
Autoridade Portuária de Santos ‘já está pronta para privatização’

O governo brasileiro está trabalhando para oferecer concessões para diversos ativos de infraestrutura nos próximos meses e um dos mais aguardados é o porto de Santos, o mais movimentado da América Latina.
Como parte de um modelo complexo, o porto de Santos deve ser leiloado no quarto trimestre deste ano e o contrato de 35 anos deve gerar investimentos de cerca de R$ 16 bilhões (US$ 3,23 bilhões).
O modelo de concessão também envolve a privatização da Autoridade Portuária de Santos (SPA), operadora estatal do porto.
Marcus Mingoni, CFO da SPA, conversou com a BNamericas sobre as perspectivas da empresa para este ano e as expectativas para o leilão.
BNamericas: Quais são as expectativas da SPA para lucros e receitas em 2022?
Mingoni: Esperamos novos recordes de lucro, receita e volume de movimentação de cargas em 2022.
A infraestrutura portuária está em boas condições e 2022 já começou forte. Nossa projeção de lucro para este ano é de 500 milhões de reais [US$ 102 milhões]. Com isso, será o terceiro ano consecutivo de lucro recorde.
BNamericas: Quais são os principais impulsionadores das expectativas otimistas para os resultados deste ano?
Mingoni: Em termos de receita, esperamos ser beneficiados por um aumento na safra agrícola deste ano, após o segundo semestre de 2021, quando houve redução nas safras de milho e açúcar.
Estamos trabalhando também na melhoria da gestão e eficiência, além de algumas renovações contratuais para uso dos portos. Isso beneficiará nossas receitas.
Não temos nenhuma revisão tarifária desde 2018, mas em abril deste ano teremos uma revisão [as tarifas aplicadas aos terminais aumentarão 13%], que será positiva para nossa receita.
Temos uma estratégia de controle de custos com essa expectativa de aumento de receita, que este ano provavelmente será um aumento de cerca de 20% em relação a 2021.
BNamericas: Quando você acredita que teremos uma situação mais próxima do normal em relação às cadeias logísticas globais e como o atual cenário desafiador da logística global impacta a atividade portuária no Brasil?
Mingoni: Os desequilíbrios nas cadeias de suprimentos começaram por causa dos efeitos da pandemia e é difícil fazer previsões sobre quando a situação melhorará. A situação logística é desafiadora.
Mas olhando para nossa operação em Santos, tivemos anos recordes durante a pandemia.
Como um todo, vimos que o setor portuário apresentou uma resiliência muito forte. O agronegócio no Brasil continua sendo um elemento muito forte para o segmento, além de termos uma pauta diversificada de exportações e importações.
Outra notícia positiva também foi o fato de que os operadores de nossos terminais também investiram em produtividade.
Essa conjunção de fatores nos ajudou a navegar bem por esses tempos desafiadores. Mas, como mencionei, a questão da guerra [da Ucrânia] está causando desequilíbrios nas cadeias logísticas e precisaremos de mais tempo para ver a logística global se tornar mais equilibrada.
BNamericas: Qual é a situação atual do SPA em um ano em que a empresa passará por um processo de privatização?
Mingoni: O SPA está agora pronto para a privatização. Estamos com a saúde financeira muito robusta. Temos um índice de liquidez financeira muito forte na empresa. Somos uma empresa praticamente sem passivos com bancos.
Além disso, temos uma empresa de tamanho adequado. Quando a atual gestão da empresa assumiu, eram 1.400 funcionários, hoje temos 900 funcionários e um plano de demissões voluntárias em andamento que provavelmente resultará em novas reduções de funcionários.
Do ponto de vista de balanço financeiro, das práticas contábeis, a empresa está pronta para a privatização.
BNamericas: Qual é o perfil do investidor que está de olho na concessão?
Mingoni: Temos visto muito interesse, Santos é a joia da coroa da cadeia logística nacional e é o maior porto da América Latina.
Antes de Santos, teremos o leilão de concessão da Codesa e isso será um ensaio para o que vai acontecer com Santos.
Já tivemos alguns roadshows realizados pelo governo com potenciais investidores e vimos que Santos despertou o interesse de muitos participantes, tanto investidores locais quanto internacionais.
Dentre esses interessados estão fundos de investimento, fundos de pensão, operadores logísticos e até autoridades portuárias de outros países. É provável que no leilão do porto de Santos tenhamos a participação de consórcios e não de empresas isoladas.
BNamericas: Como você vê as operações do Porto de Santos no futuro?
Mingoni: Hoje, cerca de 60% da receita do porto vem de tarifas e 40% de arrendamentos, que são aluguéis de terminais. A expectativa é que essa receita de arrendamento cresça, pois a área do porto aumentou.
BNamericas: Como a atual pressão inflacionária ao redor do mundo afeta a atividade portuária no Brasil?
Mingoni: Há dois aspectos a serem avaliados. A primeira é que nossa atividade está diretamente ligada aos custos logísticos das empresas. A beleza do modelo de concessão que o governo quer implementar está justamente nesse detalhe. O modelo de concessão não visa aumentar as tarifas, mas sim favorecer as reduções tarifárias, sem descuidar dos investimentos.
Agora, por outro lado, a pressão inflacionária ao redor do mundo, iniciada durante a pandemia e agora agravada pela guerra, tem impactos em todas as operações das empresas. Este é um desafio, onde cada empresa terá que aprender a fazer mais com menos.
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