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Atividade de project finance no Brasil deve crescer no segundo semestre

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Atividade de project finance no Brasil deve crescer no segundo semestre

O Itaú BBA, braço de investimento do Itaú Unibanco, maior banco do Brasil, viu sua linha de negócios de project finance passar por uma grande expansão nos primeiros meses do ano.

No primeiro trimestre, a área de project finance esteve envolvida em operações que totalizaram R$ 27,5 bilhões (US$ 5 bilhões), em comparação com os R$ 17,5 bilhões registrados no mesmo período de 2023.

Marcelo Girão, head de project finance do banco, conversou com a BNamericas sobre as operações realizadas até agora no ano e as perspectivas para o segundo semestre.

BNamericas: Quais foram os principais destaques da área de project finance do banco nos primeiros meses do ano?

Girão: Tivemos um primeiro trimestre bem melhor este ano do que no mesmo período do ano passado.

Vale dizer que no primeiro trimestre de 2023 existiram dois eventos que afetaram o desempenho do mercado de capitais como um todo, que foram os problemas de crédito ligados às Lojas Americanas e à Light. Por causa disso, só tivemos uma atividade mais normalizada durante nove dos doze meses do ano passado.

Esse ano já estamos vendo os primeiros meses com um volume forte de operações de financiamento para diferentes áreas de infraestrutura.

Parte da explicação para o bom momento é que tivemos, no Brasil, uma restrição regulatória às emissões de títulos da dívida como CRIs e CRAs, que são títulos que oferecem isenções fiscais [para investidores]. Devido a essa restrição, houve uma migração de operações para as chamadas debêntures de infraestrutura, que também têm isenção fiscal.

Essa migração levou para as debêntures de infraestrutura um valor aproximado de R$ 40 bilhões. Por causa disso, os emissores tiveram a oportunidade de lançar suas operações sem spread ou com spreads muito baixos.

Paralelamente, outro elemento que está fomentando a atividade é que o BNDES tem demonstrado grande apetite para financiar novos projetos e, com isso, temos visto a conclusão de várias operações.

BNamericas: Quais operações e segmentos você destacaria?

Girão: No primeiro semestre, vimos a conclusão de grandes captações das [empresas de saneamento] Iguá Saneamento e Aegea.

Além disso, tivemos a conclusão bem-sucedida do leilão de transmissão de energia, e os vencedores deste leilão devem começar a acessar soluções de financiamento ao longo de 2025 e 2026. Também tivemos progresso nos leilões de rodovias e no processo de privatização da Sabesp, que está em andamento, assim como os contratos de saneamento que serão oferecidos no segundo semestre no Piauí e em Sergipe.

BNamericas: Qual a projeção para o segundo semestre?

Girão: Historicamente, o segundo semestre é mais forte para as operações de project finance do que o primeiro. Se não tivermos nenhum evento inesperado, isso deve se confirmar.

O pipeline de concessão de rodovias é muito grande. Acho difícil que realmente tenhamos todos os leilões que o governo planejou para este ano, mas veremos pelo menos mais dois ou três leilões de rodovias.

Nota do editor: o governo planejou 13 leilões de concessões rodoviárias para 2024.

Além disso, teremos a conclusão da operação de financiamento de mais de R$ 10 bilhões para o contrato da Nova Dutra pela CCR. Essa operação já foi anunciada e envolve tanto um empréstimo direto do BNDES quanto a emissão de debêntures, que será em grande parte integralizada pelo BNDES.

Teremos também um leilão de reserva de energia no segundo semestre.

No segmento das energias renováveis, não estamos vendo projetos eólicos greenfield, mas os projetos de energia solar estão ficando mais competitivos.

BNamericas: Quais são as expectativas para a área de tecnologia?

Girão: Na parte de tecnologia, a infraestrutura digital continua forte, com demanda crescente por projetos de datacenter.

Há uma fronteira de crescimento nesse segmento, principalmente se considerarmos que no Chile e nos Estados Unidos há um número muito maior de datacenters por habitante do que no Brasil, mostrando potencial de expansão aqui.

Também é importante dizer que a inteligência artificial vai gerar muita demanda por datacenters.

Há um fator interessante surgindo também nesse segmento, que são os projetos de datacenter que estão sendo pensados para o Nordeste do Brasil. A região conta com uma grande oferta de energia renovável, e esses datacenters poderão, no futuro, atender à demanda de dados dos EUA e da América do Norte em geral, que está começando a ter restrições aos datacenters por causa de questões energéticas.

Outro setor que cabe mencionar é o do hidrogênio verde, cuja regulamentação no Brasil começa a avançar e se mostra um segmento promissor no médio prazo.

BNamericas: Quais são as expectativas para o segmento de mobilidade urbana?

Girão: É um setor que olhamos com atenção. Tivemos o leilão do Trem Intercidades em São Paulo, que é um investimento vultuoso. Também temos no pipeline uma grande oferta de projetos de linhas de metrô, assim como outros projetos de trens intermunicipais no estado de São Paulo. Acredito que alguns desses projetos levarão um tempo para sair do papel.

BNamericas: Os eventos climáticos extremos e os possíveis impactos nos setores que o banco financia já estão no seu radar?

Girão: É difícil quantificar os impactos desses eventos, seja para o empreendedor, para o financiador do projeto ou mesmo para a seguradora.

Na prática, no mundo do financiamento de projetos, tais eventos estão mais associados à área de seguros.

O que eu diria é que agora estamos olhando com mais atenção o que o seguro de cada contrato cobre ou não. Felizmente, os projetos em que trabalhamos aqui foram pouco afetados por esses eventos até agora.

BNamericas: Em termos de regulação dos setores mais importantes da área de project finance, quais assuntos avançaram este ano e quais ainda aguardam uma definição?

Girão: Tivemos avanços no decreto do governo referente à renovação dos contratos das distribuidoras de energia.

De forma geral, veio em linha com o esperado, embora dois pontos tenham incomodado os players. Um é o não expurgo dos eventos climáticos extremos [nos contratos] e o outro é a restrição ao pagamento de dividendos caso os indicadores de qualidade não sejam cumpridos.

Mas, fora esses pontos que geraram críticas, estava em linha com o que o mercado esperava e foi uma boa notícia.

Outro tema que está avançando é a regulamentação das debêntures de infraestrutura, mas, nesse caso, ainda há necessidade de que cada ministério informe como se dará a regulação do uso desses recursos de debêntures nos setores específicos.

Dois outros temas ligados à regulação, e que afetam a modelagem dos projetos, ainda estão pendentes. Um é saber como a reforma tributária aprovada impactará os diferentes setores da infraestrutura. Outro aspecto, também ligado aos impostos, é entender a potencial tributação dos dividendos. Essas indefinições impactam a modelagem de projetos de longo prazo.

Sobre o marco regulatório do saneamento, a ANA está trabalhando em algumas melhorias.

O marco do setor elétrico é robusto, mas é verdade que o nível de interferência tem aumentado, por parte do Legislativo e do Judiciário.

BNamericas: Qual a sua visão de longo prazo para a área de infraestrutura no Brasil?

Girão: O Brasil tem um pipeline grande de projetos e muitos mecanismos de financiamento através do mercado de dívida.

O que me preocupa um pouco é a atual disponibilidade do mercado de capitais, uma vez que não estamos tendo ofertas de ações por causa do nível elevado das taxas de juros.

Precisamos ter uma atividade aquecida nesse mercado para termos empresas cada vez mais sólidas e novos participantes com balanços sólidos. Caso contrário, veremos a repetição de leilões [de concessão] com baixa competição.

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