Cada vez mais perto? Energias renováveis podem atrair a China para o Brasil
Embora o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva não tenha feito da China um grande assunto durante sua campanha eleitoral, parece provável que as relações entre as duas nações se tornem mais próximas do que sob Jair Bolsonaro.
Quando Lula chefiou o governo de 2003 a 2007, o país se envolveu significativamente mais com a economia asiática, e a China se tornou o maior parceiro comercial do Brasil em 2009.
As relações esfriaram um pouco depois de alguma retórica contrária à China de Bolsonaro, antes de sua eleição em 2018 e uma visita a Taiwan, mas as realidades econômicas dos vínculos do Brasil com a China se mostraram muito difíceis de resistir. Agora que Lula voltou ao comando, parece provável que os países se aproximem politicamente.
Isso ocorre em um momento em que a China está se tornando mais sensível às preocupações com as mudanças climáticas e o Brasil também busca impulsionar sua agenda ambiental.
Diante desse cenário, espera-se que a China veja no Brasil um cenário onde possa fazer investimentos significativos em energias renováveis.
A BNamericas conversa com Tulio Cariello, diretor de pesquisa do importante Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), para saber mais sobre o que o relacionamento entre Brasil e China pode trazer nos próximos anos.
BNamericas: A mudança de governo no Brasil representa uma mudança na relação Brasil-China?
Cariello: Minha resposta deve ser dividida em duas partes: a área econômica e a área política.
Na área econômica, onde estamos falando de comércio entre os países e investimentos, vejo mais do mesmo, pois apesar da narrativa contra a China por parte de certos aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, na prática, a relação econômica entre os países não sofreu qualquer interrupção nos últimos quatro anos.
Houve muita especulação e até temores durante os anos do governo Bolsonaro de que a relação com a China iria se deteriorar, mas na prática, o que vimos foi um aumento no fluxo comercial e mais investimentos acontecendo.
Em termos de política, sim, há mudanças.
BNamericas: Que tipo de mudanças?
Cariello: Houve um distanciamento político entre a China e o Brasil nos últimos anos que, provavelmente, começará a ser revertido agora.
É importante notar que o distanciamento político do Brasil em relação à China seguiu uma política externa brasileira muito retraída nos últimos anos.
No passado, o Brasil havia conquistado espaço significativo nos fóruns de debate global, em fóruns multilaterais, mas nos últimos quatro anos a participação do Brasil no debate global diminuiu muito.
Com Lula, vejo o governo brasileiro mais comprometido em reconstruir pontes no cenário internacional, inclusive estreitando as relações políticas com a China.
Esse maior alinhamento político pode ter reflexos na questão dos investimentos no médio prazo, já que a China está priorizando em sua agenda os aspectos relacionados às medidas de combate às mudanças climáticas e o Brasil é um país com muito potencial nessa área.
BNamericas: Como esses aspectos tendem a impactar os investimentos chineses no Brasil?
Cariello: Historicamente, a China tem sido um grande investidor no Brasil no setor de energia elétrica por meio de grandes empresas como a CTG Brasil, que é a unidade local da Three Gorges Corporation, e também por meio da State Grid, além de ser um grande investidor no setor petrolífero.
A partir de agora, diante de uma agenda mais ligada a aspectos de sustentabilidade em que o governo e as empresas chinesas estão engajados, eles se interessarão mais por investimentos relacionados a energias renováveis.
Mas não é só a energia renovável que lhes interessa. A China também tem interesse em investir no Brasil nas áreas de tecnologia da informação e infraestrutura logística.
No geral, o Brasil continuará a ser o principal país da região em termos de atração de investimentos chineses.
BNamericas: Os investimentos chineses no Brasil geralmente são feitos por meio de investimentos diretos em projetos ou em empresas estabelecidas?
Cariello: As empresas chinesas gostam de entrar no Brasil comprando empresas locais, em vez de assumir projetos diretamente. Isso acontece porque acabam incorporando equipes já formadas, pessoas que já conhecem os aspectos regulatórios, detalhes setoriais.
Isso está acontecendo na área de TIC, por exemplo, com empresas chinesas comprando empresas brasileiras e esse modelo deve ser replicado também na área de infraestrutura.
Mas um aspecto muito sensível para as empresas chinesas, considerado quando estão avaliando ativos, é entender o quanto aquele ativo que está sendo comprado agrega valor aos esforços de sustentabilidade que a China geralmente está engajada hoje.
BNamericas: Com um presidente no Brasil mais alinhado politicamente com a China, isso aumentará as chances de haver um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a China?
Cariello: O debate sobre um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a China ainda está em um estágio muito inicial.
O Mercosul, como bloco, ainda tem muitos problemas internos para resolver, por isso não vejo um acordo avançando no curto prazo.
Além disso, o livre comércio com a China impactaria muitos setores industriais no Brasil e no Mercosul que não seriam capazes de competir com a China. Tal acordo seria muito mais benéfico para a China no momento, então não vejo muitas chances de progresso.
BNamericas: Falando em comércio, é provável que haja mudanças nos tipos de produtos comercializados entre o Brasil e a China?
Cariello: Quase tudo o que a China importa para o Brasil são produtos industrializados e semimanufaturados e eles estão satisfeitos com isso.
O Brasil vende commodities para a China, que é onde o Brasil é mais competitivo. Não vejo mudança nesse perfil de comércio entre os dois países.
BNamericas: O desempenho da economia chinesa afeta todo o desempenho global, dado o tamanho de sua economia. O que podemos esperar da economia chinesa neste ano e no próximo?
Cariello: O PIB chinês cresceu 3% em 2022, bem abaixo da meta do governo de 5,5%, o que não é muito comum.
Mas olhando para a frente, já é possível dizer que a China não vai mais crescer a taxas de dois dígitos ou próximas disso, como era comum no passado recente. O que explica isso é haver uma combinação de ventos contrários, como a crise do mercado imobiliário lá, os conflitos comerciais que aumentaram entre a China e os EUA e a continuação e efeitos associados da guerra russa na Ucrânia.
Este ano a China está muito focada na questão da saúde pública em relação à pandemia.
O governo de lá vai trabalhar para evitar uma grande crise sanitária, com o fim da chamada política de Covid zero, principalmente para evitar o caos sanitário em cidades pequenas, que não têm tanta estrutura hospitalar. Este ano certamente será um ano difícil para a economia chinesa por conta disso.
Olhando mais para o médio prazo, o governo chinês se mostra mais empenhado em buscar um crescimento econômico de maior qualidade, sem necessariamente atingir as vertiginosas taxas de crescimento de dois dígitos do passado.
Essa nova visão do governo chinês, com melhor qualidade no crescimento, envolve uma política mais voltada para investimentos em tecnologia e também mais conectada a preocupações com questões relacionadas à sustentabilidade.
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