Câmara de construção boliviana tem planos para superar estagnação econômica do país
A economia da Bolívia vem atravessando um período de incerteza devido aos conflitos entre o presidente Luis Arce e o ex-presidente Evo Morales, aos bloqueios de rodovias em departamentos como Cochabamba e aos aumentos de preços que afetam o consumo geral e as obras públicas.
Entidades internacionais interessadas em projetos-chave para a recuperação poderiam ajudar a aliviar essa situação.
A BNamericas conversou com Javier Arze, gerente-geral da câmara de construção do departamento de Santa Cruz (Cadecocruz), sobre riscos políticos e perspectivas para 2025.
BNamericas: Como a comunidade empresarial percebe o conflito entre o presidente Arce e o ex-presidente Morales?
Arze: Os conflitos sociais e políticos geram um clima de incerteza e muita cautela em relação ao início de novos projetos ou empreendimentos.
Em alguns casos, os empresários optam por adiar temporariamente novos projetos privados, à espera de um aumento da estabilidade e da reativação real da economia. Soma-se a isto o fato de não existirem novos projetos de infraestrutura com investimento público, além da presença de dívidas acumuladas com as construtoras por obras que estão sendo pagas conforme o andamento.
BNamericas: Quais projetos devem avançar, apesar do contexto difícil?
Arze: Após a entrada em vigor do Decreto Supremo nº 5.216, que autoriza entidades territoriais autônomas e empresas públicas nacionais estratégicas a outorgar obras públicas sob concessão, as obras de interconexão rodoviária da Rota Metropolitana 3, Laguna Marfil-San Ignacio e Roboré-Ito 7 Paraguay ganharam importância.
Quanto às atribuições da agência rodoviária ABC, é importante levar em consideração a rodovia San Ignacio-San Matías.
Esses trechos são essenciais para promover a indústria agropecuária, o agronegócio, as exportações, o comércio, os serviços e o turismo. Só assim será possível consolidar os corredores bioceânicos que impulsionarão o desenvolvimento integral do departamento e do país.
BNamericas: Como você espera que o setor termine o ano de 2024?
Arze: Estima-se que este ano a indústria de construção cresça entre 1,3% e 1,7%. Vale lembrar, no entanto, que seria uma das taxas de crescimento mais baixas das últimas décadas.
BNamericas: Quais são suas expectativas para 2025?
Arze: A economia em geral desacelerou nos últimos anos. A maioria das entidades internacionais reduziu as expectativas de crescimento para o país. Por outro lado, as estatísticas do Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram aumento dos índices de inflação nos últimos meses.
No caso do setor de construção, a escassez de dólares e de diesel – além dos bloqueios em rodovias – tem causado um aumento em espiral nos preços de materiais, insumos, equipamentos, máquinas e mão de obra.
Neste cenário, a Cadecocruz propõe o reajuste de preços nas obras públicas e o reconhecimento da falta de diesel e dos bloqueios como as causas dos atrasos nos cronogramas de execução.
Atualmente, essas questões estão sendo debatidas em grupos de trabalho com autoridades do governo federal. É fundamental estabelecer acordos para evitar atrasos nos cronogramas e até mesmo a suspensão ou rescisão de contratos.
BNamericas: Qual é sua expectativa para os próximos processos eleitorais?
Arze: Teremos dois processos eleitorais consecutivos: em agosto de 2025 serão realizadas as eleições nacionais e em 2026 as eleições departamentais e municipais.
É inevitável que o clima pré-eleitoral influencie a estabilidade geral do país, mas espera-se que os candidatos apresentem propostas que incluam obras de infraestrutura que tenham impacto positivo para a economia, a geração de empregos, entre outros fatores.
Na Cadecocruz – e em coordenação com organizações como o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o Pacto Global e embaixadas de países como Grã-Bretanha e Suécia –, assumimos a liderança no posicionamento da infraestrutura e do financiamento sustentáveis como meios viáveis e eficazes para superar a crise atual.
Isso seria possível através da captação de recursos verdes que estão disponíveis no exterior. Representantes do PNUD na Bolívia nos informaram que o país pode ter acesso a até US$ 5 bilhões para obras de infraestrutura e projetos sustentáveis.
BNamericas: Que outras ações a Cadecocruz realizará para promover a recuperação do setor? Como vocês apoiam as empresas?
Arze: A situação geral é de desaceleração econômica. Na entidade, temos trabalhado para:
- Conseguir o reconhecimento dos aumentos de preços na construção por meio de regulamentações que autorizem o reajuste.
- Garantir que os diferentes níveis estatais – nacional, departamental e municipal – efetuem os pagamentos das obras em andamento em dia, para que não pressionem a liquidez das empresas.
- Obter dólares para importar insumos e materiais que não são produzidos na Bolívia e, assim, garantir a continuidade das obras.
Em paralelo, temos trabalhado em medidas para garantir a estabilidade jurídica e econômica dos projetos, a priorização de obras de infraestrutura, incentivos à promoção da construção sustentável e estabilidade nos preços dos combustíveis.
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