As chaves para o financiamento de projetos de dessalinização multiúso

A comunidade financeira internacional está interessada em apoiar projetos de dessalinização no Chile, onde 85% da capacidade instalada é utilizada na mineração.

Até 2033, espera-se que a indústria de mineração local tenha aumentado a utilização de água do mar nas suas operações em quase 130%. Por esta razão, tem sido chamada a colaborar em iniciativas multiúso que beneficiem também as comunidades e outros setores econômicos.

Sobre este assunto e o papel do setor bancário internacional, a BNamericas conversou com Christian Rudloff, advogado do escritório de advocacia Hunton Andrews Kurth, de Nova York.

Rudloff é especialista em project finance e representou grandes empresas de água e mineração no Chile e outros países da região.

BNamericas: O que os bancos exigem ao decidir sobre o financiamento de um projeto de água dessalinizada multiúso?

Rudloff: Ter a tranquilidade de que os clientes pagarão. Os clientes de mineração geralmente proporcionam tranquilidade, mas o mesmo não acontece com os pequenos clientes.

Por esta razão, os governos devem dar um significado social à estruturação dos projetos, incluindo compromissos de compra de água para distribuí-la socialmente. Por exemplo, poderia ser criada uma associação de agricultores para comprar litros de água e cooperar com pequenos clientes. Isto também garante que os pagamentos sejam feitos corretamente.

BNamericas: Que aspectos uma mineradora que busca financiamento para um projeto de dessalinização multiúso deve considerar?

Rudloff: Ter uma estrutura bem planejada para que os projetos sejam financiáveis, pois, por terem objetivos multipropósito, são firmados vários contratos de fornecimento simultâneos com os interessados. Por outro lado, a empresa que desenvolve o projeto define seus clientes, mas são os clientes que devem desenvolver sua infraestrutura para se abastecerem de água.

Fala-se na ramificação do projeto para transportar água a diversos consumidores. Esta complexidade é um risco para os bancos, uma vez que se somam aos riscos de vários projetos simultâneos. Portanto, são necessários sistemas de incentivos, como os incentivos fiscais utilizados pelos EUA para a indústria de energias renováveis. Também será necessário que o Chile defina quanto e como será pago para construir esses projetos que buscam abastecer as comunidades.

BNamericas: Que obstáculos você identifica no Chile para o desenvolvimento de projetos de dessalinização?

Rudloff: Os investimentos são muito elevados e o banco ou unidade de crédito espera o seu retorno. O governo deve decidir se vai desenvolvê-lo e pagar por ele próprio ou terceirizá-lo por meio de licitação. O licenciamento no Chile tem sido historicamente complexo. Tenho observado grandes projetos mineiros e outros, muito benéficos para a comunidade e para o país, que caíram devido a problemas de processamento.

A comunidade deve estar bem informada para evitar que continue a recorrer aos tribunais para paralisar projetos, uma vez que o litígio não ajuda a concorrência do país.

O Chile tem condições naturais fantásticas para o lítio e o hidrogênio verde, mas os investidores olham para a Austrália e a Argentina ou onde quer que haja estabilidade para investir.

A prioridade deve estar no relacionamento com as comunidades, estabelecendo estruturas em que todas as partes ganhem e onde as comunidades conheçam as oportunidades de desenvolvimento.

BNamericas: Que perspectivas você tem sobre a Lei de Redução da Inflação (IRA) dos EUA em termos de financiamento de projetos relacionados à transição energética para incentivar o comércio de minerais do Chile?

Rudloff: É um programa extremamente agressivo, com muitas regulamentações e discussões ainda em andamento em relação às letras miúdas. Irá gerar muitas oportunidades de negócios a partir dos incentivos que o Estado proporcionará, mas vários termos de regulação do mercado seguem pendentes.