Aurys mergulha na transformação digital da mineração

Embora as empresas chilenas tenham registado avanços em transformação digital, a formulação de estratégias eficazes e a criação de uma cultura organizacional adequada continuam sendo tarefas pendentes.

O índice de transformação digital elaborado pela Câmara de Comércio de Santiago, a agência estatal Corfo e a consultoria PMG determinou que a digitalização entre as empresas chilenas cresceu, em termos gerais, nos últimos cinco anos, embora apenas quatro em cada dez companhias tenham planos formais nesse assunto.

As empresas de mineração estão se digitalizando principalmente para otimizar suas operações, reduzir o impacto ambiental, enfrentar o aumento dos custos e satisfazer as expectativas dos trabalhadores.

Para saber mais sobre essas tendências, a BNamericas conversou com Vanessa Ramos, líder de estratégias de transformação digital da consultoria Aurys.

BNamericas: Qual deve ser o foco da transformação digital nas estratégias de mineração?

Ramos: A mineração sempre busca aumentar a produção e a segurança e ser mais sustentável. Nesse sentido, deve se concentrar na melhor forma de utilizar a tecnologia para enfrentar esses desafios, incluindo a circularidade, a transferência de frotas de transporte para combustíveis verdes e a melhoria na gestão dos recursos hídricos, não só para reduzir os impactos, mas também para que sejam melhores vizinhos e garantam a operação em longo prazo.

Tecnologia, automação, mudanças nas frotas, novos equipamentos e infraestrutura exigem investimentos. Por isso, devem ser estratégias acordadas e apoiadas pelo ecossistema, inclusive pelos provedores, para que a interconectividade necessária seja permitida, medições confiáveis sejam feitas e todos os novos dados sejam utilizados de maneira eficaz. Isso requer uma mudança na cultura organizacional.

BNamericas: Quais são os principais eixos de uma boa estratégia digital?

Ramos: A primeira coisa é declarar a tecnologia como prioridade na estratégia. Para isso, a organização deve ter uma cultura aberta à adoção de tecnologias, o que pode ser alcançado com práticas de upskilling [ensinar novas competências aos trabalhadores para otimizar seu desempenho] e reskilling [treinar um funcionário para adaptá-lo a um cargo específico], a fim de inovar e facilitar mudanças.

Também é necessário que o ecossistema apoie a transformação. Ou seja, que trabalhadores e fornecedores atuem de forma consensual e estejam dispostos a caminhar para a interoperabilidade, que exige o compartilhamento de dados sob a mesma estrutura.

O mundo caminha para uma maior sensorização e informação em tempo real, mas sem as tecnologias e uma atualização adequada de todas as camadas da estrutura tecnológica da empresa, a interconectividade na mina, ou na atividade de exploração, não será alcançada. Não é apenas mudar o modo, mas todo o processo, e buscar sempre a melhoria contínua para alcançar, por exemplo, um aumento de produtividade.

BNamericas: O que os clientes de mineração da Aurys estão solicitando?

Ramos: Mais da metade do portfólio da Aurys está relacionado à mineração. Assessoramos os clientes em seus planos de transformação digital, apoiamos a gestão técnica na seleção de tecnologias que melhoram a produtividade, revisamos a maturidade digital das empresas, compreendendo a formação do seu ecossistema, a estratégia, a estrutura tecnológica, o modelo operacional, a cultura organizacional, seu nível de ambição, etc.

Também estamos ajudando a criar plataformas integradas de reportabilidade, uma vez que, na mineração, é frequente que os dados e as informações sejam distribuídos em vários sistemas diferentes. Então, os sistemas integrados de reportabilidade dão aos profissionais de mineração a oportunidade de utilizar todos os dados, evitando perda de tempo na coleta e posterior consolidação das informações.

Com uma boa estrutura de governança de dados, é possível criar modelos preditivos e tomar decisões de modo eficaz.

BNamericas: Como estabelecer uma boa plataforma integrada de reportabilidade?

Ramos: A primeira coisa é definir os seus objetivos na estratégia e determinar se esta irá responder à gestão técnica, aos planos de sustentabilidade, ou se será transversal à empresa. Em seguida, são definidos os usuários, com o estabelecimento de uma diferenciação, pois cada usuário possui necessidades, temporalidades, expectativas e formas de trabalhar diferentes. Na etapa de projeto da estrutura, utilizamos muito o conceito de imersão com o usuário.

Depois, é importante que a navegação seja intuitiva para evitar que o processo de compreensão demore mais do que a utilização dos dados. A visualização também deve ser atrativa, pois os usuários estão cada vez mais sofisticados e têm maior expectativa com a experiência digital. Afinal, o sucesso desta plataforma é medido pela quantidade de usuários que a utilizaram para tomar decisões.

BNamericas: Existe um contexto político e legislativo no Chile que incentive a transformação digital das indústrias extrativas?

Ramos: O ecossistema geral está evoluindo junto com o aumento das expectativas das pessoas em relação à transformação digital. Precisamos atrair novos talentos, promover atividades mais sustentáveis e exigir mais segurança, tanto física como de proteção de dados.

Várias empresas de mineração já foram hackeadas. A Freeport, por exemplo, foi hackeada no ano passado. Há casos de mineradores que tiveram de interromper as operações por esse motivo. Portanto, a legislação deve incluir esta matéria.

O Chile tem leis sobre descarbonização, uso da água e privacidade, e a lei de crimes econômicos tem um componente de responsabilidade na gestão de dados. Além disso, foi o primeiro país a promulgar uma lei que protege os dados neurais das pessoas, porque existem dispositivos que se conectam à cabeça e podem converter pensamentos em dados, os quais poderiam ser utilizados por empresas privadas.

Não é difícil pensar que daqui a 15 anos poderemos conduzir caminhões de mineração com estes dispositivos, e várias mineradoras já incorporam a biometria nas suas operações de transporte.

Portanto, as leis deveriam proteger mais os sistemas de segurança e de inteligência artificial, assim como os EUA e a União Europeia estão tentando regulamentar. É algo que também está sendo discutido no Chile.