As vantagens da detecção precoce de falhas em correias transportadoras

A fornecedora de tecnologia para mineração Aplik possui um sistema de monitoramento preditivo de falhas em correias transportadoras de minério que pode ser fundamental para garantir a continuidade operacional, conter os custos e contribuir para a descarbonização dos processos.

A BNamericas conversou sobre o assunto com Jaime Bustamante, diretor de desenvolvimento de negócios da empresa chilena, que conta com distribuidores no Peru e na Bolívia, projetos na Argentina, Brasil e Equador e tecnologias patenteadas para monitoramento de pilhas de lixiviação, rastreabilidade de processos de extração eletrolítica, desgaste das correias, entre outros benefícios.

Entre os clientes da companhia estão Codelco, Antofagasta Minerals e BHP.

BNamericas: Em que consiste a tecnologia?

Bustamante: É um sistema patenteado no Chile que detecta qualquer dano ou alteração na superfície da correia transportadora, como cortes ou paradas, pois mede a espessura da correia permanentemente, em tempo real e online, a partir de 1 milímetro. O software também mede as áreas de poluição geradas pelo desgaste, algo muito relevante para as mineradoras.

Com a visão artificial, por meio de câmeras, as informações são captadas. O algoritmo pega essas imagens e as processa em milissegundos. Isso alerta antecipadamente as áreas de operações e manutenção sobre quaisquer alterações superficiais na correia, para que as equipes possam tomar decisões oportunas e garantir a continuidade operacional.

Uma troca de correia por conta de um evento catastrófico não detectado pode gerar custos em torno de US$ 800.000 e atrasar a operação em média entre 15 e 20 horas.

BNamericas: Como as informações são apresentadas?

Bustamante: Ele conta com dois subsistemas: um que detecta se há corte na correia e outro que mede o desgaste e capta qualquer tipo de alteração, seja por dano ou necessidade de reparo.

As informações disponíveis em um dashboard, ou painel de controle abrangente, que atua como um semáforo, permitem que a empresa analise o comportamento das emendas, o desgaste da superfície da correia e o nível de danos e implemente as medidas necessárias.

BNamericas: Quais mineradoras no Chile estão adotando o software?

Bustamante: No final de maio, será lançado um sistema na Divisão Andina da Codelco e outro entrarão em operação na Minera Centinela, da Antofagasta Minerals. Já tivemos histórias de sucesso na Spence, da BHP.

Na BHP, começamos há cinco anos, permitindo que a companhia investigasse e detectasse interrupções e aumentasse a vida útil do ativo. Também realizamos projetos-piloto para subprodutos de cobre e mineração de ouro e recebemos interesse do setor de lítio. O sistema é aplicável a todos os tipos de correias transportadoras.

BNamericas: Como as informações relacionadas às correias são protegidas?

Bustamante: As informações são do cliente através do nosso software e algoritmo. Antes de iniciar um projeto, definimos com a empresa os critérios de cibersegurança, as proteções e as políticas de ação contra um ataque cibernético. Mantemos a confidencialidade e a conformidade com esses padrões.

BNamericas: Quais atributos fazem parte do modelo de negócios da Aplik?

Bustamante: Primeiro, analisamos com o cliente se os desgastes ou cortes são realmente uma ameaça à operação. Em geral, realizamos um teste de demonstração por um curto período para coletar informações e fazer nossa promessa de valor, considerando aspectos de capex e opex.

BNamericas: Como está a concorrência no mercado para esse tipo de solução?  

Bustamante: Há tendências no segmento de mineração 4.0, mas a nossa solução é patenteada, o que nos garante uma vantagem, mas também o grande desafio de corresponder às expectativas dos clientes.

BNamericas: Quais são os benefícios dessa tecnologia em relação à pegada de carbono ou de água?

Bustamante: Quando há danos na correia ou é preciso realizar uma troca por conta de danos catastróficos, há custos. Para cada tonelada de borracha reciclada ou evitada, o impacto equivale a 3,5 t de CO₂ e pelo menos 5 m³ de água.

Se houver um corte em uma correia de tamanho médio, que utiliza 20 t de borracha, o material geralmente vai para locais de coleta muitas vezes improvisados. As 20 t de borracha representam 1.215 m³ de água em termos de redução da pegada hídrica, o mesmo que fornecer água para 98.000 pessoas.

Além disso, essas 20 t de borracha equivalem a 73 t de CO₂, o que corresponde a retirar 1.960 veículos da frota. Por isso é muito importante aumentar a vida útil das correias.

BNamericas: As mineradoras chilenas estão interessadas em investir nesse tipo de tecnologia?

Bustamante: Temos um atraso, mas várias empresas estão desenvolvendo projetos-piloto para analisar a possibilidade de incluir tecnologias disruptivas, essenciais para melhorar a produção e cuidar do bem mais importante, que são as pessoas.

Temos que recuperar o atraso nos investimentos, adaptar modelos de negócios e seguir de mãos dadas com tecnologias avançadas, como automação, gêmeos digitais, inteligência operacional e monitoramento sem fio.

BNamericas: Quais são os principais desafios tecnológicos da mineração?

Bustamante: Há um desafio constante em termos de automação, robótica, modelagem profissional de mecânica e metalurgia eletrônica, entre outros. Há uma grande necessidade de se fazer uma mineração mais inteligente.