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As chaves para o sucesso no fechamento de minas

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As chaves para o sucesso no fechamento de minas

A fase de fechamento de uma mina deve ser preparada desde o início do planejamento para contribuir para o desenvolvimento de uma indústria comprometida com o cuidado com o meio ambiente e o bem-estar das pessoas.

No Chile, o projeto Pascua, da Barrick Gold, e a fundição de cobre Ventanas, da Codelco, estão em fase de fechamento, enquanto Cerro Colorado, da BHP, está seguindo um programa de fechamento e avalia a oportunidade de estender suas operações.

Para saber mais sobre os segredos para o sucesso nesses processos, a BNamericas conversou com Troy Dunow, diretor e head global de fechamento de minas da consultoria britânica Turner & Townsend, que tem participado do planejamento e da gestão do fechamento de minas pertencentes à produtora de diamantes De Beers e de reuniões com a equipe de ativos legados da BHP, entre outras.

BNamericas: Quais são os principais aspectos de um bom plano de fechamento de mina?

Dunow: Começar a planejar o fechamento da mina antes mesmo de começar a construí-la. Esse plano precisa ser atualizado, mas se você esperar até o fim, não saberá realmente o que tem até chegar lá. Além disso, é importante trabalhar nisso desde o início seguindo os atuais padrões ambientais e sociais, que apresentam mais desafios do que há cinco ou dez anos.

BNamericas: Que tipo de desafios?

Dunow: Agora temos regulamentações mais precisas em torno das comunidades e dos aspectos sociais e ambientais. As mineradoras são obrigadas a fazer mais e implementar mais medidas para o envolvimento dos stakeholders, com mais comunicação com as comunidades para que entendam o que elas realmente querem no final. Assim, quando a mineradora se afastar e devolver o terreno, a comunidade poderá utilizá-lo para o que precisar. Não é mais simplesmente deixar um grande buraco no chão. Nesse sentido, poderemos ter mais inovações.

BNamericas: Em termos de inovação, quais são as maiores preocupações dos mineradores?

Dunow: As maiores tendências envolvem melhorias operacionais e de gestão, bem como um maior envolvimento da comunidade para garantir que elas consigam o que desejam.

BNamericas: Como tem sido o desempenho da mineração latino-americana em termos de fechamento de minas?

Dunow: Pelo que sei, poucas minas foram fechadas na América Latina, mas há algumas em processo de fechamento. De modo geral, ninguém no mundo está indo muito bem nesse aspecto. Já se passaram 10 ou 15 anos desde que as pessoas começaram a levar isso a sério. Então, as coisas estão tentando se atualizar.

BNamericas: Quais são as principais tendências no planejamento do fechamento de minas?

Dunow: Tudo o que tem a ver com a descarbonização, através da eletrificação com energias renováveis. No Canadá, vemos pessoas instalando painéis solares e parques eólicos. Fizemos um trabalho em Washington, nos EUA, em que, para a operação de uma estação de tratamento de água, foi construída uma pequena barragem no rio que alimenta a planta para evitar o uso de fios. Ter seu próprio serviço minimiza o impacto no meio ambiente.

BNamericas: Existe algum exemplo no mundo que você considere um bom plano de fechamento?

Dunow: Existem muitos planos de fechamento bem-sucedidos, e muitos deles ainda estão em andamento ou monitorando atividades para questões de contaminação. O plano para fechar uma mina em Utah, por exemplo, envolve transformá-la em uma área de estudo para que as universidades vejam a melhor forma de fechar a mina. A instalação ainda não foi convertida porque não foi fechada, mas faz parte do plano quando isso acontecer.

Também existem métodos pelos quais a propriedade é disponibilizada às comunidades para recreação, deixando as partes “mais sujas” para áreas industriais, ou estações de tratamento de água que sejam grandes o suficiente para abastecer também as comunidades. A mentalidade agora é como tornar esse local melhor do que antes.

BNamericas: Quais são as diferenças entre um plano de fechamento de uma operação de cobre e de ouro ou lítio?

Dunow: O plano de fechamento está relacionado à contaminação causada pelos materiais utilizados no processo de mineração. Isso muda a maneira como as coisas devem ser gerenciadas. Por exemplo, no caso do ouro, você precisa de um material gerador de ácido e de água ácida, e essas coisas entram nos aquíferos ou nas águas superficiais e podem causar problemas. Mas, em uma mina de diamantes, por exemplo, não há esse problema de poluição. Realmente depende do processo utilizado e do subproduto.

