Castellari: Como parte do modelo de negócios do Grupo Appian, a empresa está sempre buscando oportunidades de investimentos e desinvestimentos, portanto continua aberta a potenciais investidores.

No entanto, não há previsão para realização de desinvestimentos, de modo que isso será feito no momento ideal para as operações, visando a continuidade dos negócios de forma segura e responsável, prezando pelo nosso compromisso de entregar valor para os nossos investidores.

BNamericas: Qual a sua percepção com relação ao ambiente de negócios atual do setor de mineração no Brasil? Quais são os principais pontos de riscos e quais são as oportunidades?

Castellari: O Brasil está muito bem-posicionado em minerais críticos para a transição energética, possuindo relevante participação nas reservas globais. 

Por exemplo, o País possui mais de 50 ativos com um mineral estratégico como produto primário – cobre, níquel, grafite, lítio e manganês. 

Além disso, conforme dito, também é uma localidade atrativa para investimentos em ativos minerais, dada a estabilidade política e econômica, jurisdição, infraestrutura, logística e mix energético.

Já um desafio que o setor mineral brasileiro ainda enfrenta, é a atração e retenção de talentos, especialmente os mais jovens. Isto acontece, muitas vezes, pelo fato de as pessoas não terem conhecimento das atividades da mineração e do potencial transformador que o setor possui, fazendo com que a indústria não pareça atrativa para elas. 

Acredito que um papel importante que a Appian vem exercendo é de mostrar o real valor da mineração por meio de um processo de comunicação autêntico e transparente, mostrando como o setor pode transformar vidas. Assim, podemos mudar essa realidade, alcançando uma força de trabalho cada vez mais diversificada.