BNamericas: Considerando o aumento da produção mineral para atender às crescentes demandas da transição energética global, os requisitos para o fechamento de minas também aumentarão?

Dunow: A transição exige um esforço conjunto entre a mineradora, a comunidade e o governo, pois há uma grande possibilidade de países maduros tirarem vantagem de países menos maduros, como os da África, onde só se preocupam em conseguir dinheiro. Mas eles não fazem isso de forma responsável, e há uma grande possibilidade de prejudicar o meio ambiente. No entanto, se mantivermos o aspecto ambiental no topo do planejamento e como um fator-chave, seremos capazes de administrar os impactos.

BNamericas: O planejamento do fechamento de uma mina influencia as decisões dos investidores?

Dunow: Acho que isso varia. Há investidores que procuram apenas o retorno do seu investimento, mas outros querem investir com responsabilidade. As pessoas estão começando a observar como outras empresas abordam as questões ambientais para evitar problemas por algo que fizeram há 50 anos. É por isso que vemos interesse em tecnologias avançadas, ESG, etc.

BNamericas: O que você acha das diretrizes de entidades globais de mineração, como o Conselho Internacional de Mineração e Metais (ICMM) ou a Copper Mark?

Dunow: Eles têm a visão correta e contam com consultores independentes na maioria das principais mineradoras e agências governamentais. O ICMM apresentou um padrão [de gestão] de rejeitos, depois do desastre no Brasil, por exemplo.

[Nota do editor: Em 2019, uma barragem de rejeitos da Vale se rompeu na cidade de Brumadinho, liberando uma onda de resíduos e lama que destruiu casas e empresas e deixou cerca de 300 mortos.]

Outras entidades também estão tentando direcionar a indústria de mineração para o caminho certo. Gostaria que os governos buscassem essas acreditações das mineradoras antes de autorizar a realização de um projeto.

BNamericas: Sobre a gestão de rejeitos, quais são as práticas mais relevantes para evitar impactos no meio ambiente? A opção de reaproveitamento de rejeitos para obtenção de outros minerais é uma tendência crescente?

Dunow: É ótimo reutilizar rejeitos para encontrar outros usos, ou qualquer outra coisa para se livrar do risco. Trata-se, também, de monitorar e manter as instalações, não abandoná-las, embora o monitoramento permanente seja muito caro. Esse é um assunto que está sendo muito discutido. No final do ano, haverá uma conferência na Austrália que girará em grande parte em torno da gestão de rejeitos. Há muitas pessoas trabalhando em formas de melhorar esse aspecto.

BNamericas: A tensão geopolítica gerada pelas estratégias de países como Estados Unidos, Canadá, Japão ou Austrália para garantir suas cadeias de abastecimento de minerais para a transição energética global continuará aumentando?

Dunow: As questões geopolíticas continuarão, porque os fabricantes de baterias continuarão tentando garantir abastecimento das mineradoras, e a oferta não cobrirá a demanda. Sabemos que 10 anos é a média entre a identificação de uma mina e o início da construção, mas há prazos ainda mais longos. Isso coloca pressão sobre as mineradoras, para que obtenham o material o mais rápido possível, e sobre os governos e comunidades, para concederem licenças, porque não há tempo suficiente.

BNamericas: O licenciamento é um dos principais riscos da mineração no Chile, assim como em outros países. Como criar um sistema ágil com as prioridades exatas?

Dunow: Em 2019, fizemos uma pesquisa com a SRK e uma das questões era se os governos estão preparados e se têm gente suficiente para conceder licenças. Cerca de 80% dos participantes disseram que o governo não tem pessoal para isso. Para tornar o processo mais rápido, é necessário ter pessoas que entendam de mineração no governo, porque a licença não deve ser apenas o que o governo quer, mas também o que a comunidade quer. Precisa ser um esforço conjunto. Se quisermos que as licenças sejam bem sucedidas e mais rápidas, a pessoa responsável por concedê-las deve ter os conhecimentos adequados, e não ser um simples burocrata que carimba um pedaço de papel.

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